Capítulo 6

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Anya Herrero Montanhez

O quarto de milha mais velho da criação apresentava problemas nos cascos, ele permanecia deitado há dias e isso não era bom. Tentei examiná-lo no dia anterior, mas o equino não foi amigável. Tadinho, estava muito amuado com as feridas espalhadas nas patas.

Desta vez fui com mais calma, cheguei devagar, conversei e sentei-me no banco próximo dele.

— Oi, amigão, tudo bem? Você pode ser bonzinho? Eu quero te ajudar. — Cautelosamente deslizei a mão pela pelagem alazã e depois vesti minhas luvas, tudo tranquilamente para não o deixar arredio. — Não vou te machucar. — Peguei o estetoscópio, levantei e agachei-me para escutar os batimentos e os pulmões. — Olha só... por aqui está tudo ótimo, que bom! — Sorri para o animal, como se ele entendesse cada palavra. Enrolei o objeto envolta do meu pescoço e parei na frente dele. Peguei em sua boca e a abri as laterais para analisar as gengivas e o palato. — Tudo bem por aqui também. — Fiz outro carinho na crina clara. — Mas esses cascos não estão muito bonitos.

Segurei cuidadosamente a pata e ergui para examinar melhor. Ele tentou repuxar mas cedeu aos poucos.

— Anya, cê precisa de ajuda? — Cido apareceu nos estábulos.

— Obrigada, Cido. Estamos indo bem aqui. Ele está mais calmo hoje.

— Qualquer coisa é só gritar, chegou as rações e eu vou no celeiro organizar.

— Não se preocupe, vai lá.

Peguei uma pomada analgésica na mala ao meu lado e comecei a passar nas feridas mais abertas das duas patas dianteiras.

— Isso aqui vai te ajudar, amigão.

— E aí, filha? — Meu pai veio em seguida. — O que ele tem?

— Uma infecção fúngica das feias, mas as feridas estão abertas porque ele coçou e mordeu. Vou esperar o analgésico fazer efeito para passar o spray e não arder.

— Então não é o pulmão? Eu achei que as feridas fossem resultado de estresse.

— Ele tem um leve sopro no pulmão, mas é benigno, nada agressivo. Você pode pegar o antifúngico aplicável, por favor? Vamos administrar por sete dias, se ele não melhorar, tentarei com antibactericida.

Tínhamos uma farmácia para os cavalos na própria fazenda, meu pai tinha licença para isto, considerando que também era veterinário. Ele voltou pouco depois e eu já havia aplicado o spray nos cascos, depois dei a injeção com o remédio e fiquei mais um pouco para ajudá-lo a se alimentar.

— Tenho médico agora, filha. Nos vemos mais tarde. — Ele veio e beijou minha cabeça.

— Virão boas notícias. — Sorri, esperançosa.

Meu pai operou há poucos meses, colocou ponte safena porque as obstruções em seu coração estavam cada vez piores. E infelizmente em menos de nove meses ele enfartou quatro vezes. Na última quase o perdemos. Só em pensar nessa possibilidade os meus olhos encheram de lágrimas.

Ele era minha maior inspiração, o meu super-herói, o homem mais carinhoso e honesto que conheci na vida. Eu o amava tanto e não estava pronta, talvez nunca estaria, para viver sem ele.

— É difícil, viu? — lamentava enquanto cuidava de outro cavalo em outra baia. — Mas ele vai ficar bem, né? E a Nina também. Eu sou uma boa mãe, sabe? Coloquei aquela égua, desculpa, não quero ofendê-las. — Me referi às éguas literalmente. — Coloquei a diretora em seu devido lugar. Quero ver alguém mexer com a minha pequena agora.

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