PRÓLOGO

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PRÓLOGO

A terrível garotinha esmurrou o estômago do menino, revoltada, fora de si.

— Você comeu o meu pedaço do bolo. — Disse entredentes, inconformada.

— Você comeu três pedaços, Anya! — respondeu com a mão sobre o local atingido, sentindo dor a ponto de querer vomitar.

— Mas era o último, Giovan. — Rebateu e avançou para dar outro soco.

Ele segurou os pulsos finos dela, detendo-a. Anya mesmo pequena, era como uma força da natureza, selvagem, brava, briguenta. Tanto que naquele momento, se não fosse pela diferença de tamanho e força, ela teria derrubado o seu próprio melhor amigo no chão, na base do soco. Tudo pelo último pedaço de bolo de cenoura que a cozinheira da fazenda havia feito.

— Você é uma pirralha insuportável! — Soltou os punhos dela e se afastou. Depois lambeu os dedos se deliciando com o resto de cobertura de chocolate.

Ela tinha sete anos, e ele estava prestes a completar onze.

Se viam todos os dias, mesmo que fosse para brigar da manhã até o anoitecer. Não se desgrudavam, eram como carne e unha.

Andavam a cavalo, aproveitando a estrada de terra entre as fazendas, frequentavam parques, o mesmo colégio e adoravam sair escondidos para desvendar as trilhas das redondezas. Iam juntos até para os eventos sociais dos adultos, já que os pais de Giovan e de Anya eram melhores amigos também.

— E você é um magricelo feio! Não quero mais ser sua amiga! — Cruzou os braços na frente do peito, emburrada.

Ele revirou os olhos debochando da infantilidade.

— Banguela! — Revidou, provocando-a mais.

— Vai embora, Giovan! Eu vou chamar a minha mãe e falar que você comeu o bolo inteiro, e não deixou nenhum pedaço para mim. Ela vai brigar com você e vai contar para a sua mãe também — ameaçou.

Estava mesmo no horário, Giovan costumava voltar para casa — na fazenda ao lado — no pôr do sol.

E no dia seguinte como se nada tivesse acontecido, os dois saíram para mais uma manhã ensolarada e calorenta, montados em seus cavalos rumo a cachoeira de Santa Teresa.

Anya não entrava na água, morria de medo de se afogar, afinal, ainda era muito pequena. Giovan era muito mais alto e fazia questão de fazer vontade na garotinha.

Embora fosse mais velho e estivesse na puberdade, ele não vivia sem a companhia da "pirralha insuportável e banguela".

Algo muito forte os conectava, talvez porque foram criados juntos. Ou talvez porque o destino já havia escrito uma história muito linda para os dois.

O tempo foi passando, e mesmo que cada um vivesse fases diferentes devido as suas respectivas idades, ano a ano ficavam mais unidos.

Na adolescência, Anya começou a enxergá-lo diferente... Primeiro percebeu que o garoto não era "magricelo e feio", e sim o mais bonito que conhecia. Depois começou a sentir medo de nunca ter nada além da amizade dele.

Porém, Giovan sentia-se atraído pela garotinha que amadurecia rapidamente, sempre mostrando-se a frente do tempo. Além das lindas curvas que não passavam despercebidas aos olhos dele, ela era muito inteligente e sagaz.

Com quatorze anos, Anya encorajou-se para declarar seus sentimentos, correndo o risco de perder o melhor amigo, e felizmente a reciprocidade se fez presente.

Eles se beijaram pela primeira vez sob uma enorme arvore próxima da cachoeira de Santa Teresa, foi também a primeira vez que ela cedeu e entrou na água cristalina da cachoeira. O lugar que desde a infância iam juntos, se tornou o cenário para os encontros românticos que sucederam nos meses seguintes até afirmarem um compromisso sério, com a autorização do pai da Anya, tudo corretamente.

Eles se amaram, se desejaram por longos e incríveis quatro anos. Sonharam e vivenciaram lindos momentos, que mais tarde se tornariam somente lembranças e saudade.

Anya completou dezoito anos e Giovan pediu sua mão em casamento.

Mas meses depois, ele partiu o coração dela e ela foi embora.

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