Cortes de Sangue e Luta

17

Meus pulmões doem quando puxo o ar violentamente. Me sento na cama enorme que estava deitada e vejo Nyx dormir em uma cadeira ao lado. Observo sua cabeça jogada para trás e desço meus olhos para seu pescoço. Me levanto e tento não fazer barulho, mas sinto braços fortes me pegarem no colo e me colocarem na cama novamente.

—Como está se sentindo? — Nyx me coloca delicadamente na cama que percebo ser dele. Encaro Nyx um pouco confusa e olho para minhas asas.

—Estavam tortas — falo e minha voz sai rouca. Nyx solta um suspiro e sorri.

—Um curandeiro veio aqui — ele senta ao meu lado da cama, ainda sorrindo. —Está desacordada por dias — ele segura minha mão e sinto um calor estranho na minha barriga.

Olho desacreditada para minhas asas, estavam novas. Abro e fecho repetidamente minhas asas até estar acostumada novamente. Lembro-me muito bem delas estarem completamente tortas e aquilo não parecia ter volta.

—E a invasão? — pergunto e fico agitada. Onde está Ágatha? E Íris? Por que não estão comigo aqui?

Como se tivesse ouvido, Ágatha entra no quarto e deixa a xícara de chá cair no chão ao me ver. Ela corre e me abraça apertado.

—Achei que nunca mais fosse acordar — ela sussurra e vejo os olhos dela brilharem. Ela olha para Nyx e sorri de lado. —Eu...tenho que ir. Conversamos mais tarde — ela fala e vejo Nyx corar um pouco.

—Consegue explicar o porquê isso aconteceu com você? — Nyx segura minha mão novamente e sinto ele ficar apreensivo.

—Minha magia faz isso comigo. Não gosto de deixar esse meu lado vir à tona por esse motivo. Meu corpo e minha mente não aguentam esse poder, acho que são fracos demais — dou de ombros. Minha mãe nunca me disse da onde minha magia veio, nem o que ela é. Só sei que isso acontece comigo toda vez que uso muito minha magia.

—Você sabe o que você é? — ele pergunta enquanto brincava com meus dedos.

—Qual foi a sensação de quando levou uma flechada na asa? — pergunto. Não estava a fim de falar sobre isso, eu nunca falo porque é humilhante não saber o que é, é humilhante não saber suas origens e muito menos controlar quem você é. Nyx cerra a testa e suspira.

—Acredito que deve ter sido pior do que torcer — ele sorri fraco e abre um pouco as asas, mostrando a cicatriz. Olho para minha asa e vejo uma cicatriz também, bem menor do que a dele. —Havia alguns cortes em você — Nyx explica e aproxima os dedos da minha asa.

Sua mão quente encosta em minha asa, no lugar onde estava a cicatriz, e um arrepio me percorrer. Ele estava sério, analisando com atenção e traçando linhas com os dedos. Eu não devia estar deixando ele tocar nelas desse jeito mas...no fundo eu queria que ele as tocasse, queria que continuasse.

Quando menos percebo, estou com os olhos fechados apenas apreciando a sensação dos dedos dele. Ouço uma risadinha e abro os olhos. Nyx estava a centímetros do meu rosto, olhando atentamente para onde tocava.

—Pelo jeito sua sensibilidade não foi afetada — ele afasta as mãos e me encara com um sorriso de lado. Não consigo evitar corar.

O que está acontecendo comigo? De repente eu acordo e não sinto mais raiva de Nyx e quero ele mais perto possível?

—Só falta testar se a sua não foi — falo sussurrando e observo um sorriso surgir nos lábios dele. Ele dá de ombros e aproxima a asa de mim. Observo a imensidão dele e como a minha parecia pequena perto da dele, tento não olhar para a enorme garra no topo da asa e limpo a garganta.

Levo meus dedos até a cicatriz dele e vejo seu pescoço se arrepiar na hora. Faço movimentos circulares em sua asa e Nyx começa a ronronar depois de um tempo. Afasto minha mão e sorrio para ele.