Capítulo 5

59 6 0
                                    


West Hill (cidade fictícia)

"Eu não quero sentir isso

Dói muito por dentro

E eu não sei por que

Algo não está certo

Se eu nunca mais acordar

Então talvez eu fique bem" 🎶

Era uma daquelas noites frias, e não estou falando de temperatura. Fria, solitária, triste. Depois da festa que Lauren nem se quer aproveitou, chegou em casa e foi direto pro quarto, Cecília ficou um tempo na tv mas depois foi avisar a Lauren que ia sair, estava conhecendo um cara, ela achava até bom que sua tia se divertisse, a casa não precisava de mais uma depressiva. Como não era tão tarde assim ela foi e disse que voltaria logo.

Quando tudo está tão silencioso parece que todos os monstros saem da toca. Lauren sentiu vontade de chorar, pegou a foto de seus pais e agarrou junto ao peito, sentia tanta a falta deles.

"Eu não quero chorar

Estou tentando lutar

Eu não quero sentir isso

Dói muito por dentro

E eu não sei por que

Algo não está certo"

Guardou a foto na gaveta e foi até o banheiro lavar o rosto, sentiu aquela vontade esmagadora de se machucar, essa sensação sempre vinha junto da crise, seus braços eram cheios de cicatrizes, por isso ela estava sempre usando blusas de mangas.

Mas a tesoura estava ali a seu alcance e ela tão devastada, às vezes é difícil lutar contra os próprios demônios.

"Ultimamente, nem eu mesmo me conheço...

Me sinto morto dentro, apenas passo pelas emoções

Tão petrificado de mostrar emoções verdadeiras

Eu farei qualquer coisa para anestesiar essa dor

Assisto indefeso enquanto minha própria vida está sendo roubada..."

Quando se passa tanto tempo sem sentir nada, fica cada vez mais dificil de não se afogar.

No meio do percurso Camila notou que algo brilhava em cima do acento ao lado do seu, parou o carro e pegou o objeto, era uma pulseira com alguns objetos pendurados, uma estrela, um trevo, um girassol.

— deve ser de Lauren, pode ter soltado de seu pulso

Podia devolver na escola? Sim, mas não sabia se conseguiria lidar com as críticas por se aproximar dela, as vezes o ensino médio é um inferno, e quando se tem um grupo fica difícil fugir das regras básicas... E os exilados tinham seu lugar, e era longe dos populares.

Como sabia o endereço dela resolveu ir ate lá, ligou primeiro por causa do horário mas a voz no outro lado da linha dizia que o celular estava desligado.

"Esses pensamentos sombrios me consomem. Fugindo de todas as minhas batalhas. Eu sou tão covarde, eu não sei como estou aguentando. Talvez eu esteja apenas pensando demais em tudo, talvez isso tudo esteja preso dentro da minha cabeça"

Lauren se sentia mais fraca ainda toda vez que fraquejava, mas nem sempre conseguia evitar a queda, estava quebrada demais pra se consertar sozinha.

Passou a ponta da tesoura na sua pele clara deixando o rastro do líquido vermelho.

— aii

Guardou a tesoura na gaveta e pegou um algodão, não parava de sangrar.

— a porta estava encostada, acabei entrando... AI MEU DEUS, você está sangrando

— o que diabos está fazendo aqui? SAI DO MEU QUARTO — gritou

Quando viu a pulseira na mão dela e olhou para o próprio pulso vendo que não tinha nada ficou nervosa.

— você pegou minha pulseira

Empurrou Camila pelos ombros contra a parede.

— ta maluca? Você ta me machucando

— porque você pegou?

Ela não tinha noção da força que estava utilizando pra prender os dois braços de Camila contra a parede, a garota parecia assustada, sua respiração estava ofegante. Ouvia o que algumas pessoas falavam sobre Lauren, que ela tinha Borderline, que era problemática, mas nunca havia presenciado nada do tipo e estava muito assustada.

— me solta porra! você deixou cair no meu carro, está me machucando

Só então ela se deu conta do quanto estava sendo agressiva e tirou suas mãos dela pegando a pulseira. Seu pai havia lhe dado de presente, era muito importante, não havia notado que perdeu, quando a viu segurando perdeu o controle.

— desculpa

— fica longe de mim

Levou a mão até o rosto, ela estava chorando. Droga Lauren, você fez a garota chorar.

— você pareceu o meu pai quando bebia e ficava agressivo

— Camila...

— me deixa em paz, ta aí a droga da sua pulseira, eu não deveria ter vindo até aqui e eu não quero mais ser sua parceira de trabalho

Passou pela porta fechando-a com força em seguida. Não adiantava ir atrás dela, tinha consciência que deixou a garota assustada, não podia culpa-la por sentir medo, as vezes até ela mesma tinha medo de suas mudanças de humor ou da forma como se comportamento passava de calmo pra agressivo em questão de segundos.

— merda!

Foi lavar o braço na pia do banheiro e limpar com algodão, Cecília não podia ver aquilo, ou a ameaçaria de coloca-la em um Centro de reabilitação novamente, ela passou alguns meses lá, e foi horrível, cercada de rostos desconhecidos, não queria voltar.

Camila entrou no carro e fechou a porta segurando no volante em seguida enquanto se acalmava, estava muito nervosa com tudo que aconteceu, foi tudo tão rápido, havia apenas entrado pra devolver a pulseira quando foi surpreendida com Lauren vindo em sua direção de forma tão agressiva.

Girou a chave na ignição saindo dali. Foi como reviver um pesadelo de quando Alejandro, seu pai, chegava em casa bêbado e transtornado. Sua família não era tão perfeita como as pessoas pensavam, seu pai teve problemas com álcool seríssimo, ela e Sinuhe sofreram muito quando tiveram que passar por tal situação.

O melhor a se fazer agora era ir pra casa. Seu celular notificava a chegada de algumas mensagens de Lauren, mas não queria ler, não queria falar com ela, estava com medo e assustada.

Às vezes as coisas saem do controle.

Fragmentos - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora