02. Pó e Covardia

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Nos pequenos vãos entre os blocos de pedra das ruas, cresciam flores de várias espécies, cores e tamanhos que resistiram bravamente às intempéries e adversidades

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Nos pequenos vãos entre os blocos de pedra das ruas, cresciam flores de várias espécies, cores e tamanhos que resistiram bravamente às intempéries e adversidades. Enquanto caminhava, Jungkook buscava desviar de todas elas em respeito a digna tentativa de sobrevivência que em muito se assemelhava com sua própria vida. Assim como aquelas florzinhas, acabaria sendo pisoteado por alguém muito maior e perigosamente insensível. Era apenas uma questão de tempo.

O garoto interrompeu brevemente o percurso que fazia pela cidade matutina quando chegou até a praça central. Redonda e estampada nos ladrilhos de maneira semelhante a uma bússola, era onde a grande passarela de acesso ao castelo terminava, por isso estava sempre movimentada. No ponto exato de seu centro, estendia-se uma estreita torre de quartzo que abrigava uma pedra púrpura na ponta. Todos os cinco reinos possuíam uma torre como aquela e era o que mantinha a magia afastada do Vale.

Os olhos de Jungkook seguiram até o topo reluzente em contraste com o céu tristemente azulado. Chegava a ser cômico o fato de usarem magia para espantar magia. Ele deveria temer tudo o que era místico, pois foi graças às criaturas encantadas que a guerra aconteceu, levando à morte do rei e da rainha e ocasionando a grande crise que estavam enfrentando, mas Jeon nem era nascido quando tudo aconteceu. No lugar do medo, sentia curiosidade.

Um alvoroço repentino fez com que o rapaz desviasse a atenção da torre, tendo os olhos atraídos por uma movimentação de pessoas do outro lado da praça. Foi fácil identificar do que se tratava. Um grupo de guardas-reais vinha caminhando com seus uniformes e insígnias enquanto cumprimentavam as pessoas, sorriam para as moças e atraíam um bando de crianças admiradas. Eles eram como celebridades na cidade e as famílias sonhavam em casar as filhas com pessoas tão cheias de honra. Enquanto caminhavam cheios de sorrisos, Jungkook quase era capaz de enxergar estrelas brilhando ao redor de seus corpos, tamanha a pompa que eles possuíam.

Os guardas passaram ao seu lado, alguns deles lançaram olhares soberbos e arrogantes que o deixaram suficientemente constrangido para retomar o percurso que fazia anteriormente.

Apressou-se para alcançar a botica, encontrando o estabelecimento vazio e silencioso. Ano após ano, menos dinheiro entrava na lojinha e as projeções futuras não eram de melhora. Todos os comerciantes enfrentam o mesmo problema.

— Ah, é você, Jungkook. — Jasper apareceu atrás do balcão. — Achei que fosse um cliente.

— Aqui está o dinheiro. — Colocou em cima da bancada de madeira as moedas da última entrega que havia feito.

— Do jeito que as coisas estão, teremos dificuldade em pagar os impostos — O homem disse enquanto recolhia o dinheiro e enfiava dentro de uma gaveta. — Agora que o comandante Avis saiu do poder e o rei vai finalmente assumir, espero que as coisas melhorem por aqui.

— Acredita mesmo nisso, pai?

Jasper parou alguns segundos para refletir. No rosto dele era fácil identificar os sinais de exaustão. As marcas de expressão profundas, a branquitude nos cabelos da cabeça e do bigode e olhar apático eram registros do cansaço que transcendia as barreiras físicas. Suspirou profundamente e completou:

CaligoWhere stories live. Discover now