A vingança nunca é plena mesmo?

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"Ah, então vem comigo..." Ela pegou minha bolsa para guardar em um lugar seguro da casa enquanto ele me carregava pra uma área externa da casa. E que área! Uma piscina no meio, uma churrasqueira cheia de carnes, frangos, pães e as linguicinhas prontas. Já tinha umas 15 pessoas na casa, alguns calouros e a maioria veteranos.

"Galera, alguém não arrecadou dinheiro suficiente. Sabe o que acontece quando calouro não faz o que os veteranos mandam?" Eu parecia um bichinho acuado. Se arrependimento matasse, estava sendo cremada agora mesmo, colocada em uma jarra e posteriormente ser libertada nas águas das praias mais próximas. Já pararam pra pensar que enquanto você toma banho na praia, linda e esbelta de biquini, com os cabelos esvoaçantes pra conseguir chamar a atenção daquele surfista gato, você fica imersa num misto de pipi e pessoas que passaram desta para uma melhor? Depois ninguém sabe porque prefiro estar branca.

Mas porque eu estava pensando nisso nesse momento? Sou a próxima da fila da cadeira elétrica e eu pensando em praia... Tá, façam isso de uma vez, por favor, mas digam a minha família que eu amo muito eles. Ah, diz pra Sofia que o iPod é dela, mas com a condição de nunca, jamais, tirar o cd do Araketu de lá. A nova geração precisa ter acesso a esse tipo de música boa e feliz que aquece o coração dos nascidos antes de 95.

O menino me sentou na cadeira e segundos depois senti algo que parecia um balão com tinta estourar na minha cabeça. Tinta amarela. Poderia ser pior... Poderia ser verde e eles me botarem de adorno, tipo aquelas crianças americanas em festa de escola. Não foi a toa que Cuba ficou tanto tempo de mal com os Estados Unidos. Pobres criancinhas que tiveram que se fantasiar de árvore e pedra nas peças do colégio. Isso é bullying. E bom, a festa acabou aqui pra mim né? Não vou ficar com o cabelo cheio de tinta o dia inteiro, pagando esse mico e dando oportunidade de ser taxada de pintinho e que comecem a cantar a música do Gugu. Me levantei e o menino me fez continuar sentada.

"Calma, falta a cobertura do bolo..." Disse ele sorrindo. Pronto, era só o que me faltava... Foi aí que eu percebi que haviam muitos confetes de carnaval colorindo meu cabelo, meu rosto e minha roupa com a tinta amarela. Foi um belo dia pra ter ficado em casa vendo os filmes da Disney com a minha irmã. Mas como soy rebelde e não sigo os demais, adivinha quem saiu de casa? Tinha tinta por todos os lados, até mesmo no meu chinelo, seja lá como isso foi possível, e então voltei a me levantar e dessa vez me deixaram sair de lá. Entrei na casa procurando a veterana bonita x-9 pra pegar minha bolsa e ir embora quando escorreguei. Já tava vendo estrelinhas com dor na coluna quando senti alguém me segurar pelas costas. Olhei para trás e estremeci. Era ela.

"Descul... Vem cá, porque você fez isso comigo? Não precisava ter me poupado do trote no primeiro dia, então" resolvi desafiá-la. Não tinha nada a perder mesmo. No mínimo ela veria que está errada, vai me pedir desculpas e me canonizar. No máximo vai me expulsar de casa, chamar a polícia e claro... se eu não virar churrasquinho de veterano.

"Porque mentiu pra mim? Ou você achou que eu não iria descobrir, mmm, como é mesmo seu nome? Camila?" Ela disse ironicamente. Eu fiquei olhando pra ela tentando recapitular todo o tempo em que passei "com ela" essa semana, e não há sentido no que ela tá falando. Entrei num curso de loucos?

"Sim, é Camila"

"Certeza? Nós temos a relação com o nome de todos os calouros e... Como você pode ver na lista, não há nenhuma Camila" ela me mostrava a lista enquanto eu estava tonta e querendo rir ao mesmo tempo. Me diz, quem em sã consciência iria se passar por calouro só pra ser humilhado em praça pública pedindo dinheiro no sinal com o rosto sujo escrito "BIXO", isso se você tiver sorte de ser menina, porque senão eles colocam "BIXA" mesmo.

"Eu não acredito que foi por isso! Meu nome é Karla Camila. É... meu pai queria Karla, minha mãe queria Camila e antes que você pergunte se sou parente da Princesa Isabel ou o grau de loucura dos meus pais, nós não somos brasileiros e nos países da América Latina é comum ter dois nomes que não combinam. Agora você pode me dizer onde está a minha bolsa?" A veterana ficou dividindo seu olhar atônito entre a lista com os nomes e eu.

SerendipityWhere stories live. Discover now