01. A música diz que um amigo está de volta

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#RosaCereja

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🎶 Girls Just Want To Have Fun - Cyndi Lauper 🎶

"Saint'Anna é o lugar dos verões mágicos e sonhos eternos, mas guarda histórias antigas sobre corações partidos."

Saint'Anna, Rodoviária

09:20 A.M.

Era o verão de 1989 e eu me encontrava de volta — depois de um ano — na cidade praiana de Saint'Anna. A época veraneia da cidade pitoresca era conhecida por se mostrar eterna, a juventude santiana vivia de devaneios nas outras estações do ano, esperando — de forma ansiosa — o dia em que o sol queimaria as areias brancas do litoral. O calor efusivo não era um incomodo, na verdade, era um adereço, usado como pretexto para se deliciar com as ondas do mar frio e sagaz.

O ruído alto, feito pelas motos da minha trupe, ainda me acalentava em sonhos distantes; uma saudade longínqua se alastrava pelo meu corpo, em toda e qualquer ocasião que me lembrava de Saint'Ana. O vento suave da brisa marítima em minha face sempre fora refrescante, o cheiro salino se alastrava por todas as casas que cobriam a faixa ao redor do litoral. Resguardado em memórias estava o gosto doce do típico milkshake de morango do Mamma's. A mulher italiana - nossa eterna mamma - sempre fazia questão de preparar nossas bebidas açucaradas.

Um ano longe fora tempo o suficiente para sentir uma saudade colossal; a grande costa de Malibu, jamais se compararia à minha cidade natal. Sem bandas de rock ou motos na pista, o ano que se passou havia sido mais tedioso que densas aulas trigonométricas. Isso somado a tentativa de ser uma persona polida e sofisticada não poderia ter me feito sentir mais descrença por toda àquela situação de desaire.

Meu pai era um homem rigoroso, buscava me colocar na linha ao me levar para sua nova família no estado da Califórnia; a escolha era minha, porém fui pego em uma armadilha proporcionada por mim mesmo, visto que estava frágil emocionalmente em virtude de uma desilusão amorosa. Meu progenitor poderia se esconder por baixo de pretextos de pensar sobre o meu futuro, visando unicamente minha felicidade. Hipócrita, isso que ele era, mentia o tempo todo sobre meu bem querer quando, na verdade, só queria um filho de plástico que pudesse controlar, objetivando apenas apresentar seu primogênito querido à alta sociedade. Já por trás das cortinas, se direcionava a mim apenas para criticar meus cabelos longos e os piercings que eu mantinha, me obrigando a sempre estar com roupas de mangas compridas, na companhia de seus amigos, para que não vissem minhas tatuagens. Eu fazia questão de mostrá-las e jogar o cabelo para trás, deixando o brilho na jóia do piercing da sobrancelha amostra, só para irrita-lo.

No começo não fora assim, fui buscando, fielmente, me tornar um filho digno, uma pessoa descente; ao pesar de um coração partido, me vi cansado de ser associado a problemas juvenis. Tentei uma faceta falsa, livre de brigas e palavras grossas, me fiz o filho perfeito: fui a todos os seus bailes beneficentes e me comportei, cumprimentei seus amigos preconceituosos e sorri em falsa simpatia com suas piadas machistas. Me fiz o perfeito cavalheiro para todas as garotas que se aproximavam, com seus perfumes caros e sorrisos maliciosos; encantavam-se com a minha aparência levemente rebelde e então, sempre tentavam me arrastar para um canto e roubar beijos quentes durante céleres momentos; sempre era isso que queriam de mim. Mas minha natureza hostil e nada volátil se fez presente antes mesmo que pudesse imaginar. Ele me privou de tudo, de idas a praia, passeios de moto e telefonemas aos meus amigos residentes da cidade do verão. Este último, se mostrou um empurrão perspicaz direto para a beira do penhasco, eu estava à um fio. Quando por fim, me tirou a música - meu bem mais precioso - eu não pude mais aguentar.

Rock Veraneio | jjk+pjmWhere stories live. Discover now