✘ damn.

reuniões e bitoquinhas

No momento em que a porta estatelou-se no chão, meu cérebro meio que desligou.

A fumaça deve ter mexido com meus sentidos. Num piscar de olhos, eu estava sentado numa maca, do lado de fora da empresa, com uma máscara de oxigênio no meu rosto. Várias pessoas passavam por mim, esbaforidas. Algumas com câmeras, outras com seus celulares estendidos, acho que eu vi até um microfone. Será que vou aparecer no jornal? Fui tirado de meus devaneios quando uma paramédica estalou os dedos na frente de meus olhos. Ela falou alguma coisa e eu apenas concordei com a cabeça, mesmo sem entendê-la. Logo eu estava livre da máscara de oxigênio, mas me mantive na maca.

Olhei ao redor e consegui encontrar meus colegas. Haerim era a mais abalada. Ela estava deitada em sua maca e conversava com a mesma paramédica que me atendeu a uns minutos atrás. O resto da minha equipe já estava de pé ou sentada, conversando com pessoas aleatórias. Que doideira, não sei nem explicar o misto de emoções que estou sentindo. Minha vida passou diante dos meus olhos, pensei que tudo acabaria naquela pequena sala escondida dos olhos alheios, mas aqui estou eu. O mundo não está preparado para uma era sem Kwon Soonyoung. De repente, senti uma presença ao meu lado, e, ao virar o rosto, meu coração acelerou em meu peito quando reconheci o rosto de Jihoon.

— Você está bem? — Ele segurou minha mão. Olhei ao redor, alarmado, mas, surpreendentemente, ninguém parecia interessado em nós dois.

— Vou sobreviver. — Murmurei, desviando meu olhar até nossas mãos.

— Ainda bem que nada de mais grave aconteceu. — Jihoon parecia prestes a chorar — Eu nunca me perdoaria se... Eu...

— Jihoon. — Suavizei meu tom de voz e voltei a olhá-lo nos olhos — Eu estou aqui.

Ele não respondeu nada, apenas continuou me encarando com seus olhinhos cheios d'água.

— Senhor Lee. — Ouvi a voz de Jeonghan. Jihoon tratou logo de soltar minha mão e se afastar de mim — Todos os chefes de departamento estão no salão de reuniões, como o senhor pediu.

— Certo. — Jihoon arrumou o terno no corpo e me olhou — Chame seus colegas. Jeonghan, leve-os até o salão de reuniões. Esperarei por vocês lá.

E saiu. Jeonghan me ajudou a descer da maca e eu fui até meus colegas. Haerim já estava de pé e conversava com Chan. Ao me aproximar do pequeno grupo reunido ali, na calçada, senti uma mão em meu ombro. Seungkwan me olhava aliviado. Todos ali estavam aliviados. Só então percebi o quão tenso eu estava e relaxei meu corpo, fiquei até meio tonto. Eles estavam bem, estavam vivos. Realmente, que alívio.

— O chefe quer que participemos de uma reunião. — Falei. Jun fez uma careta.

— A gente quase morreu, e o macho quer fazer uma reunião?

— Senhor Lee pretende descobrir o que aconteceu com vocês. — Jeonghan interviu — E decidir o destino de sua equipe.

— Destino? — Seungkwan disse, numa voz fina. Haerim parecia prestes a desmaiar.

— Quer dizer que tem chance de sermos demitidos? — Chan disse, ultrajado. Mingyu e Minghao murmuravam entre si, seus rostos estavam contorcidos numa expressão de preocupação e raiva.

— Não acho que ele faria isso com a gente. — Tentei amenizar a situação, dando uma risadinha — Não é? — Encarei Jeonghan, buscando apoio.

— Sigam-me. — Ele disse apenas, e começou a andar na direção da empresa.

Troquei alguns olhares com meus colegas e tratamos de seguir o secretário. Se já estava uma confusão do lado de fora, o lado de dentro estava pior. Uma multidão de pessoas havia se instalado no salão de entrada só para ver o estrago que o incêndio causara. Os bombeiros saíam e entravam na nossa pequena salinha, que agora estava aos pedaços. Desviei o olhar dali, ignorando a pontada que senti em meu peito. Jeonghan nos levou até uma sala no segundo andar, esta era bem ampla e tinha uma grande mesa oval no centro, na qual estavam sentados vários homens e mulheres; entre eles, reconheci Wonwoo. Jihoon, após entrarmos, sinalizou para que sentássemos. Um silêncio ensurdecedor tomou conta do local, até que Jihoon resolveu quebrá-lo.