Capítulo 9

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1 semana depois... 

Mais uma semana passou e vou dizer uma coisa: Eu parecia uma zumbi. 

Quando eu não estava na boca, estava cuidando de Bebeto, não durmo bem fazem dias. 

Lennon? Só converso por mensagem. 

Ou ele fala comigo quando estou fazendo alguma função. 

Ele estava meio sumido da comunidade, vivia no asfalto e isso era estranho, fora que até hoje não sei o que queria falar comigo naquela noite, quer dizer, até agora. 

Hoje o Didi me deu uma folguinha da boca e por isso pela tarde estava livre, então mandei mensagem pra Lennon, pedi pra ele me encontrar na praça. 

Tinha tomado um banho, estava cheirosinha e o esperava. Sem nada. Digo, sem arma e essas coisas do cotidiano. 

Eu me sentia tão livre sem aquelas coisas, era libertador andar sem nada. 

Enquanto pensava em algumas coisas, vi um gatinho caminhando em minha direção. 

-Boa tarde, Lili. -Ele sorriu enquanto sentava na minha frente. -Seu cabelo está bonito, hein? 

-Fala, gato. -Sorri. -Obrigada, fiz hidratação. Eu mereço, né?

-Claro. -Ele também sorriu. O famoso sorriso que abala estruturas. 

-Você está meio sumido, qual foi do sumiço? 

-Então, tem a ver com a nossa conversa. -Ele ficou sério. -Nem vou enrolar pra tu. Lívia, eu vou pra Barcelona. 

-Oi? 

Pela minha feição, era nítido minha confusão. Como assim ele vai embora?!

-Pera ai, Lennon, me explica isso direto. -Pedi rindo de nervoso. 

-Então, sabe o lance do skate? Deu certo, um pessoal me encontrou, tenho gravado em alguns lugares e semana que vem estou indo para Barcelona participar de um evento. 

Sua resposta me pegou de surpresa. 

No fundo estava feliz,  ele ama skate e isso vai fazer super bem, queria eu estar indo viver meu sonho. 

Mas a tristeza me dominou. Eu não o veria todo dia, não falaria com ele todo dia, não sorriria com as piadas dele, com as cantadas. Lennon ia embora. 

-Não chora, linda. -Ele falou me puxando para um abraço. 

Nem eu notei que lágrimas rolavam pelo meu rosto, hoje estava sensível. 

-Como não chorar? Você vai embora! -Solucei. 

-Mas eu vou voltar. -Ele me encarou. -Vou voltar pra te buscar. 

Abri a boca pra falar mas nada saiu. 

Sua fala me acertou em cheio, me balançou. 

Eu sabia que podia ser só da boca pra fora, mas só pelo fato de ter me apaixonado por Lennon, qualquer coisa que ele fala, me atinge fortemente. 

-Não brinca comigo, garoto. -Falei secando meus olhos. 

-Não estou, cê sabe que gosto de você, eu quero te tirar daqui, te levar pra viajar, curtir. -Ele falava. -Isso aqui não é vida pra você...

-Eu sei...

-Vai dar tudo certo. -Ele me abraçou novamente. 

Ficamos um tempo ali e só nos separamos quando ouvimos fogos. 

Não é possível que a polícia está subindo de novo. 

Apesar que, eles sabem que o Bebeto está ruim, só não sabem onde está localizado, por isso eles vêm subindo com mais frequência, pra caçar droga. 

-O que vai fazer? -Lennon  me questionou, mas antes de tomar alguma atitude, vi o carro da polícia aparecendo.

-Nada, continua aqui. 

Meu coração batia como uma bateria de escola de samba, mas precisava ficar calma. 

Não estava armada e com nada que pudesse me incriminar, mas se fugisse, eles desconfiariam. 

Eu olhava o movimento e percebi que a mesma policial que bateu de frente comigo estava na operação. 

Ela me encarou e veio em minha direção, tremi. 

O que ela está fazendo? 

-Boa tarde. -Ela falou educadamente. 

-Boa tarde. -Respondemos. 

-Você de novo... -A policial me encarou. 

-Mas eu estou aqui  tranquila, com meu namorado. -Sorri nervosa. 

A loira encarou Lennon, que me encarava meio confuso, e logo o questionou. 

-Você é o namorado dela? Que estava com ela na última semana? 

Travei, e se Lennon falasse algo que poderia confundir? 

-Claro, essa é minha bebê. -Ele sorriu pegando em minha mão. -Namoramos faz pouco tempo, sabe? 

-Entendi. -Ela me encarou novamente. -Vou deixar vocês em paz, não tem nada o que quero,  tenham uma boa tarde. 

Acenamos pra ela, que se virou e foi fazer seu serviço. 

Soltei o ar que nem sabia que tinha prendido e encarei Lennon, que me olhava sem entender. 

-O que foi isso? 

-Também não sei. -Respondi passando a mão no meu cabelo. 

Eu realmente não entendi o motivo dela ter vindo falar comigo, será que ela tinha me marcado mesmo? 

Depois de um bom tempo, a polícia foi embora e eu tinha que ir na casa de Bebeto trocar seu curativo. 

Me despedi de Lennon e caminhei calmamente até a casa do chefe, cumprimentei os vapores e entrei. 

Tudo estava bem calmo, o que era até normal por aqui, Bebeto ainda não havia acordado, por isso só eu, Didi e alguns vapores transitavam por aqui. 

-Boa tarde, Bebeto. -Falei com ele enquanto pegava as coisas do curativo. Por mais que ele estivesse "dormindo", é sempre bom falar com um paciente, eles escutam tudo e ajuda muito na recuperação.  -Vamos trocar esse curativo? 

Como se ele tivesse me respondendo, comecei o procedimento e reparei em algumas coisas. 

A cicatrização estava ocorrendo de forma positiva, os pontos já estavam secos e pelo laudo da médica que o visitava, logo ele voltava com tudo. 

-Esses pontos estão ótimos. -Comentei passando o algodão pelos pontos. -Logo vamos tirar. 

Estava tudo lindo, curativo feito, até que minha atenção voltou para a entrada do quarto. 

Didi tinha entrado com tudo. 

-Faz menos barulho. -Murmurei guardando as coisas. 

-Menos barulho nada. -Ele pegou meu braço com força. -Que merda é essa que tu tá de papo com policia? Tá mandada? 

-Como? -Falei confusa. 

-Me falaram que tu tava de papo com a polícia, tu por acaso é x9? -Ele me apertou ainda mais. Esse gosta de me apertar. 

Minha garganta estava seca e eu estava nervosa, mas antes de abrir a boca, ouvi a voz de Bebeto. 

-Solta ela, Didi. -Sua voz saiu baixa. -Lívia, que história é essa? 


Da Boca 『L7NNON』Where stories live. Discover now