prólogo.

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"de pés descalços vou à caça
para encontrar o meu lugar
eu abraço a escuridão
que sempre se fez o meu lar"
monstros - jão

Louis correu.

Sem saber para onde ir, sem saber o que fazer, sem saber, até mesmo, como caminhar. Seu corpo tremia e seu peito procurava oxigênio - sua bombinha de asma longe demais para ajudá-lo, mesmo que o problema, dessa vez, não estivesse nas faltas de ar constantes do Tomlinson.

Após um tempo com sua parte inferior em completo movimento, ele parou. Olhou para todos os lados e levou sua íris para cada esquina escura, temendo encontrar algum perigo, mas aparentemente ele estava seguro.

E então sentou apressadamente no chão da rua, em busca da terra firme. Louis sentia seu corpo cair de um precipício e só precisava, pelo menos por um breve momento, sentir um plano firme em seus pés, não o abismo.

Cruzou as pernas, encolheu seu corpo o máximo que pôde e se permitiu chorar. Ele aceitava o tratamento frio, as indiretas mascaradas no único intuito de desestabilizar, aceitava até mesmo as agressões, porque ele sabia que nada aquilo dizia a respeito dele. Mas ouvir as vozes roucas, cuspindo palavras ácidas que afetavam diretamente a sua existência, doía. Doía muito e ele só sentia isso: dor. Nada de raiva ou qualquer outro sentimento semelhante à fúria existente (mas que não sabemos explicar devido à forma intensa que ele age sobre nossa epiderme). Era só dor. Ele só estava tentando se salvar. Se manter vivo.

Louis ainda tinha esperança, sabe? De que algo fosse mudar. Que os problemas seriam superados. Mas não há como superar algo que não envolve apenas a si, sozinho. Não há como lutar quando seu corpo inteiro se mexe para fazer algo, enquanto os outros deixam inatas até mesmo as peles mortas. Agora, ele se sentia um bobo.

A dor que ele estava sentindo não o deixava pensar com clareza sobre todos os sentimentos que o cercavam. Se alguém lhe perguntasse o que pulsava em seu peito, ele não saberia dizer com exatidão. Não sabia se, misturado com a dor, havia arrependimento. Provavelmente sim. Mas ele não sabia. Não agora. Louis só conseguia chorar e tentava, com muito esforço, voltar às lembranças passadas e buscar o lugar exato em que se perdeu, a ponto de não se enxergar mais.

A angústia em seu peito sufocava tanto que ele conseguia sentir mãos tapando todas as entradas de oxigênio do seu corpo. Conseguia até mesmo sentir, de longe, o cheiro dos inúmeros perfumes doces que inundavam aquele imóvel, todo o cheiro quase o fazendo vomitar.

Por mais que Louis estivesse se esforçando para pensar no ditado de que 'a dor fortalece e faz evoluir', era ridículo acreditar em tal frase. Não que alguns problemas não nos deixem mais fortes, mas era utopia de Louis acreditar que seus traumas lhe dariam bons frutos - trauma é trauma, e machuca. Mas é porque Louis não queria senti-la, então procurou um modo de escape. Ele não queria que sua corrente sanguínea fosse contaminada pela angústia. Não queria. Por isso, se desvencilhou de si mesmo e segurou, de forma desesperada, o poste de luz queimado que estava do seu lado, na esperança de que o metal absorvesse um pouco de seus sentimentos.

Deu certo. Em tese.

O metal o fez lembrar de Liam, seu melhor amigo, esse que é fascinado por joias e pelo prateado. Para Liam, o prateado é sim uma cor e é a favorita dele. Louis sempre amou encher o saco do amigo sobre isso, mas nunca parou para pesquisar sobre o assunto porque, se um dia ele descobrisse que o prateado era, definitivamente, uma cor, todo o seu mundo iria acabar: como iria viver sem um dos maiores motivos de provocações dos dois?

E Louis esboçou um sorriso ao lembrar da risada de Liam. Do abraço dele e de todas as vezes que fugiu para sua casa. Isso acontecia constantemente porque era fácil se esconder em Liam - tudo nele exalava respeito e compaixão. Ele sempre estava lá, mas nunca buscava saber o que havia levado Louis ao seu encontro. Ele estava disponível para ouvir, acabava sabendo de todos os acontecimentos porque Louis sempre contava, mas Liam nunca foi o primeiro a falar, sabe? Seus olhos cor de mel tinham todas as respostas que Louis precisava e ele sabia que estava seguro com o amigo.

crisálida. {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora