Isso aconteceu?

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Saí correndo da faculdade, roxa de vergonha. Correndo, modo de dizer, né? Porque é só eu me apressar um pouquinho que me lembro de ter tropeçado na escada e que sou propensa a desastres dessa magnitude. Pena que hoje ainda é terça-feira e sem feriados em vista. Eu precisava de uma festa pra esquecer o que aconteceu, mas vamos começar a colocar aquelas metas em prática. A primeira delas: ser mais positiva.

Acredito que a Lauren tenha achado aquele negócio de fazer amor a coisa mais normal do mundo. Ela tem o que? Uns dois anos a mais do que eu. Deve saber que depois de tanto tempo eu tô parecendo a mulher aranha subindo pela parede. É muito normal. Só que sem a chuva forte pra derrubar.

Tá, nova vida, nova Camila. Bem que eu poderia começar deixando de ser TÃO tímida, fingindo que o que a Lauren falou foi quase igual a "Camila, teu cadarço está desamarrado". Por que não, né? Na semana que vem não nos lembraremos mais disso e serão águas passadas do que nada do que foi será. E acabou o assunto.

Mas verdade seja dita, me arrepiei inteira quando ela me segurou pela cintura e falou aquilo no meu ouvido. Espero que ela não tenha notado. Obrigada, Deus, pelo meu cabelo enorme que esconde os cabelinhos arrepiados da nuca. Quando o ar que saia de sua boca, entrou em contato com a minha orelha, me segurei. Ela é uma doutora, deveria tomar mais cuidado comigo. Chacoalhei minha cabeça de um lado para o outro e se a Lauren não sair daqui de dentro eu vou chacoalhar e bater cabelo até levantar vôo.

Hoje me dei conta de que a gente vê o que queremos ver. Não, sem raio laser pra ver a Lauren pelada mesmo estando de roupa. Nem o Google fez isso ainda. Se não fez, não existe e não é possível. Mas quando a Lauren me envolveu rapidamente pela cintura, me fez lembrar a Batgirl. Ela fez bem parecido. Já pensou se a Batgirl é ela? Camila, volta pra Terra e saia de Gothan City.

Já pensou que delicia ela tirando a capa pra mim?

CAMILAAAAAA! Para. Respirei fundo.

Cheguei em casa me sentindo renovada. Acho que ter sido mandada à força para uma psicóloga foi a melhor coisa que poderiam ter feito por mim. É engraçado porque depois de um tempo a gente acaba percebendo que o problema pode ter chegado à tona agora, mas muitos deles nós carregamos de muito antes. O meu problema maior foi o falecimento repentino da Hailee e agora eu vejo que depois disso tanta coisa se acumulou que não conseguia mais seguir em frente pelo tamanho da carga que sentia. E parece que está chegando a hora de deixar a nova Camila se mostrar ao mundo.

Quem me vê falando desse jeito, deve achar que eu virei uma Drag Queen e que meu nome de guerra é Lizbeth Paolla Smith, mas que não teria problema em me chamar de Pao Smith. Não, claro que não. E também não vou trocar de sexo.

O que eu estou querendo dizer é que eu não vou mais ter medo de ser feliz e demonstrar minha felicidade. É, #FreeCamila. E quem quiser falar de mim, que fale. O importante é ser feliz e está na hora de voltar a viver pra mim. Dizem que não se deve atribuir o que ficou de ruim no passado ao novo, então não há o que temer. Não vou sair por aí catando namorados porque esse tipo e coisa deve ser natural e não qualquer um. Imagina encontrar uma pessoa e logo namorar, sem saber nem se o signo combina? Aí não, né?

Amor é o tipo de coisa que a gente não procura, simplesmente esbarra contigo, e quando nos dermos conta, já estamos nos levantando juntos, um pegando o tijolinho e o outro botando o cimento pra construir seu castelo. É lindo quando isso acontece. Um gosta, o outro também e então eles unem forças e resolvem construir um futuro juntos. Ai ai, a Liga da Justiça...

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Ai gente, vamos combinar que menstruação não é um tema muito agradável, mas só falando dela pra vocês entenderem o que eu sinto. Acordei naquela quinta-feira fazendo cosplay da Lana del Rey, querendo estar morta. Tá, sem drama, mas já estou sentindo os efeitos do que em poucos dias fará parte da minha semana.

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