eu trabalho com lacre

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Três dias se passaram.

Três dias desde que comecei a trabalhar das 13 da tarde às 21 da noite. Eu até poderia falar que era cansativo, quase não tinha tempo para dormir e afins, mas seria mentira. Não era nem um pouco cansativo pelo simples fato de que eu não fazia nada durante essas horas de trabalho. Não é eufemismo, eu realmente não fazia nada, a não ser atender ligações indesejadas e lidar com clientes sem noção.

No terceiro dia, que é hoje, comecei a pensar se era melhor eu voltar para aquela cidade do interior, porque, falando sério, pessoal, minha rotina aqui está sendo quase igual à que eu tinha lá. Que absurdo, eu não estudei 4 anos para no final virar atendente telefônico. Quando perguntei para um de meus colegas o porquê de estarmos, basicamente, de bunda para cima durante o trabalho, ele apenas deu uma resposta frouxa e me ignorou. Quis dar uma cacetada na cabeça dele. Como se não bastasse isso tudo, ainda tinha o problema da localização do nosso escritório. Ele ficava num canto perto da saída de emergência, a sala é minúscula e não tinha uma janela ali, super abafada e o ar-condicionado não estava funcionando.

Nunca na minha vida eu cheguei tão no fundo do poço quanto agora.

Pelo menos meus colegas são legais. A maioria. Somos sete pessoas, seis homens e uma mulher. Haerim era uma deusa imaculada por conseguir aguentar trabalhar no meio de uma penca de homens fedidos; ela foi uma fofa comigo, sempre gentil e me oferecendo café, eu gostei dela. Quem fazia o café era Mingyu; café horrível, a propósito, parecia pura água, não tinha gosto de nada, mas eu me privava de comentários porque ele parecia tão orgulhoso do próprio café que eu ficava com dó de falar alguma coisa; o resto do pessoal também deveria pensar assim porque não vi ninguém reclamar nenhuma vez nesses meus três dias aqui.

Tinha chineses na equipe também, Junhui e Minghao, pareciam aqueles gatos siameses do filme "A Dama e o Vagabundo", um não desgrudava do outro, era engraçado; a única coisa que faziam sozinhos era ir ao banheiro, de resto, até para tomar café os dois estavam juntos. Boo Seungkwan era o chefe do departamento, e, sinceramente, pessoal, que cara chato. Ele ficava no meu pé toda hora, enchendo meu saco, e eu nem sei porque, já que não fazíamos nada durante o expediente todo; além de que ele sempre me passava as ligações de clientes insuportáveis, parecia que fazia de propósito, como se quisesse testar minha paciência. Logo mostro para ele o tamanho da minha paciência quando eu meter uma paulada na cara dele.

E por último, mas não menos importante, Chan. Ele era um estagiário que não é estagiário, porque ele já havia terminado a faculdade, mas era o mais novo da equipe, então o tratavam que nem capacho. Mandavam ele comprar comida, pó de café, pegar papelada, atender ligações absurdas... Confesso, fiquei com pena do menino. Chan é um doce, o único que ainda me trata com gentileza e educação; o sorriso dele é uma das coisas mais lindas que eu já vi. E ele é muito bonito também, às vezes me pego encarando o menino que nem um velho tarado, morro de vergonha depois. Mas ele não parece se importar, tem dias que ele até me devolve uns olhares.

— Soonyoung, tá parado porquê? — A voz de Seungkwan no meu ouvido me fez pular de susto.

— Tô parado porque eu trabalho num escritório e não numa maratona. — Rebati, irritado.

— Mais respeito com seu superior, seu tosco!

— Ah, me poupe!

— Que calor, né? — Mingyu se abanou com um papel.

— Queria um sorvete. — Jun murmurou, ele estava largado na cadeira que nem um doido.

— Eu também. — Minghao murmurou de volta. Adivinha como ele estava na cadeira? Sim, do mesmo jeito que o Jun. Santo pai.

✘ damn.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora