t e r r a

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E então eu me apaixonei.

Foi amor à primeira vista? Não, certamente que não, eu o vi algumas vezes até que eu o notasse, não é como se ele não se destacasse, pelo contrário, seu brilho emanava de dentro e iluminava até a rua mais escura.

Na época, eu tinha lá meus 18 anos e estava completamente perdida, eu procurava desesperadamente por respostas, ia até a biblioteca na busca incessante por uma paixão, por algo que me desse um motivo, uma razão, algo que me fizesse brilhar os olhos, um caminho, um mapa, uma bússola que me indicasse a direção e naquele brilho eu me encontrei.

Eu estava naquela biblioteca de sempre e o vi passar, já era a vigésima vez, não é como se eu quisesse me atrair por ele, mas ele mesmo me atraia pra si.

Naquele dia, diferente de todos os outros, ele olhou, olhou para dentro da biblioteca e encontrou meus olhos curiosos. Seu sorriso fez meu coração disparar, um nó prendeu minha garganta e quase me sufocou.

Venha até mim.

Mentalizei, mas ele não veio. Ele desviou o olhar e continuou andando pela rua, mãos nos bolsos, cabeça baixa, como sempre.

Mais duas semanas vieram e ele continuava passando pela biblioteca, e apesar de eu ter encontrado o "caminho", o caminho me deixava também desesperada. Pra onde esse caminho me levaria? Ele iria cruzar o meu? Quando? Por onde aqueles passos o levavam?

Decidi que iria segui-lo. Iria?

No dia seguinte, eu estava pronta, havia planejado cada detalhe.

Eu não me aproximaria, só o observaria de longe, descobriria seus segredos, descobriria para onde ia todos os dias, era isso que eu queria, esse era meu desejo mais desesperado, era minha razão.

Eu estava pronta.

Mas naquele dia ele não apareceu, nem no outro, nem no seguinte. E eu comecei a refletir sobre o meu plano. Se ele tivesse aparecido, em quem eu teria me tornado?

Eu estava desesperada, longe de mim, isso é fato, mas... eu me afastaria ainda mais de mim indo por este caminho, eu estaria tomando um atalho perigoso, não era por ali que eu deveria caminhar.

Ainda que eu tivesse organizado meus pensamentos, a ausência dele me fazia vazia, e essa angustia crescia em mim como veneno.

Passei a ir à biblioteca apenas por uma razão, eu o esperava. Os horários de sempre não coincidiam, ele continuava não passar e então decidi alterar meus horários também.

Eu ia de manhã, tarde e à noite. Cheguei à passar dezessete horas, sentada naquele mesmo acento perto da janela. Passei a perder aulas, almoços em família, cheguei até a brigar com a bibliotecária, ela não queria deixar a biblioteca aberta até às 22h em um domingo, absurdo.

Aquele lugar era o único que me ligava a ele e eu queria estar ali, cada dia mais, eu queria poder vê-lo, eu não sabia nem seu nome, mas era ele, tinha que ser.

Certa vez, enquanto vagava pelos corredores da grande biblioteca, eu o vi através das prateleiras. Eu já havia ensaiado esse momento das formas mais diversas que você pode imaginar.

Eu correria a seu encontro com um sorriso? Pularia em seus braços e diria que senti saudade?

Passaria por ele sem dizer uma palavra? Passaria por ele apenas para poder sentir a presença dele e seu cheiro... ah seu cheiro, até isso eu pude imaginar, lavanda, ou smeraldo, sim, ele deveria ter cheiro de smeraldo.

Mas, na realidade, eu acabei por fazer aquilo que cheguei a imaginar, mas temia e afastei das opções como se isso nunca fosse possível existir. Eu paralisei.

A quintessência de SeokjinWhere stories live. Discover now