9 - Os males do crescimento

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Cobrir o rosto com uma máscara de tecido era um hábito que Usagi havia herdado de seu pai e, que apesar de algumas vezes bastante incômodo, era bastante útil em situação como as que estava vivendo aquele dia. Primeiro logo pela manhã quando a usou para cobrir duas enormes espinhas em seu queixo — que estavam ainda mais feias após a criatura ter ignorado o conselho de seu pai e ter apertado ambas —, segundo para esconder parte de sua vergonha ao ver que os colegas de turma estavam se despindo para entrar no rio.

— O QUE ESTÃO FAZENDO? — Arregalou os olhos antes de fecha-los com toda força.
— A gente não vinha para nadar? — Inomi indagou perdido, voltando a camisa pescoço a baixo.

— O que foi agora? Já não convidamos o Menma, porque vocês ficam brigando, agora vai querer inventar moda? — Shikadai já estava apenas de cueca e com um semblante impaciente.

— Na verdade não chamamos, porque ele... bem... o Menma é difícil. — Akita tentou apaziguar a situação.

— Ele não veio, porque não suporta você, Shikadai. — Por um momento esqueceu do incômodo e abriu os olhos, já avançando na direção do colega para tirar satisfação. — E também quem arranjou essa ideia foi o Metal e a gente sabe que ele é um babaca.
— Eu? Vocês vivem saindo no soco, mas eu não posso não gostar dele ser Uchiha? — Metal respondeu indignado.

— Meus problemas com o Uzumaki não estão em discussão... AKITA! — Desejava saber estilo terra para abrir um buraco e se enfiar dentro ao olhar para o lado e ver que o melhor amigo também havia despido a parte de cima do corpo. — BOTA ESSA BLUSA!

Nenhum dos meninos, parecia entender o motivo de tanto escândalo, afinal costumavam nadar juntos no rio durante a infância, inclusive era por esse motivo que haviam marcado de estarem juntos ali aquela tarde, já que desde que se tornaram genins não tinham mais quase nenhuma oportunidade de estarem todos de folga no mesmo dia. Entretanto uma suspeita veio a mente do garoto Nara que fez um gesto pedindo paciência ao grupo.

— Hey, pessoal. Por que não vão entrando? Só vou trocar uma palavrinha aqui com o Coelho e já vamos também. — Suspirou cansado, prevendo que acabaria aquela conversa com algum problema.

— Não vem encher meu saco que eu já disse que não tenho nada a ver com seus problemas com o Uzumaki. — Usagi bufou com irritação, mas não a habitual do seu gênio, sentia uma impaciência crescendo dentro de si aquele dia.

— Eu realmente não sei como dizer isso sem levar um soco, então primeiro lembre que sou o melhor amigo da sua namora. — Respirou profundamente pensando no que diria em casa se chegasse de olho roxo. — Você é gay, não é?

— EU NÃO SOU GAY! — Não sabia bem o que aconteceu, mas sentiu uma vontade desesperadora de chorar. Mesmo assim se manteve forte ao ver que chamou a atenção de todos os garotos para si.
De dentro do rio, os meninos conversavam aos cochichos e trocavam olhares preocupados. Akita tão envergonhado que preferiu meter a cabeça dentro d’água e nadar cachorrinho até onde estavam suas roupas na beira.

— Quem foi que te falou essa besteira? Foi o Menma não foi? Eu vou matar aquele idiota. — A raiva voltou a escalar sua barriga que agora começava a doer. Que dia estava sendo.

— Bi então? — Shikadai arriscou, falando em um tom bem baixinho, esperando que o outro o acompanhasse.

— EU NÃO SOU BI. — Agora chorava de ódio e dor. — Me deixa em paz. Que saco.
Já vestido, Akita se aproximou preocupado com o amigo. Havia uns dois dias que ele andava mais irritado que o normal, mas isso passava dos limites, sabia que algo não cheirava bem — inclusive literalmente, já que normalmente entendia as emoções do outro pelo olfato, só que hoje estava diferente de tudo que conhecia.
Ao perceber o que estava acontecendo, Usagi só sentiu ainda mais desespero. Agachou no chão e ficou se balançando, tentando pensar em uma solução, mas a dor parecia tirar toda sua capacidade de raciocínio.

— Acho melhor a gente ir para casa. — Sempre gentil, o Inuzuka abaixou a altura do outro para tentar acalma-lo.
— Esse idiota fica me chamando de gay! — As lágrimas caiam sem controle, encharcavam o tecido da máscara. — Vocês são uns idiotas. Não dava pra nadar de short como sempre? Não tinha a droga de uma sunga?

— Desculpa...? — Akita falou confuso e bastante envergonhado.

— Em minha defesa eu só fiz uma pergunta. Sei que ele namora a Chochou, mas sei lá. As vezes a gente demora para perceber essas coisas. — Falava por experiência própria e sem a menor vergonha, já que todos os amigos sabiam de seus sentimentos por Menma e igualmente todos não falavam nada para os adultos por apoio ao amigo.

— Ele não é gay! — A voz firme era sempre um aviso para encerrar a conversa. Ele podia ser muito gentil e tímido, mas também era muito protetor e, mesmo que não achasse aquilo uma ofensa, não pegaria leve com alguém que conseguiu fazer o Coelhinho chorar, já que isso não era algo fácil. — Ele tem namorada.
Com o pouco de força que lhe restava, Usagi se ergueu, secou as lágrimas, fez um gesto obsceno para os amigos que falavam de si pelas costas e saiu marchando a passos firmes para casa.


Já era por volta das cinco da tarde quando Kakashi finalmente conseguiu escapar do trabalho e ir para casa, animado em ter um tempinho sozinho para ler. Porém ao chegar e se deparar com um rastro de sandálias, mochila e blusa pelo chão, soube que algo havia sido ruim para sua criança. Ser pai era uma tarefa em tempo integral que o fazia agradecer por namorar um homem agora.

Bateu de leve na porta e recebeu uma resposta muito mal criada que não deixaria passar impune.

— Eu sei que não sou o Iruka, mas ainda sou seu pai e mereço respeito! Você vai ficar sem janta hoje. — Esperava ter seguido bem o roteiro que vinha ensaiando com o companheiro.

— SAI DAQUIIIII! — Não era apenas um grito, era um urro tão desesperado que fez Kakashi se preocupar verdadeiramente, porém ao tentar se aproximar foi atingido por um travesseiro voador.

— O que está acontecendo? Você se machucou? — Tremia dos pés a cabeça. Uma vez antes uma briga com Menma tinha terminado com uma kunai presa na coxa, então esperava qualquer coisa de ruim.

— Tá doendo! Eu quero o tio Irukaaaaa. Chama o tio Iruka! — O choro descontrolado não parava e cada vez mais se contorcia na cama em agonia.


Kakashi estava a ponto de arrancar o coelho da cama a força e correr para o hospital quando o socorro chegou com o semblante calmo e uma sacolinha de plástico em uma das mãos. — Usagi havia ligado para Iruka assim que entrou em casa, então ele já estava ciente de tudo que acontecia.

— Eu não sei o que fazer, já tentei de tudo, mas não consigo nem chegar perto sem uma crise. — Sabia que deveria ter chamado um médico, porém o Umino era o único capaz de socorrer não apenas Usagi, mas também ele que se via em completo desespero. — Me ajuda. Não sei o que está acontecendo.

— Já vou, amor da minha vida. — Falou alto para que pudesse ser ouvido de dentro do quarto. — E você... Que tipo de pai você é afinal?

O olhar reprovador fez com que o Hatake se encolhesse, sabendo que estava provavelmente cometendo um erro ridículo, mas ainda muito preocupado.
— Um muito preocupado?

— Ai que drama. Prepara um leite quente com canela que eu vou acalmar nossa criança. — Seguiu em frente, entrando no quarto a frente. — Já vai passar, meu amor.

— Espera! O que é? Veneno?

— Não, seu idiota! É a primeira menstruação do Coelhinho!

Família Hatake - MenmaNGWhere stories live. Discover now