Prelúdio

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#RosaCereja

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#RosaCereja

🎶 Cherry Bomb - The Runaways 🎶

"Uma juventude eterna e imaculada, repleta de rebeldia; isto era o que nos definia."

No calor efusivo da costa litorânea na cidade de Saint'Anna - no verão de 1989 - reinava o caos da conflituosa inimizade entre dois grupos rivais.

De um lado, tinha-se os motoqueiros, com o soar alto de suas motos e fumaça saindo de seus escapamentos. Desfilavam pela cidade com suas descoladas jaquetas de couro, luvas pretas e alguns com topetes no topo da cabeça que, ninguém sabia como, não eram desmanchados nem mesmo pelos capacetes dos jovens barulhentos. Ocupavamos a costa leste a maior parte do tempo - lugar que apelidamos carinhosamente de Terra de Santana - já que era onde se localizam as nossas oficinas. O odor da graxa se misturava à essência refrescante dos cigarros de sabores variados, com o elemento adicional típico de cidades litorâneas: o cheiro salino advindo do mar. O retumbar das motos pelas ruas santianas era sempre alto e escandaloso, como se para avisar à quem estivesse passando por ali, sempre agitando a calmaria trivial que não se tem em uma grande metrópole. Lembro-me da balbúrdia corriqueira nas ruas, quando passávamos frente a viaturas com policiais calaceiros que sequer faziam questão de nos seguir, sabiam que a trupe infame não pararia para ouvir seus sermões tediosos.

Do outro lado, se tinha os surfistas bandoleiros, aqueles que passavam a maior parte de seu tempo na Orla de Santa Ana, andando pra lá e pra cá com suas pranchas. Vagavam por aí de forma desleixada, com chinelos nos pés e um sorriso maroto. Além disso, a pele dourada era uma característica marcante, resultado do bronzeado natural tomado na areia quente. Suas horas eram majoritariamente gastas na costa oeste, onde as ondas ganhavam mais intensidade. Havia ali suas lojas para pranchas de surf e sabe se lá o que mais faziam naquele lado da cidade. Corriam para praia ao ínfimo sinal de uma onda maneira; se deslocavam pela urbe com suas bicicletas, patins e skates, sempre portando na boca um pirulito doce, a menos que estivessem surfando. O cheiro característico de maresia parecia se impregnar com mais voracidade na derme dourada, visto que passavam o dia inteiro na praia de areia escaldante.

A premissa de tamanha rivalidade se fez presente muitas décadas atrás, quando nossa geração, banhada em sonhos lúdicos, sequer havia nascido. Uma lenda contada de motoqueiro para motoqueiro - e de surfista para surfista - mantinha a desconfiança iminente entre todos. Talvez fossemos tolos de acreditar em historinhas antigas, mas a tradição se mantia. Somando uma richa centenária à temperamentos completamente opostos, quando em conflito, o que se tem como resultado são discussões acaloradas.

Dois grupos tão distintos, que tal como Polo Norte e Polo Sul - ou falando de modo literal, extremo Leste e Oeste - deveriam se manter distantes, sem qualquer resquício de possibilidade de se encontrarem. Caso acontecesse, deveria se correr para longe, sem pestanejar, pois assim que se encontrassem, o caos estaria instalado. Então, era contraditório dizer que éramos todos mais parecidos do que se podia imaginar.

Rock Veraneio | jjk+pjmWhere stories live. Discover now