2. Algum Ritmo

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hs

Achar o perfil de Louis no instagram três dias depois foi uma total coincidência. Eu só estava olhando os seguidores do perfil da academia e, bem, já que isso aconteceu, obviamente eu apertei o botão de seguir e olhei os últimos stories postados.

Mais tarde, quando acabaram todas as aulas do dia, havia uma mensagem. Um simples "oi ;)" que escolhi responder depois de tomar um banho.

Com a toalha ainda na cintura (a que vinha no quarto, eu não tendo juntado coragem o suficiente para tirar minhas coisas da mala ainda) aproveitei para mandar para Louis o áudio que gravei de manhã, o som claro de uma guitarra que vinha do seu quarto. Não mencionei que foi com aquilo que acordei.

Acabei me deitando na cama de toalha mesmo e permaneci assim por alguns minutos. Meu corpo se secando depois do banho sem que eu notasse, distraído demais com o homem que me mandava mensagens totalmente aleatórias.

Quando falei sobre o trabalho que iria desenvolver no fim do dia e os materiais que precisaria comprar, Louis me assegurou que tinha tudo em seu dormitório. Convenientemente. Acrescentando o número do quarto antes mesmo que recebesse minha resposta que estava sendo digitada, apagada alguns segundos depois.

Deixei o celular na cama quando me levantei para colocar uma roupa. No fim das contas não era como se eu tivesse considerado dizer não em algum cenário.

Escolhi o mesmo sapato de sempre, a camisa mais antiga do meu guarda roupa para não arriscar sujar mais uma e minha calça bege de pintura.

Na porta do quarto dele, depois de ser cumprimentado pelos alunos que estavam na sala, comecei a checar cada uma das coisas que tinha que levar. Uma tentativa de retomar a respiração, torcendo para acalmar a ansiedade de estar ali.

Pincéis. Godê.

Antes que terminasse a listagem, Louis abriu a porta e deu passagem para que eu entrasse. Sorri e fechei a porta atrás de mim em seguida, estando ali somente eu e ele.

O quarto estava bem arrumado, tudo parecia em seu devido lugar e cheirava a lavanda. Em cima da cama, com um lençol um pouco respingado de tinta, estava a bendita guitarra. No fundo do cômodo um sofá que parecia sozinho sem uma televisão, uma mesinha em frente e o cavalete para pintura a postos.

— Seu cabelo fica uma graça assim bagunçado. — Joguei os pincéis que trouxe em cima da pequena mesa ali.

Ele me olhou quase rindo, mas não respondeu nada. Apenas andou até o pequeno frigobar amarelo no canto da parede e tirou uma bandeja.

— Afinal, por que morangos? — Ele perguntou, fechando o frigobar e me entregando a bandeja com as frutas.

Coloquei os morangos em cima da mesa e peguei de volta um dos pincéis. Já sabia com qual queria começar a pintar.

— Quero fazer algo parecido com aquele quadro do Renoir. — Olhei para ele pedindo permissão quando fui para perto do cavalete. Ele confirmou com um movimento discreto da cabeça, sabendo quando falar era ou não necessário.

Sentei-me no banco e ele se aproximou. Parecia intrigado. — Ainda vida com morangos — relembrei Louis que, só de ouvir o nome, já sabia exatamente o que eu estava falando.

Sem largar o pincel, ajeitei os morangos na mesa à minha frente que serviriam de referência para o quadro, Louis caminhou até perto de sua cama e voltou com tintas. Como prometido, esse sendo em teoria o único motivo para eu estar ali.

A intenção era capturar tudo com a iluminação do sol, traduzindo na pintura todas as tonalidades que o morango refletia. Pedi, então, que ele abrisse a janela já que até a luz solar vinha toda da sacada. Sacada?

Chiaroscuro [l.s]Where stories live. Discover now