01. Vida longa ao Rei

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A sinfonia da garoa entrou em contraste com os sons matutinos de passos minuciosos arrastados pelo chão, cacarejos e fogo queimando a lenha

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A sinfonia da garoa entrou em contraste com os sons matutinos de passos minuciosos arrastados pelo chão, cacarejos e fogo queimando a lenha. Jungkook então abriu os olhos vagarosamente, tendo a visão preenchida pela luminosidade do dia e as narinas pelo cheiro de terra molhada. Um pequeno sorriso desabrochou no canto dos lábios dele ao recordar o sonho que ocupou sua mente durante toda a noite. Foram apenas bons presságios que abasteceram seu corpo de esperança e energia.

Arrastou o corpo da cama e pisou firme no chão gelado antes de calçar as botas sujas de lama. Vestiu os mesmos trajes de sempre e antes de sair do quarto deu uma última olhada na cama ao lado da sua, onde o pequeno corpo de Agnes se espremia entre as cobertas.

Ao atravessar a porta, encontrou Constance de costas com os cabelos longos e ruivos se derramando em uma cachoeira ondulada. O barulho de metal sendo arrastado na pedra cessou quando a mulher voltou-se para ele, revelando a adaga que tinha nas mãos.

— Está bem afiada. — Sem nem mesmo cumprimentá-lo, estendeu o objeto para que pegasse.

Os olhos de Jungkook foram da ponta da lâmina para o rosto apático da madrasta, já prevendo o que ela iria dizer. Constance tinha uma beleza particularmente encantadora, mas que se tornava vazia com suas expressões frias e palavras cruas. O rapaz recolheu a adaga segurando firmemente o cabo entalhado de madeira e couro.

— Não volte sem trazer alguma coisa grande — Ela completou.

Jungkook saiu apressado, tendo o corpo imediatamente abraçado pela ventania e pelas gotas finais da chuva. Correu em direção à mata próxima, tropeçando algumas vezes por conta da lama escorregadia, até conseguir um pouco mais de segurança sob a copa das árvores. A partir de então, seus passos se tornaram firmes e cautelosos, buscando reduzir ao mínimo o barulho dos pés contra as folhas e gravetos no caminho.

Percorrer a mata no início do dia trazia uma sensação acalentadora e pacífica, embora o clima tornasse seu percurso mais perigoso do que o habitual. Andava se apoiando nos troncos úmidos, passando por arbustos cujas folhas abrigavam pequenas gotas de água que acabavam derramando sobre ele e a friagem arrepiava sua pele e fragilizava seus sentidos.

Não sabia dizer ao certo quanto tempo passou explorando a trilha tortuosa, mas seus músculos começaram a queimar por baixo da pele. Os únicos animais que cruzavam seu caminho eram mariposas, libélulas, besouros e larvas grotescas. Os de grande porte pareciam mais escassos a cada dia, assim como as estações se tornavam mais violentas e o solo mais árido. A fome, a peste, o frio e o calor eram inimigos públicos que se tornavam mais fortes com o passar do tempo.

Os passos de Jungkook foram abruptamente interrompidos ao avistar um cervo jovem bebendo água da grande poça que se acumulou sob uma clareira estreita. Não era grande o suficiente para vários dias, mas provavelmente seria o único que encontraria por muito tempo.

Aproximou-se calmamente para não assustá-lo, sentindo o coração acelerar à medida que a distância entre os dois se encurtava. O animal levantou o pescoço e virou o rosto para encará-lo com o par de olhos grandes e escuros o suficiente para estamparem seu reflexo. Agachou-se colocando os joelhos no chão e estendeu a mão para tocar a pelagem úmida, fazendo uma carícia. O cervo não se esquivou, nem fez menção de atacá-lo ou correr, apenas se entregou inocentemente ao afago. Jeon sempre teve uma habilidade incomum para tratar dos animais, adquirindo a confiança deles de maneira quase imediata.

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