Capitulo 5

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Fui salva pelo Tomas, o salvador da pátria. Espero que ele mesmo não me revista.

- E aí Yasmin - ele diz sorrindo.

E que sorriso.

- Oi Tomas - retribuo com um sorriso nervoso - então posso ir?

- Pode sim.

Arrumei minha mochila nas costas novamente e subi na moto e Tomas me assistindo.

- Me passa teu numero pra a gente trocar uma ideia - ele diz apontando o celular pra mim.

Olho pro celular por alguns segundos e o pego anotando meu numero e devolvo pro mesmo.

- Me da um oi no WhatsApp - digo colocando o capacete.

- Tá bom.

Saio dando ré na moto e aceno pra ele saindo dali. Nunca agradeci tanto por conhecer um tira, ave-maria, ali eu ia cair bonito no xilindró.

Continuo fazendo minhas entregas até o sol se pôr. Quando começa a escurecer é o horário que eu tô chegando na boca para entregar o dinheiro do dia pra a "contabilidade" vulgo Guto.

Entro na casinha da boca e Guto tá sozinho bolando um cigarro de maconha.

- Aí do dia - jogo o dinheiro na mesinha - fé aí.

- Aí gata, tô morrendo de saudades - ele diz se levantando até a mim.

- Vai comer outra Augusto, não fode - digo estressada.

- Qual foi Yá? Qual é o outro?

Minha mente voa até Tomas.

- Não tem outro Augusto, eu simplesmente perdi qualquer vestígio de interesse em tu.

Saio da casinha batendo a porta. Olho pro meu celular e tem uma mensagem de um contato não salvo, abro meu WhatsApp

Número desconhecido as 18:03: Oi Yasmin, é o Tomas.

Bloqueio o celular novamente e coloco no bolso. Subindo na moto, em três minutos chego em casa e encontro minha mãe no sofá sentada assistindo o jornal.

- E aí mãe - dou um beijo na testa dela.

- Oi minha filha - ela sorri fraco pra mim.

Mamãe odeia me ver chegando dessa vida suja que eu levo, pra ela nunca existiu necessidade disso e é verdade.

Vou para meu quarto e separo um pijama confortável, tomo um banho bem quente para relaxar o corpo tenso ainda da abordagem de mais cedo e novamente minha mente voa até Tomas.

Desligo o registro do chuveiro e me enrolo no roupão, busco meu celular no bolso e mando uma mensagem para Tomas e adicionando ele.

Yá as 18:45: Oi Tomas, número salvo! Cadê o Fred?

Tomas as 18:45: Está aqui, perguntou por você esses dias e olhe que o Fred nunca lembra das pessoas, mas você marcou a gente.

Yá 18:46: Vamos marcar uma pizza para eu conhecer mais o Fred.

Praguejo muito depois desse convite, não posso me envolver com um policial levando a vida que eu levo. Meu celular apita anunciando uma nova mensagem.

Tomas as 18:48: Oba! Vamos sim, o Fred vai amar. Pode ser no sábado as 19h? Pizzaria ali no Leblon, a pizza de lá é ótima.

Yá as 18:48: Marcado então, até sábado, beijos!

Jogo o celular em qualquer canto e vou caçar uma calcinha para vestir, visto meu pijama e regresso para a sala.

Deito no colo da minha mãe e ela começa a fazer cafuné nos meus cabelos, fecho os olhos e sinto a tranquilidade.

***
O sábado chegou voando, e com ele meu arrependimento de ter feito o convite para o Tomás. Me encontro jogando todas as roupas em cima da cama afim de encontrar algo que preste pra vestir.

Não queria ir porém estou ansiosa e nervosa. É estranho, nunca senti nada parecido antes.

Hoje a venda na boca foi uma correria, dia de sábado, muitas vendas, muitas festas, consequentemente muitas entregas. E pra fora da favela, só eu mesma pra entregar, porque o resto dos meninos tem tudo ficha suja.

E eu me encontro querendo viver perigosamente me envolvendo com um policial. Querendo não, a gente só é amigos e eu nunca vou deixar passar disso.

Se algum dia ele descobrir o que eu faço, eu sei que ele não vai pensar duas vezes antes de me entregar facilmente, ainda vou virar x9 na favela, porque ninguém vai acreditar que eu não passei informação alguma.

Pego um vestido longo florido e solto, visto um conjunto de lingerie preta rendada, passo hidratante corporal e visto meu lindo vestido longo, que não combina nada com meu jeito de vestir, porém estou começando a me moldar.

Não quero ser mais a Ya favelada que vende drogas fora do morro.

Ainda tive que implorar pro Felipe me liberar hoje do baile, dando uma desculpa esfarrapada que eu estava super cansada, por que hoje realmente teve muitas entregas.

Enfim solto meu cabelo que está em um coque, e passo o dedo entre eles, passo meu perfume 212 rosé, sou suspeita a falar, mas sou muito cheirosa, não gosto muito de maquiagem, mas capricho no meu cheiro marcante.

Peço um táxi, que obviamente não vou de moto para um restaurante e de vestido longo né.

Chego em vinte minutos no restaurante e de longe avisto aquelas duas coisas lindas, tanto o pai, quanto o filho. Chego sorrindo perto deles e o Fred sorri sapeca pra mim.

Dou um beijo na bochecha dele.

-Você está lindo Fred, um homenzinho - digo dando outro beijo na testa dele.

-Você está muito cheirosa - diz sincero.

-Obrigada. Oi Tomas - ele se levanta e me dá um abraço.

-Oi Yasmin, o Fred tava ansioso para hoje.

-Mentira tia Yasmin, ele que não parava de falar de você - ele diz sorrindo.

O pai fica vermelho feito tomate. Acabo rindo.

-Eu também estava ansiosa para ver vocês - digo sincera.

-Vamos fazer os pedidos? - Tomas diz ainda sem graça pela fala do seu filho.

Fizemos o pedido e começamos a embalar uma conversa divertida e engraçada. Fred fazia minha barriga doer de rir, de tanta coisa que ele contava do pai, apesar de ser muito pequeno, o menino era muito inteligente.

E só por essas horas eu me senti uma pessoa normal, feliz e com pessoas boas e que me fazem rir ao meu lado, queria que fosse pra sempre isso.

Pena que é só um sonho.

YáWhere stories live. Discover now