É SÓ AMOR

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No exato instante que piso para fora da Capela Branca, acontece o que eu já vinha esperando: uma gota de chuva cai na minha bochecha, seguida de outra, e outra, e mais outra. Em algum momento enquanto eu estava lá embaixo a chuva começou — por ora, fraca. Acelero o passo em direção à ponte levadiça.

Durante o percurso de volta, com a visão periférica, noto Snow sobrevoar a área. Eu cruzo o gramado, seguindo para o ponto em que combinamos de nos reencontrar; quando estou quase lá, vejo Simon descer em algum lugar na orla da Floresta Inconstante. Eu paro sobre o local combinado e ele não demora a ressurgir no céu. As asas inteiramente esticadas, a cauda chicoteando atrás dele.

Logo Simon pousa, a poucos passos de distância. Ele vem em minha direção, sorrindo com aqueles dentes extremamente brancos. A cauda dele me alcança antes de todo o resto, enrolando em minha perna como uma cobra carente. Snow estende as asas sobre nós, nos protegendo dos chuviscos.

— Ei, olha! — o tom de animação na voz dele é o suficiente para me animar também. — É da mesma cor da camisa que você estava usando ontem! — meus olhos descem para a mão que ele estende em minha frente. Ah, meu Merlim. Meu coração mole derrete instantaneamente. Ele... Eu... — Baz? Tudo bem? — não! Eu não estava preparado para isso, seu desgraçado!

— Você... me trouxe uma flor?

— Sim. Tá meio murcha porque eu tive que apertar pra não sair voando, mas enfim, só queria te mostrar — ele já não está sorrindo, acredito que eu posso tê-lo assustado com meu choque. Que bom! — Baz? — eu o beijo, porque ainda não sei o que poderia dizer. "Perdão, amor, eu sou patético e estou emocionado com uma florzinha", que tal? — O que foi, lindo?

— Eu... — sou patético... — nunca recebi flores — Simon parece ainda mais confuso, eu rio um pouco. Eu amo como ele me faz rir nos momentos menos esperados. — Estou feliz, Snow — esclareço.

— Ah! — ele solta uma respiração dramática. Acho que realmente combinamos. — Eu teria tentado amassar menos, se soubesse que é sua primeira.

Pego a planta da mão dele. É cor-de-rosa, uma florzinha selvagem que se encontra aos montes na Floresta Inconstante. Quero deitar ali no chão e me deixar virar uma poça. Vão colocar uma plaquinha: antigo aluno, que também era um vampiro, se reduz a líquido após namorado lhe entregar uma flor selvagem murcha; suas últimas palavras foram "com todo meu histórico, nunca imaginei que morreria de gayzisse".

— É mesmo da cor da minha camisa — termino sussurrando.

— Baz? Você vai chorar? — Simon questiona, genuinamente preocupado, eu solto outra risada.

— E se eu for? — arqueio a sobrancelha para ele. Estou fazendo piada, mas... Eu sou só um vampiro traumatizado que não esperava nada disso...

— Se você for, eu vou te abraçar — Snow segura minhas bochechas em seus dedos mornos. A chuva aumentou, fazendo barulho em suas asas. — E nunca mais vou te dar flor nenhuma — eu gargalho. — É sério, você me assustou.

— Desculpa se eu não estava esperando o amor da minha vida aparecer com uma flor pra mim, assim, de repente — despejo de uma vez. Dignidade? Perdi em algum ponto do deserto, nos Estados Unidos. — Não posso chorar de alegria, Snow?

— Sim, Basilton — ele suspira e me puxa, acabando com o pouco espaço que restava entre nossos corpos, me abraçando. — É óbvio que pode.

— Não vou chorar — afirmo para nós dois. — Só me pegou de surpresa.

— É meio irônico, né?

— O quê?

— O homem das roupas florais nunca ter ganhado flores — eu o encaro, sorrindo.

nas asas do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora