Capítulo 29

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Acordei um pouco antes do amanhecer, o relógio na parede do quarto marcava 4:43 e mesmo rolando de um lado para o outro eu não consegui voltar a dormir.

Sai do quarto sentindo uma enorme vontade de comer algo com maionese.

— O que você tá fazendo?— Falei encontrando Beto saindo do quarto de hóspedes arrumado com sua mochila nas costas.

— Indo para casa?— Ele disse como se fosse obvio.

— No meio da noite?

— Essa lugar é o fim do mundo, Olivia — Seu tom foi sincero e preguiçoso — Sabe o quanto é difícil chegar e sair daqui?

— Tanto faz — Lhe respondi passando por ele e começando a descer as escadas — Espero que não esteja levando nada de valor.

— Quanta vezes eu vou precisar dizer que eu peguei aquela grana da igreja emprestada? Eu ia devolver direto a quem realmente precisa.

— No caso você.

— Você não pode me julgar por não ter grana pra fazer o que eu quero.

— Tarde demais, é quase um hobby fazer isso.

No meio das escadas observei as malas espalhadas pela sala de estar.

— Eu não acredito — Falei olhando para os meus pais que vem arrumados vinham da cozinha — Vocês vão embora?

— Nos temos um compromisso, coisa de adulto — Eu conheço meu pai o suficiente para saber quando ele está mentindo.

— Eu disse que vou ter um bebê e vocês vão embora me deixando sozinha nessa ilha com um monte de gente desconhecida, vocês vão seguir em frente sem mim porque eu não sou uma boa filha, vão apenas voltar a viver a vida de vocês como se eu nunca tivesse existido.

Senti meu rosto se molhar em lágrimas enquanto eu entrava em pânico com a grande chance de estar certa.

— Por favor, Olivia — Minha mãe disse seria — Controle esses hormônios e essa língua, desde quando nos mentimos para você?

Uma raiva começou a crescer, as palavras que saiam de seus lábios pareciam prontas para ferir quem elas devem atingir. É como um dom dela, uma maldição que atinge todos a sua volta. Nesse momento, a mim.

Mas a raiva ainda não era mais forte que a tristeza que sinto.

— Desculpa — Me encolhi um pouco me abraçando — Eu só não quero ficar aqui se não for com vocês, eu não quero ficar sozinha.

— Você não está sozinha — Ela olhou na direção da minha barriga.

— Chega vocês duas — Meu pai interviu — Nos já tínhamos planejado esse viagem, Olivia — Começou a se explicar — Juntamente com você, mas nas suas condições você não poderá nos acompanhar.

— Minhas condições?

— Não podemos dar o exemplo de como as famílias devem ser e se comportar com a nossa filha adolescente grávida nos acompanhando.

Meu coração se despedaçou ali, me sentei no degrau da escada com ainda mais vontade de chorar.

— Vocês estão certos, ninguém merece ser envergonhado por alguém como eu — Me lamentei — As pessoas merecem o que é de melhor para elas e eu não sou mais a adolescente que recebe propostas de universidades, toca piano lindamente e enche de orgulho todos a sua volta. Eu entrando, compreendo também a decisão de vocês em ir.

Algumas pessoas merecem estar só, algumas pessoas precisam estar só para aprender a estar consigo mesmo.

Talvez eu seja essa pessoa.

— A dispensa está cheia e temos uma pessoa para vir repor tudo uma vez na semana, também deixei agendado para que a grama seja cortada e a piscina limpa — Meu pai começou a dizer — Você sabe onde fica o dinheiro e adiantamos algumas parcelas da casa para que você não tenha problemas com o ex proprietário.

Deixei um riso irônico escapar dos meus lábios ouvindo aquilo.

— Ótimo, eu fui promovida a caseiro — Zombei comigo mesma.

Senti Beto se sentar ao meu lado e me segurei pra não empurra-ló para longe descontando a minha raiva em alguém.

— A gente vai voltar, Liv — Olhei para o rosto de minha mãe — Só precisamos de um tempo para entender tudo.

Assenti secando as lágrimas.

— Já disse que compreendo, não preciso de mais explicações.

Vi meu pai pegar algumas malas já começando a levá-las para fora.

— Eu posso ficar ou ir chamar alguém, caso você não queira ficar sozinha — Não encarei Beto quando ele disse isso.

— Você ainda precisa salvar tartarugas por aí — Respondi — Eu vou ficar bem — Coloquei minha mão sobre meu abdômen e soltei o ar tentando me acalmar — Nos vamos.

Consequências - JJ MaybankDonde viven las historias. Descúbrelo ahora