ANALISTA [Sasusaku]

O famoso livro rosa

— Pronta para contar mais algo? – Shizune pergunta, colocando um copo de água gelada ao meu lado.

Estou deitada de bruços no divã, com as pernas para cima e balançando-as levemente. Minha cabeça está apoiada numa almofadinha, e sinto certo cansaço mental e físico. Se eu continuar nessa posição por muito tempo, acabarei dormindo.

— O que quer saber, gata? – Dou uma piscadela pra psicóloga, que primeiro me olha estranho e depois ri.

Saudades de Mia. Ela já conhecia bem meu jeito.

— Mais sobre a sua relação com seu irmão. – Reviro os olhos quando ouço a última palavra.

— Não somos irmãos.

— Certo... e como você gosta de chamá-lo então?

— Sasuke tem minha tutela, logo, é meu tutor. Responsável por me criar, educar, sustentar e me ensinar as coisas boas da vida.

Por mais que Shizune tente disfarçar, seu rosto demonstra todo o incômodo que está sentindo. Gosto de brincar com seu desconforto.

— Ou melhor, vamos comer pelas beiradas primeiro. – Diz. – Você é virgem, Sakura?

— Não.

— E como você perdeu a virgindade? Seu ir... quer dizer, Sasuke teve algo à ver com isso?

— Gostaria que sim, mas não.

Me mantenho em silêncio, encarando seus olhos grandes que me fitam, esperando que eu continue.

— Por favor, Sakura. Tô ansiosa pra sua história. – Ironiza, dando um sorrisinho bem breve. — Me conta, vai.

Saio da posição em que eu estava, com medo de acabar caindo no sono. Sento em posição de índio e bebo um pouquinho d'água.

— Eu era modelo... – começo a dizer lentamente, lhe dando tempo para anotar tudo. – fiz vários trabalhos. Fotos, revistas, desfiles, tudo. Mas todo mundo sabe que essa merda de mundo da moda é o próprio limbo. Não tem nada que preste, nada mesmo. Para chegar ao topo, você tem uma única opção.

Ela me observa atentamente depois de escrever, e quando percebe que estou demorando demais para continuar meu raciocínio, resolve me dar um empurrãozinho.

— Qual opção?

— Sexo.

Consigo reparar que ela está surpresa, e morde os lábios para que sua boca não abra pela reação. Sinto vontade de rir, mas me controlo.

— Explique, por favor.

— Ninguém chega às passarelas da Victoria Secrets sendo apenas bonita, e ninguém fica rica pelos jeitos comuns. Você precisa se envolver com pessoas do topo para chegar ao topo. E é nessa hora que entra em campo o Book Rosa. – explico, recebendo o olhar atento dela em mim.

— O que é o Book Rosa?

— No fim de todos os trabalhos, os agenciadores oferecem às modelos uma tarefa extra. São programas, obviamente. Os homens pagam o dobro do valor do cachê para a maioria das garotas, e o triplo quando elas são iguais à mim.

Shizune me avalia de cima à baixo, provavelmente tentando achar o que tinha de tão diferente no meu corpo e aparência.

— Iguais à você?

— Novas, bonitas... você é psicóloga, deve entender. Todo homem tem fetiche em transar com uma ninfeta.

Ela assente, claramente horrorizada com as palavras que usei. É por isso que normalmente não gosto das psicólogas que Sasuke escolhe pra mim. Sempre me deixam desconfortável, como se fossem me mandar daqui direto pra um reformatório.