Porquê...

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Logo assim que ele se foi, eu senti uma vontade enorme de chorar, mas me controlei. A Luísa me ajudou a levantar do chão e disse.

"Obrigada por me defender" - E em seguida me deu um abraço, tão sincero que eu nem acreditei. Por meses eu quis senti-la em meus braços, ela nunca tinha me abraçado daquele jeito. E nessa hora eu não consegui mais segurar o choro.

Depois de alguns minutos abraçados, entramos na casa da Marina onde ambas começaram a cuidar dos cortes no meu rosto.

"Temos que limpar logo para não infeccionar" - Disse a Marina, já fazendo um sinal para que a mãe dela pegasse o kit de primeiros socorros.

Enquanto elas estavam providenciando o kit, eu me sentei no sofá junto com a Luísa.

"Eu queria te pedir desculpas Luísa. Eu sei que eu fui um pela saco, um completo sem noção. Não deveria ter dito aquelas coisas naquele dia lá no hospital e..."

"Hey" - Ela me interrompeu, colocando uma de suas mãos sobre a minha - "Não precisa se desculpar. Na verdade quem tem que te pedir desculpas sou eu. Nesse últimos meses eu pensei bem, refleti sobre todas as minhas atitudes e percebi que eu fui muito filha da puta com você..." - As palavras iam saindo da boca dela e eu não conseguia acreditar que isso estava realmente acontecendo. A Luísa estava se desculpando comigo " Você sempre foi tão gentil comigo, sempre tão atencioso e eu sempre ríspida e ignorante contigo. Tá certo que eu não queria ficar com você e nem te via do jeito que você me vê, mas isso não era desculpa para ter sido tão babaca com você. Então espero que você me desculpe Bruno"

Eu ainda estava meio incrédulo.

Nunca, nem mesmo em os meus sonhos mais delirantes eu poderia imaginar que um dia esta cena estaria acontecendo.

A mulher que despertou esse meu lado que até então eu desconhecia.

A mulher que desprezou por meses tudo o que eu sentia por ela, que me fez encontrar uma nova vocação porque o jeito que ela me deixava me levou a pintar, que me fez chorar feito uma criança quando eu a vi com outro cara.

Sim senhoras e senhores, esta mesma mulher estava agora bem na minha frente, se desculpando por tudo de ruim.

Apesar da minha cabeça está parecendo o centro da bolsa de valores, com milhões de pensamentos pipocando para lá e para cá, eu não sabia o que dizer, eu estava sem palavras.

"E então cara, você me perdoa?"

"Cara" - Eu detesto ser uma pessoa emocionada, porque meus olhos já estão cheios de lágrima novamente - "Claro que te perdoo...." - Nós nos abraçamos e eu comecei a chorar e senti que ela também.

Ficamos ali abraçados por mais algum momento, e pela primeira vez ela me abraçou de verdade, realmente querendo ser abraçada por mim.

Nossa tarde foi resumida a conversas profundas sobre nossa relação turbulenta, abraços e choros. Elas terminaram de fazer os curativos no meu rosto, depois disso comemos um pedaço do bolo de chocolate que a mãe da Marina havia preparado e com isso o dia foi passando.

"Gente, desculpa por todo este transtorno que eu causei, mas quero dizer que apesar de tudo isso eu adorei o dia de hoje. E Marina..." - Disse a Luísa, com os olhos um pouco marejados - "Me desculpa... Eu fui tola e..."

"Hey, não precisa se desculpar" - A Marina deu um abraço bem carinho na Luísa - "Eu não sinto raiva por ele ter tido um relacionamento com outra pessoa naquela época, mas sim por ter mentido para mim depois e..." Ela deu uma olhada para a barriga da Luísa e depois de volta para os olhos dela " Da forma que ele terminou com você, ali no corredor do hospital. Eu lamento que ele tenha te tratado deste jeito, você não merecia"

As duas deram as Mãos.

Que bonitinho essa cena gente, sério. Me dá até vontade de chorar de tão emocionante que está sendo ver isso tudo.

No fim, eu e Luísa nos despedimos da Marina e fizemos promessas de nos encontrar novamente. Mas no fundo algo me dizia que aquela seria a última vez que nós três iríamos estar juntos.

"Acompanha ela até em casa Bruno" - A Marina pediu.

"Não precisa gente, é sério" - A Luísa até tentou contestar, mas não tinha muito o que fazer, pois assim que o táxi dela chegou eu entrei junto com ela.

A viagem toda ela ficou em silêncio, olhando para a janela do lado dela. Eu sentia que ela estava reflexiva sobre tudo o que havia acontecido.

Quando chegamos na casa dela, eu pedi para o motorista esperar mais alguns minutinhos. Algo dentro de mim estava me falando para acompanhar ela até o portão.

"Não precisava me trazer até aqui, eu estou bem"

"Eu ainda me preocupo com você Luísa"

"Que fofo, você ainda tem sentimentos por mim"

Ela era definitivamente uma Luísa completamente diferente daquela que eu conheci. Ela estava mais "light"

"Eu me importo sim com você, posso não estar mais apaixonado ou me sentindo do jeito que me sentia antes, mas eu ainda sinto um carinho imenso por você. Apesar de tudo o que aconteceu, eu quero estar ao seu lado... Como um amigo"

Ela começou a chorar e então a abracei.

Eu não sei por quanto tempo ficamos ali, mas foi o suficiente para entender o que eu sentia por ela.

Eu gosto dela. Mas Por que?

Porque eu gosto da presença dela, da personalidade forte dela e ao mesmo jeito que ela aparenta ser essa casca grossa por fora, ela é sensível por dentro. Ela é divertida e super interessante.

Entretanto, eu sou uma pessoa muito emocionada e me impressionei com toda essa presença que ela tem, pois me lembro de cada detalhe da primeira vez em que a vi. Mas eu apenas confundi os sentimentos, e fui me deixando levar por eles até que eles se misturaram com minhas inseguranças e... Bom.

Eu percebi que eu gosto muito dela, mas não do jeito que eu pensava e perceber isso tudo me deixa em paz comigo mesmo, pois agora sinto que estou pronto para ter uma relação de verdade com ela.

Pelo menos isso tudo me fez perceber que eu me sinto atraído por meninas também.

Eu dei um beijo na testa dela.

"Se cuida Luísa. Qualquer coisa é só me ligar"

"Muito obrigada, Bruno. Por tudo que tem feito"

Eu a deixei, peguei o táxi e fui embora para a minha casa. A viagem inteira eu fiquei refletindo sobre o dia de hoje, pensei no Noé, na Marina e principalmente na Luísa e em como toda aquela situação me fez entender muitos questionamentos internos que eu vivia enfrentando e quando eu cheguei em casa eu fiz a única coisa que me ajudou e continua me ajudando bastante a externar tudo aquilo que eu sentia.

Eu peguei uma tela em branco e pintei.


Unexpected GirlWhere stories live. Discover now