Capítulo 35

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Eu sempre imaginei que a cadeia fosse literalmente o fundo do poço, e eu não estava errada. Desde o dia que confessei tudo eles me trancaram em uma cela que era para acomodar em torno de 3 mulheres, e haviam 10. Era escura, fétida, fria...
Eles não me deixaram sair para o banho de sol nem um dia se quer, ai que estava os males de ter cruzado o caminho de uma família poderosa como os Levy's.
A comida era pior do que as dadas aos porcos.
Uma vez ouvi que as grávidas tinham alguns privilégios, celas menos lotadas, mais tempo para ficar tomando sol e o cardápio era mais balanceado, quando disse que esperava um filho me disseram "Enquanto não há barriga, não há criança".
Eu já devia estar aqui mais ou menos uns 20 dias, eu não soube mais nada de William, provavelmente ele deve estar seguindo a vida dele e nem se importa com o filho que teremos.
Meu advogado vinha algumas vezes para podermos conversar, e minha mãe vinha todos os dias e em todos eles ela chorava tanto, eu não era mais a Maite que ela se lembrava, eu era a Maite marcada pelos sofrimentos da vida, e diferente dela eu não consegui manter meu equilíbrio mental e fiz tudo o que fiz.

Finalmente chegou o dia do julgamento, e só eu sabia a humilhação de estar usando aquele macacão laranja, os cabelos que antes eram sedosos e brilhantes agora estavam bagunçados em um coque mal feito, as olheiras eram nítidas, mas o pior eram aquelas algemas nos pulsos, e as dos pés foram soltar para que eu pudesse entrar no tribunal.
Apesar de tudo eu entrei de cabeça erguida, muitas pessoas ocupavam as  cadeiras, afinal era a empresária milionária Maite Perroni sendo julgada, todos queriam acompanhar.
Nos assentos da frente de um lado minha mãe e o advogado, do outro William, uma advogada e Julieta, e pela primeira vez eu senti vontade de chorar quando a encarei e o sorriso que tinha em seu rosto me fazia querer vomitar ali mesmo.
Com brutalidade os policiais me colocaram sentada na frente do juiz. Brevemente ele explicou o caso e me deu a palavra.

- Bom dia a todos, como já sabem sou Maite Perroni. Não tenho muito o que dizer, afinal eu já contei tudo o que tinha para ser contado. Quando pequena fui abusada de todas as maneiras pelo meu tio, cresci meio a dor sem nenhum tipo de carinho. E eu me apaixonei por William Levy, mas éramos tão diferentes... Ele sempre brincalhão, extrovertido, o mais lindo e eu a esquisita, nerd, desinteressante. O tempo foi passando e eu pensava que esse amor acabaria com o decorrer dos anos, mas ele nunca acabou, pelo contrário. E então eu decidi que o teria, e aí aconteceu tudo o que já sabem.

- Me concede a palavra meritíssimo? - Perguntou meu advogado e o juiz apenas concordou com a cabeça.

- Como podemos ver minha cliente não estava em perfeito estado, teve uma infância traumática e isso claramente lhe afetou. E é possível concluir que quando ela recobrou sua consciência que foi com a volta de sua mãe ela se arrependeu e confessou tudo. Não sei se já sabem, mas eles estavam prontos para fugir, ela poderia simplesmente ter sumido e nunca mais a encontrariam, porém ao invés disso percebeu que o que estava fazendo era errado e se entregou.

- Agora a farão de vítima? Essa mulher privou um homem da sua liberdade, lhe agrediu, lhe arrancou dentes, lhe raspou os cabelos. E outra, sabem como a mãe dele sofreu? - Retrucou a advogada contrária.

- Não é bem assim... - Tentou dizer William, mas foi cortado.

- Por favor silêncio, a palavra agora está com o advogado do réu. Peço que respeitem a hora de fala do outro. Continue senhor Magno.

- Por hora o que tínhamos a dizer já foi dito, obrigado.

E então me tiraram da cadeira e foi a vez de Julieta ocupá-la.

- Bom dia. Eu não sei se vocês tem filhos, mas se tiverem imaginem que alguém chegasse e o tirassem de você, e essa desgraçada fez isso, me tomou meu único filho, me fez pensar que ele estava morto. Ela no começo se fez de sonsa, se aproximou de mim, entrou na minha casa, uma fingida descarada. Merecia morrer na prisão, e é isso que espero, que a justiça seja feita, porque só eu sei a dor que senti. - Falava meio lágrimas, e pelo jeito só eu sabia que aquilo eram na verdade lágrimas de crocodilo.

- William Levy sua vez.

Agora estava tudo nas mãos dele, e eu não fazia ideia se ele ficaria do meu lado ou se me faria garantir quem sabe prisão perpétua.

- Maite era maluca, era louca. Com um jeito arrogante e debochado parecia a própria muralha da China em forma humana, mas ela me permitiu ver um lado que ela nunca havia mostrado a ninguém, me mostrou que no fundo ela não passava de uma garotinha assustada, louca sim, mas louca para encontrar o amor, louca para sentir o que era ser amada.
No início óbvio eu a odiei, só que garanto a vocês não da para odiar Maite Perroni por muito tempo, ela se entregava de corpo e alma para mim, e com o passar do tempo eu comecei a me entregar também, derrepente eu queria estar ao seu lado, ficava chateado quando não a via, parece coisa de outro mundo, mas nós dois temos uma conexão inexplicável, eu não conseguia se quer mentir para Maite.
Não sabem como me dói vê-la assim nesse estado, eu daria tudo para que ela tivesse desistido daquela ideia maluca de se entregar e tivéssemos fugidos juntos, construir nossa família, esperar ansiosos pelo nosso bebê, eu queria estar junto dela em cada etapa, sentir os chutinhos, beijar muito sua barriga e agora eu sei que nada disso será possível.
Eu só quero pedir uma coisa, pensem bem antes de darem a ela uma pena muito severa, ela já sofreu demais nessa vida e merecia finalmente ser feliz comigo o amor da sua vida e com nosso filho.
Eu te amo Maite, eu não vou te esquecer nunca e independente do que acontecer aqui hoje eu vou te esperar até o último dia da minha vida. - Ele estava muito emocionado, e eu não estava diferente.

- Senhora Lilian, a palavra é sua. - Disse para a advogada.

- Com essa declaração de William da para ver claramente que o nome disso é Síndrome de Estocolmo, visivelmente o medo lhe fez criar um afeto pela sua sequestradora. Basta olhar para os dois,  Levy jamais se interessaria por Perroni, como ela mesmo disse ambos são bem... Difentes.

- Protesto, primeira coisa essa sua última declaração foi notoriamente preconceituosa e visou rebaixar minha cliente. E em segundo lugar, essa declaração dada por William não me deixa dúvidas que ele ama sim Maite, ele conseguiu ver que ela tinha alguns problemas e a entendeu.

- Uma coisa é fato, Maite Perroni é uma criminosa, e deve pagar pelos seus atos. Espero que justiça seja feita, olha o mal que fez a essa família, uma mãe que chorou dia e noite, o rapaz que agora está traumatizado e defende a própria sequestradora.

- Pare com isso, Lilian! - Disse William.

- Tenho uma pergunta para a réu. - Disse o Juiz. - Onde está seus comparsas?

- Ao todo tive o apoio de quatro, dois que pegaram o William e depois eu os paguei e não faço ideia para onde foram, um era responsável por vigiar as câmeras que haviam no porão para evitar que William pudesse me machucar ou tentar escapar e o outro era o que vigiava a porta. Também dei o dinheiro para eles e não sei onde estão.

- Qual era o nome deles? Depois pode fazer um retrato falado?

- Não sei os nomes e nem me lembro direito de suas características. - Sim, eu estava mentindo. Não era porque eu havia me entregado que eu iria foder com a vida dos outros.

- Não acredito em você garota, e facilitar para o encontrarmos irá ajudar diminuir sua pena.

- Tenho certeza que ela não sabe, Maite ficaria muito feliz se pudesse ajudá-los. - Falou meu advogado ajudando a me livrar, eu já havia lhe dito que não abriria a boca para caguetar os meninos.

- Daremos uma pausa, e quando voltamos já terei a decisão tomada.

Louca ObsessãoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora