QUEM VAI ME CONDENAR POR ISSO?

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— Quer desistir?

— Claro que não, Snow — ele ri contra o meu corpo.

— Só checando — Simon me acomoda em suas mãos e sacode as asas como um pássaro. — Pronto? — sim.

— Sim.

— No três, então — me aperto só mais um pouquinho ao redor dos ombros dele. — Um. Dois. Três.

Não é como nos filmes. Ou nos clipes de músicas.

Há solavancos e instabilidade e vento (em todas as direções) e barulho. E Simon precisa me apertar com força nas costelas. Graças a Morgana prendi meus cabelos.

Apesar de tudo, ele parece divino. Meus olhos estão fixos em seu perfil, na mandíbula desenhada, nas sardas da sua bochecha — tem três pintas ali, eu saberia apontar as posições delas de olhos fechados —, nos cachos cor de caramelo que ondulam com o ar.

— Tudo bem? — ele me olha.

— Sim — é tudo que sou capaz de proferir. Como ele pode ser tão lindo?

— Posso ir mais alto?

— Pode — é, me leve até as estrelas, Snow. Eu iria até o inferno com você.

— Me avisa se quiser descer.

— Ok. Pode descer se eu estiver muito pesado.

— Não está.

Ele sobe. Eu finalmente consigo tirar minhas pupilas dele; olho para baixo, para o gramado a metros de distância agora. Há cabras espalhadas, algumas voando de um morrinho a outro. Elas vão ficando menores conforme subimos, assim como as árvores.

— Baz? Continua segurando, ok?

— Lógico que- SIMON! — eu grito. E espremo seu pescoço, grudando o rosto na curva do seu ombro. Snow gira, fazendo tudo sair do eixo. Quando ele para, eu afrouxo o aperto, mas não afasto meu rosto. — Pelo amor das cobras! Você podia avisar! — ele ri. Fico tentado a morder seu pescoço em forma de protesto (morder, não morder).

— Vou subir mais, pode ser?

— Sim — voar acaba com meu vocabulário. Snow nos leva um tanto mais alto e para novamente, batendo as asas de modo que quase não varia sua posição.

— Ei. Olha pra cá, lindo — enfim torno a erguer a cabeça. Ele está me observando com aquelas irises azuis. Por Circe, essa cena seria insuportável de ver se o sol estivesse brilhando em sua pele dourada, em seus cabelos... — Olha ali — ele indica a direção com o queixo.

— Uau.

Watford é linda de cima. Daqui se pode ver perfeitamente a Casa do Mímico, o quarto em que moramos. E o topo dos outros prédios. A Torre Chorona parece ainda mais torta olhando desse ângulo.

A Floresta Inconstante, o gramado extenso, até mesmo a água do fosso, é tudo mais... poético, visto assim, ainda que as nuvens estejam extremamente escuras.

É mágico. Depois de tudo, Simon Snow ainda tem truques capazes de me deslumbrar.

— Posso descer? — nossos narizes quase se esbarram quando me viro para ele. Deixo um segundo passar, deixo o meu cérebro registrar só mais um pouquinho do que meus olhos enxergam, então o beijo.

Seus lábios estão secos e os meus também. Ótimo. Um pretexto para usar a língua. Mal concluo o pensamento e a dele já está na minha boca. Tão quente que me sinto estremecer.

nas asas do amorWhere stories live. Discover now