Capitulo 1

324 19 3
                                    

Bom hoje começo a dividir com você a história de merda que é a minha vida. Meu nome é Yasmin Ribeiro. Mas todo mundo aqui na favela me conhece pelo meu vulgo: Yá.

Sou aviãozinho aqui, muito bonitinha, não dou pinta de nada, vendo dentro e fora da favela, ficha limpa. Nunca matei ninguém, não acho certo. Não que eu ache certo vender droga também.

Mas uma coisa bem certa eu te digo, todo mundo tá nessa vida do crime porque quer. Ninguém obriga ninguém, ninguém mete uma arma na cara. Tudo tem um jeito, uma saída. Se envolve porque o dinheiro vem fácil, o dinheiro sujo te corrompe.

Agora batalho diariamente pra sair dessa vida, quero ter meus moleque, e não quero mais morar aqui na rocinha. É tudo muito louco, é arriscado, viver correndo perigo. Eu amo essa adrenalina, é bem louca.

Ah, esqueci de falar. Eu não fumo, nem cheiro nem nada. Só gosto do dinheiro mesmo, me evoluiu financeiramente, por conta que não dou pinta sou eu que vendo mais aqui. Nenhum aviãozinho consegue chegar ao meu patamar de venda.

Eu namoro com o Guto, gerente da boca. A gente vive um bagulho muito louco, é sério nosso relacionamento, mas ao mesmo tempo nenhum dos dois leva sério. Eu curto com outras pessoas e o Guto também se é que me entendem.

Guto é o típico traficante favelado magrelo, alto, mas gostoso, ele é branco, me deixa louca. Mas não me prendo a homem não, tenho ele no meu pé porque a gente cresceu junto, não sei bem o que sinto por ele, mas sei que não é amor.

O dono daqui da favela é o Felipe, ele namora com minha melhor amiga, a Catherine. A gente tudo foi criado junto desde moleque. A Cathê não se envolve com nada, mas o perigo anda colado com ela já que ela namora o chefão da Rocinha.

Moro com minha coroa, numa casa confortável e humilde, não vou ser hipócrita de dizer que entrei nessa vida por causa dela. Não foi. Entrei porque sou descarada mesmo.

Mas quero sair, me reinventar. Mas quem entra no crime só sai morta ou presa. Eu não queria perder nem minha vida e nem ir pra aquele lugar lá.

- Aí Yá tá viajando? De hoje que falo com tu - a Cathê fala me trazendo de volta do mundo da lua.

- Foi mal, tava pensando com meus botões - digo rindo.

- Você é muito maluca garota. Sim e aí vai pro baile hoje comigo? - ela diz fazendo beicinho - tenho que tá lá o Lipe mandou eu ir com ele.

- Felipe não me libera de baile Catherine você bem sabe, então vou está lá de qualquer jeito - digo revirando os olhos.

Baile é altamente lucrativo pra Felipe, ele não me libera de nenhum. Mas óbvio que curto muito nos bailes, Dona Luciana - minha mãe - fica doida. Ela quer muito que eu saia dessa vida.

- É maior barra isso né? Mas eu te avisei pra não entrar pra essa onda - Cathê diz evitando contato visual.

Ela sabe que eu odeio esse assunto.

- Qual é Cathê você não tá tão diferente de mim não, namorando com o comandante da rocinha. Tua casa cai se tu tiver com ele no momento que acontecer qualquer situação. Corre mais risco que eu pô.

- Vira essa boca pra lá. E aí cadê o Guto?

- Deve tá comendo outra vadia por aí. Cheia de ódio da cara do Augusto.

- Tá chamando ele pelo nome, deve está mesmo. O que ele fez?

- A gente não dá certo você sabe, insiste em algo que é loucura. A gente não se ama, só se come as vezes e sai traindo um ao outro. É doentio!

- Você que escolheu viver assim, se bem que eu não vivo diferente. O Lipe tem várias amantes.

- Mas ele é o chefe, você sabe que chefe de favela é assim, muita droga, bebida e mulheres. Você ainda teve sorte de ele te assumir como fiel.

- Eu gosto muito do Felipe, Yá. Queria que ele saísse dessa vida. Pra gente ter uma pá de guri e criar fora dessa favela. Mas Felipe é doentio pelo crime.

- Eu que sou eu, não consigo sair. A adrenalina tá na veia Cathê, é complicado. E também...

- O Lipe nunca ia te deixar sair - ela completa.

- Exatamente - suspiro - o Felipe nunca ia me deixar sair - repito.

- Queria poder te ajudar amiga.

- Relaxa, Deus tem um plano pra mim Cathê. Uma hora ou outra tudo se resolve, to nova ainda pô - digo rindo - tem uma pá de coisa pra acontecer ainda na minha vida, cê vai ver.

Cathê sorri e não me diz nada. Ficamos em silêncio sentadas no banco da pracinha olhando o movimento. Vejo Guto subindo com Filipe e JP com uma fuzil cada um.

- E aí morena - ele vem na minha direção e me dá um selinho - tá de bobeira?

- To sussa Guto, por onde tu andou? Nunca mais te vi, nem parece que a gente namora.

- Não vem querer por coleira em mim Yá, apareço quando da. Tava ocupado demais na biqueira.

- Engraçado - digo rindo com ironia - não te vi lá também, ou esqueceu que eu ando no mesmo meio que você idiota?

Felipe e JP estava parado um pouco longe da gente, mas dava pra ouvir nossa conversa.

- Vai embora da minha vida Guto, de uma vez. Já mandei você ralar, não to mais afim. To afim de outro já, você fica pegando essas vagabundas aqui do morro, eu faço o mesmo.

Em um momento rápido Guto me pegou pelo pescoço. Idiota!

- Me solta seu idiota - estava me sufocando.

- Solta ela Guto - Felipe tentava puxar ele sem conseguir.

Felipe da dois tiro pra cima e Guto se assusta me soltando.

- Você é um imbecil Augusto! Toma no cu idiota - digo entredentes.

YáWhere stories live. Discover now