Capítulo 4

42 6 5
                                    

- Mas não precisa ficar sem graça - ele diz rindo - estamos muito bem, o pior já passou.

- Me desculpa - digo ainda sem graça.

- Não tem com o que se desculpa Yasmin, você não tem culpa de nada.

- É, mas a situação ficou desconfortável - digo rindo sem graça.

- Besteira, gostei muito de você e pelo visto Fred gostou mais ainda, que bom que a gente se encontrou - ele diz sorrindo.

E que sorriso!

- Você é solteira? - ele continua.

-Sou e você? - percebo o que eu perguntei e acabamos rindo - que cabeça de vento a minha!

- Minha mulher era tudo pra mim e pro Fred, a gente não tem procurado alguém pra ocupar o vazio espaço que ela deixou.

- Entendo, é complicado - digo olhando as ondas chegando até a areia - como ela se foi?

- A mãe do Fred assim como eu era da polícia, então em um confronto no complexo do alemão ela foi morta.

Ele diz e meu corpo todo gela. Tava bom demais pra ser verdade.

Um policial?

-Tomas eu tenho que ir, lembrei que tenho compromisso daqui a pouco - falo me levantando um pouco atordoada.

E ele ficou me olhando sem entender nada.

-Você quer que eu te deixe em casa? Tô de carro, ele não tá muito longe daqui - ele diz apontando para o estacionamento.

Quase caí para trás! Imagina, um policial entrando comigo na favela?!

-Não precisa Tomas, pego um táxi, não moro muito longe daqui - minto indo atrás da minha moto.

Me levanto depressa, despejo um beijo no Fred e vou saindo quase correndo.

Imagina se ele sonha que eu vendo drogas? Que sou a porra de um aviãozinho. Isso só confirma o quanto eu tenho que sair dessa vida.

Espero nunca mais na minha vida me bater com ele, e tenho certeza que isso irá acontecer.

***

Levanto da cama sonolenta com meu celular tocando  freneticamente. Depois que cheguei em casa, apaguei totalmente. Procuro meu celular na minha bolsa e olho na tela o nome do diabo.

-Fala Augusto - digo suspirando.

-A princesa esqueceu que trabalha foi? A vida de rainha é bancada como?

-Vai se fuder, daqui a pouco tô colando aí, esqueci desse inferno não.

Dito isso, desligo o celular e jogo na cama. Cansada dessa vida de tráfico, bandido, drogas, morte. Não sei onde eu estava com a cabeça de entrar nessa vida.

Só podia está louca, sem um pingo de maturidade sobre a vida e sobre a realidade da vida do tráfico.

Eu não tenho ideia do que eu vou fazer para sair dessa, Lipe não vai me liberar e ainda tava conversando com um tira hoje, parece que o perigo corre em minhas veias, ce tá doido.

Pego meu celular, a chave da moto e a chave de casa, saio trancando tudo e indo em direção a moto. Vejo umas crianças brincando na rua.

Sempre quis ter filhos, nunca imaginei isso de família perfeita, pai, mãe, tudo juntinho bonitinho, não faz parte da minha realidade, mas sempre quis ter uma menina, Maria Madalena, o nome mais bonito que eu acho na vida.

Um dia eu irei realizar esse desejo, não sei com quem, mais irei.

Dou partida na moto e saio andando tranquilamente pelos becos dos morros, todos ali me conheciam, conheciam minha história, minha mãe, e o tráfico.

Chego na boca e tá cheio de noia lá comprando droga da pesada, um monte de mauricinho que não aguenta nem um Back de maconha mas quer tirar onda de usuário.

Não sei o que da na mente desses moleque que tem dinheiro e acha que essa vida de droga é maneira, style.

Entro na casinha onde está Felipe e Augusto.

-O que tem pra mim hoje? - digo com cara de poucos amigos.

- O mesmo de todos os dias, nada diferente hoje - Guto responde.

- Belé - pego as "entregas" e saio.

Eu como sou mulher, bonita (não me gabando), não dou pinta de traficante, então é mais fácil pra traficar fora do morro, por isso Felipe não me deixa sair.

Eu levo para os mauricinhos que não tem coragem de subir no morro. Vou até suas mansões, apartamentos, faculdades entrar a porra da droga deles, é foda, mas é um trabalho "fácil" e que dá muito dinheiro, foi isso que me deslumbrou.

***
Chego até a casa da Poliana, sim, uma menina de 19 anos que é viciada em maconha, já conversamos muito e ela diz que consegue parar quando quer (papo de todo drogado) porém ela é viciada na erva, todo santo dia consome, escondido dos pais.

-E aí Polly - digo tirando o capacete - o pacote da felicidade chegou.

-Demorou ein Yá - ela diz rindo - tava achando que ia ficar sem meu beck hoje.

-Jamais, tu é cliente fiel - entrego a ela e ela me dá o dinheiro.

-Tchau Yá, até amanhã - ela diz acenando e entrando em casa.

Uma mansão imensa, parecendo daqueles filme sabe? em bairro nobre do Rio de Janeiro. Tem tudo que quer a guria, mas é viciada na erva.

Coloco meu capacete e vou até a minha próxima entrega que não fica muito longe dali. Ando tranquilamente nas avenidas do Rio, o vento batendo na minha cara me passa tanta tranquilidade, é como se eu fosse livre pra voar feito um passarinho.

Quando estou chegando perto da casa do Yuri, vejo uma blitz.

-Pqp, não cara.

Não tem como voltar e é blitz de moto e da polícia. Eu tô muito fudida, cheia de maconha e cocaina na mão, no mínimo é uns 5 anos de cana aí, Felipe não vai ligar pra me tirar da cadeia.

Vou andando bem devagar, rezando para não me pararem.

- Encosta ali e me mostra o documento - o policial manda.

Encosto a moto calmamente e pego minha CNH e o documento e entrego a ele. Ele olha tudo atentamente e me devolve.

-Deixa eu ver a mochila - pqp meu corpo todo gela.

-Yasmin? - vejo Tomas caminhar até a mim e meu corpo se tava gelado, agora tá -0 graus.

-Oi Tomas - digo com um sorriso fraco e nervoso.

- Pode liberar aqui Wendel - ele diz pro amigo de farda.

Suspiro fundo e solto o ar que nem sabia que tinha prendido.

YáOnde as histórias ganham vida. Descobre agora