1 Capítulo

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Fazem dois dias que estou com Peter na cidade, ele fez questão de pagar um hotel para passarmos a noite depois que minha irmã disse que eu precisava dar um tempo aos nossos pais, para me aceitarem em casa novamente. Eu não entendi, mas concordei. Porém, agora preciso vê-los, já que Frida está com Matthew.

Preciso ir para casa e principalmente acabar com essa birra que há entre nós. Eu os amo, amo tanto, que dói saber que não é reciproco, isso magoa.

Limpo uma lágrima solitária, me levantando da cadeira onde estava tomando meu café na varandinha do hotel. Esse lugar é um luxo, meu amigo tem muito dinheiro pelo que parece e um passado ao qual não me diz nada.  Peter tem uma vida mais do que boa e um segredo ao qual não me contou até hoje, mas eu não fico chateada por isso, dou tempo ao tempo. 

— Preciso ir ver o Matthew e conversar com meus pais. — Digo decidida pegando a minha bolsa.

Ele me encara fazendo um bico e aperta minha bochecha, me fazendo sorrir.

— Quer que eu vá com você? — Pergunta meigo e eu aceno que não. — Tem certeza? Porque eu sei muito bem que vocês vão acabar caindo no pau e isso não vale seu esforço, baby. 

Coloco minhas mãos nas dele e o abraço, me balançando de um lado para o outro. E desta vez sou eu quem aperto a bochecha dele.

— Eu tenho total certeza, eu preciso dar um jeito na minha vida e resolver isso, mas obrigada. Eu te amo. — Aumento a voz no final da frase, dando um beijo em seu rosto.

— Só você, você é única mulher que eu deixo encostar os lábios no meu rosto. — Grita me fazendo rir, quando passo pela porta. — E eu amo você também.

Não sou perfeita, mas não me sinto menos que perfeita. Sempre fiquei, mas nunca me apeguei. Faço tudo o que me dá na telha, sem ao menos me dar conta que passei dos limites me fazendo dizer ''ops'' para mim mesma. Penso o contrário da sociedade que me põe limites, dizendo um grande foda-se para os idiotas de plantão, que me acham uma completa vadia.

Cansei de me preocupar com as críticas das pessoas, saindo de uma bolha criada pelo meus pais e pela minha insegurança. Não devo me importar com o julgamento dos seres humanos, pois fazendo o certo e o errado, eles estão por todo o lado. Não se importam com os meus genes, nem com o meu jeito, só sabem me criticar, sem ao menos me dar uma chance de mostrar que sou capaz, que Angeline Rech não é apenas uma garota de programa que tem um passado de merda e uma cicatriz enorme no peito e na alma, que transborda diversão e vulgaridade como eles dizem.

Eu tentei, eu juro pelo que é mais sagrado que tentei, me comportava. Queria que eles tivessem orgulho de mim, era uma boa irmã e uma ótima filha, mas isso era só eu quem via e até hoje me pergunto qual é o meu problema, o que eles vêem em mim. Uma filha defeituosa que merece o desprezo, que precisa fazer de tudo desde a adolescência para chamar a atenção. 

Drama, era isso que meu subconsciente gritava, mas não, eu nao sou dramática.

Eu entendi que eles não se importam comigo, que preferem me ver passando fome e humilhação do que ter que me ajudar. Foi um milagre eles terem ficado com Matthew esse dois dias, porém tenho o pressentimento de que fazem isso apenas para terem a oportunidade de me afrontarem, assim como estão fazendo agora. Da mesma maneira que me humilharão quando eu contar que minha madrinha me ofereceu um emprego na cidade de Munique. 

— Aonde estava esse tempo todo? — Pergunta minha mãe ríspida.

— Correndo atrás da comida do meu filho, coisa que uma mãe faz pelo filho que ama quando os avós não estão nem aí.

Olhei para meu pai com a boca seca e me sentindo mal, por notar que mesmo depois de um ano e meio sem me verem, eles não me tratam bem, não estão felizes em me ver e que nem ao menos se passa pela cabeça deles pedirem perdão pelo que fizeram comigo.

Um pedaço do seu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora