Capítulo 4

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Anya Herrero Montanhez

Montei a pequena sobre o cavalo e sentei atrás para equilibrar seu corpinho, segurei na rédea e guiei Capitão de volta para a fazenda dos meus pais. Minha filha não parou de tagarelar, mas eu não dei uma palavra. Precisava processar o encontro que havia acabado de acontecer, da forma mais inesperada e sem qualquer planejamento.

A teimosia e persistência de Giovan não permitiriam esperar mais um dia sequer para ter tudo esclarecido.

Pisei no estribo quando paramos nos estábulos e desci do cavalo para depois pegar a Giannina.

— Eu quero que você entre e peça desculpa para todos, principalmente para o seu avô e a sua avó. Eles ficaram desesperados, e você sabe que o vovô não pode ficar agitado por causa do coraçãozinho dele. Peça desculpa e suba para o quarto, irei depois para nós duas conversarmos.

— Desculpa, mamãe. — Ela me abraçou e saiu andando de cabeça baixa.

Caminhei para a casa, entrei na sala, onde todos estavam aliviados ao verem a Nina.

— Aonde você se enfiou, amor da vovó? O que aconteceu? — Dona Branca me olhou.

— Para o quarto — repeti, encarando a Nina.

Ela obedeceu e eu respirei fundo antes de contar tudo para os meus pais. Eles precisaram sentar para ouvir. Meu pai começou a tossir e pôs a mão no peito, Eugênia se apressou para trazê-lo um copo de água.

— Então agora ele sabe? — minha mãe questionou.

— Sabe.

— E está furioso. — Meu pai conhecia bem o homem que cresceu dentro da nossa casa.

— Está. Vou encontrá-lo mais tarde, depois que conversar com a Giannina. Preciso saber o motivo dela ter saído desnorteada de casa, sem avisar ninguém.

— Com certeza aconteceu alguma coisa na escola — constataram.

— Eu acho que sim. — Assenti antes de me retirar e subir para o quarto.

Encontrei minha filha sentada na cama, com o travesseiro no colo e a cabeça baixa. Suas bochechas estavam vermelhas por causa do sol, mas, além disso, algumas lágrimas também avermelhavam sua pele. Sentei com calma ao lado dela e esperei que me olhasse.

— O vovô tá bem?

— Está sim. Mas nunca mais faça isso, nós temos que cuidar dele, não o assustar .

Ela concordou com a cabeça.

— Mamãe, eu não sei o que aconteceu.

— É só me contar do começo. Fizeram alguma coisa que te chateou na escola?

— A professora perguntou o nome dos nossos papais, eu disse o seu. Dois amiguinhos perguntaram se eu não tinha pai, e eu não respondi. Perguntaram se ele tinha morrido, eu não sabia responder, e aí mamãe... meu coração começou a doer, bem aqui — ela colocou as duas mãozinhas no peito —, e eu comecei a chorar muito, eu vi que os amiguinhos riram de mim e saí correndo para o banheiro.

— E a sua professora? — Doeu demais ouvi-la contar tão genuinamente e me preocupei sobre o sintoma do peito doendo, temia que fosse um quadro de ansiedade ou algo similar, porque sofri muito na infância com a ansiedade.

— Ela é legal, mamãe. Ela foi no banheiro e ficou comigo até eu parar de chorar.

— E seus amiguinhos, falaram mais alguma coisa depois que você voltou?

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