3_ O portal do Sol

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Permaneço acordada enquanto a lua some do céu e logo em seguida o sol nasce. Não dormi pelo o restante da noite e nem dormi ao início do alvorecer como de costume. Eu queria ver o emissário de Tamarã assim que ele havia adentrado as terras de nossa tribo. Mas não seria cordial obrigar uma comitiva que passou dias viajando a responder ordens da imperatriz e comparecer a sala do trono sem ao menos descansar primeiro. Deixei que os convidados descansassem, dormissem até. Aguardei pacientemente, mas quando o sol já estava subindo pelas paredes do palácio, deixando o ambiente mais quente, comecei a ficar levemente irritada.

Finalmente, um pouco antes do meio do dia Vanisha mandou uma mensagem pedindo que eu me preparasse para recebe-los. Deixei então que Kali me vestisse com um tecido mais pesado, cor vinho, cheio de uma quantidade grande de pedras preciosas. Meu cabelo foi deixado solto, como pedi, mas coloquei a tiara e os braceletes. Por fim, Neeko pintou os desenhos usuais mais uma vez em meus braços, mas dessa vez, permiti que o sol e a lua fossem representados da mesma forma. As estrelas contornavam meus pulsos, dos dois lados, salpicadas com brilho prateado e com pequeninos cristais colados a minha pele.

Sento por fim no meu trono, rodeada pelos guerreiros principais de Kimalah, meus três generais a frente, a minha esquerda e Vanisha de pé a minha direita. Os anciãos estão presentes no fundo da sala, quase omissos, sobre a sombra das paredes. Me concentro em manter minhas expressões neutras e gélidas quando levanto minha mão dando a ordem para que a comitiva de Tamarã entrasse.

Os membros do reino de Tamarã adentram a sala do trono aparentando tranquilidade e arrogância. Observo enquanto seis soldados, vestidos exatamente como os que nos atacaram dias atrás entram a passos pesados, quase marchando em volta de um homem alto de cabelos medianos marrons que eu tenho quase certeza ser o emissário. Ao contrário dos solados que estavam vestidos com coletes negros bordados com dourado e calças largas de couro que finalizavam em botas escuras, o emissário estava trajando uma túnica dourada opaca por cima de vestes brancas levemente encardidas pela areia do deserto. Ele usava um colar no centro do peito que tinha um pingente dourado no formato de um círculo.

Qual era mesmo o símbolo do reino deles?

Os Tamarãnianos param diante de mim e me encaram. O emissário me avalia de cima a baixo com uma certa curiosidade no olhar, mas se mantém calado. Percebo que talvez eles estivessem esperando que eu desse boas vindas, mas não aconteceria. Eles tinham invadido meu reino, machucado as mulheres e crianças da minha tribo, ferido os meus guerreiros. Não sentia vontade nenhuma de felicitar a presença deles em meu palácio.

-Estão diante da Imperatriz de Kimalah_ Vanisha é a primeira a quebrar o silencio_ ela irá ouvir o que têm a dizer.

O emissário não parece feliz depois daquele mando disfarçado, mas ele pigarreia brevemente e abaixa a cabeça enquanto seus olhos negros encaram os meus.

-Pois bem_ a voz do homem de meia idade soa apagada, quase rouca_ venho em nome de sua majestade, o príncipe Áklin Herberan de Tamarã. Ele mandou uma mensagem para..._ ele faz uma pequena pausa enquanto me encara_ sua alteza, a imperatriz.

Todos se mantêm em silencio e me dou conta de que preciso dar uma resposta dessa vez.

-Prossiga_ é tudo que eu digo. Os soldados em volta dele continuam rígidos e ele permanece imóvel por um momento ainda me avaliando. Olho de soslaio para a esquerda e percebo que Athos e Polax estão com os punhos cerrados colados aos corpos. Átemis mantem as mãos para trás, tocando o arco em suas costas.

O soldado a esquerda do emissário desenrola um pergaminho mediano e estende na direção do homem de meia idade. Ele pigarreia novamente e suas próximas palavras saem altas e claras:

Tocada pelo SolOnde histórias criam vida. Descubra agora