7 Capítulo

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Cada menina daquela casa tinha sua história, nem todas estavam ali porque queriam, mas porque precisavam. Eu sempre conversava com as garotas novas que chegavam achando que aquele lugar era um parque de diversão, tendo pai e mãe que os ama e que fazem de tudo para vê-las bem e mesmo assim elas queriam trocar todo o amor de sua família por uma decadência.

Raika era a garota mais nova da casa, ela tinha dezoito e eu dezenove, erámos bem próxima. Raika tinha tudo que eu almejava ter, pais que a amava. Eles não eram ricos, mas tinha um carinho enorme por ela e davam tudo que podiam. Cheguei a ir uma vez em sua casa me passando por amiga de cursinho, ela mentia para eles dizendo que estava estudando anoite e acaba chegando tarde. Ela gastava todo o dinheiro do cursinho com roupas e aquilo me incomodava, mas eu não dizia nada e esse foi meu erro.

Franzo o cenho ao me lembra de quando eles fizeram biscoitos pra gente em forma de bichinhos, Raika ficou furiosa.

- Olha o que fiz para vocês, espero que goste Angeline. - Disse sua mãe Dona Mayla que era um amor de mulher.

Ela deixou na mesa um prato com vários biscoito de bichinhos fofo, mas não cheguei nem a provar quando Raika derrubou tudo no chão deixando eles incrédulos e eu com raiva.

- Eu já sou de maior será que vocês não enxergam isso? Vivem querendo me mimar com biscoitos e bolo, e eu já estou de saco cheio. - Grita ela se levantando.

- Eu não quero essa merda, parem de me trata como se eu fosse uma criança, eu não me contento com um cursinho e uma mesadinha, eu quero mais e vocês não podem me dar o que quero. - Raika saiu batendo a porta e meu coração se quebrou ao meio ao ver sua mãe chorando e seu pai tentando consolar sua esposa.

- A gente sempre fez de tudo por ela, o que esta acontecendo com a nossa filha Albert?

Me aproximei deles me ajoelhando diante da mulher que chorava em soluços.

- A culpa não é de vocês, vocês são os melhores pais do mundo, é ela que não merece vocês.

- Vou conversa com ela. - Digo beijando as mãos de ambos.

Eu conversei com ela sobre minha vida e sobre seus pais, dei conselhos, mas ela não quis me escutar e no final acabamos brigando feio. Eu sempre me preocupava com ela, mas não podia fazer muita coisa, até porque Raika havia saindo da casa, estava em uma outra casa de programa, e eu sabia que ela havia se afastado por causa de mim quando ameacei conta a verdade para seus pais, mas era só uma ameaça eu não teria coragem de dizer a eles que sua única menina é uma garota de programa, uma prostituta.

A noticia mais triste que recebi da vida foi depois de uma semana quando um colega nosso em comum veio até mim dizendo que Raika foi assassinada dentro da casa noturna por um cara que ela rejeitou fazer programa. Ela havia sido esquartejada, no dia seguinte a Alemanha toda já sabia e no enterro eu nem conseguia me aproxima de seus pais.

Eu não sei o que mais eu poderia ter feito, mas mesmo assim lá no fundo eu me sentia culpada.

Nunca tive realmente uma oportunidade, quer dizer todos tem uma oportunidade, eu só era preguiçosa para correr atrás e lutar por ela. Diziam que para mim as coisas eram mais fáceis por eu ser muito bonita, mas isso é tudo uma mentira, as coisas ficam fáceis quando você tem grana ou você é muito inteligente e determinada não por beleza. Eu até sou determinada, mas minha rebeldia e revolta me deixou cega.

Eu tinha quinze anos e Frida dezesseis quando fizemos uma prova para uma bolsa de um cursinho que queríamos muito, ela faria Inglês, e eu faria gastronomia. Estudamos por três meses para esse dia, eu não sabia ler muito bem nem escrever muito bem, não melhor que minha irmã que é um nível mais elevado de conhecimento que eu, mas eu peguei firme nos estudos. Pedia Frida para me ajudar, mas ela cismou que eu seria uma concorrente para ela por ter poucas vagas para a bolsa e eu nem iria cursa a mesma coisa que ela. Não me importei com isso, fui na biblioteca mais próxima de casa e estudava até o anoitecer.

Um pedaço do seu coraçãoWhere stories live. Discover now