2. Gato e Rato

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Ela estava no túnel outra vez, o caminho estava escuro e conseguia sentir a presença de alguém andando atrás de si, e por mais que andasse o túnel não parecia ter fim. Correr e respirar era difícil e conseguia sentir o homem perto de si. Não lembrava de ser tão longo assim, ela precisava sair rápido, mas a cada passo que dava mais difícil ficava de respirar. Até que ela se deu conta do porque o túnel era tão longo, ela não estava saindo do lugar, e o ar estava pouco por tinham mãos em seu pescoço. As mãos eram longas e estavam cobertas por luvas cirúrgicas, seus pés não tocavam o chão e por mais que tentasse tirar aquelas mãos do seu pescoço mais forte ela apertava. Haneul conseguiu ver o rosto do dono daquelas mãos, seus olhos eram negros e...

O despertador de Haneul tocou e quase a fez cair da cama.  Ainda estava escuro e por mais que tivesse dormido as horas que costumava, tudo que passada em junção com uma noite mal dormida a tinha deixado completamente esgotada. Foi preciso muita força para que ela se levantasse da cama e rastejasse até o chuveiro.
Vestiu um moletom azul marinho de capuz e uma calça de veludo preta, estava afim de passar despercebida por todos durante todo o dia. Antes de sair, abriu um pouco a janela para que Haru pudesse sair quando precisasse e encheu os potinhos dele com água e ração. O gato olhou para sua dona como se tivesse afirmando os seus pensamentos de que não estava bem. Ela alisou o pelo do felino, pegou sua bolsa e saiu, um frigorífico extremamente frio a esperava.
Para ir ao seu trabalho, teria que passar pela cena do crime, sentiu um frio na barriga ao se dar conta disso. De longe viu que uma viatura da polícia ainda estava por lá, o túnel havia sido interditado. Colocou o capuz na cabeça, e apressou o passo, no fundo ela sabia que não tinha como ela ser pega, o homem que a ajudara tinha sido bem meticuloso em cuidar de tudo para que não chegassem a ela, mas estar tão próxima da cena do crime novamente a deixa ansiosa.
Só se sentiu aliviada quando chegou no frigorífico.

− Bom dia, Haneul.

− Bom dia, senhor Kwang.

− Acabaram de chegar peças frescas, já estão na câmara esperando por você.

Haneul concordou com a cabeça, não era de muita conversa, e hoje estava ainda mais quieta. Tudo que havia acontecido estava muito vivo em sua mente, e por vezes o pedaço de carne desaparecia de sua mão e dava lugar a cena da noite anterior.

− Merda! – Haneul gritou, ao ser despertada por uma dor aguda na mão esquerda. – não soube explicar como, mas a faca havia escorregado e furado a luva na lateral da sua mão, isso foi o que impediu do corte ser mais fundo, mas ainda assim, uma linha fina de sangue escorria pelo seu braço.

− O que houve? – o senhor Kwang havia aparecido ao ouvir o grito da garota.

− Eu me distraí e me cortei, não é nada grave. – Haneul já foi dando as costas em direção a pia. A luva estava encharcada, e ela ficou vários minutos com a mão embaixo d’agua.

− Você não quer ir no hospital? Talvez seja necessário levar alguns pontos, você está sangrando bastante.

− Não, não eu só preciso lavar mais um pouco.

− Vou pegar um pano limpo para você.

Quando o dono do frigorífico voltou, Haneul agradeceu o pano e envolveu a sua mão. Por mais que o senhor a tivesse liberado mais cedo, a jovem voltou para finalizar a última peça que faltava cortar naquele dia. Ao sair, o pano já estava manchado de sangue, precisava de um curativo descente.
Comprou os materiais necessários para cuidar da sua mão, e olhou para o relógio, o farmacêutico disse que não precisaria de pontos se não quisesse, mas que demoraria mais para cicatrizar. Ainda tinha algumas horas restantes até o horário do seu segundo emprego, então resolveu voltar para a universidade, que seria mais perto de ir para a loja de ervas depois. Chegou em seu quarto e seu fiel companheiro não estava lá, colocou as coisas na sua pequena mesa de estudo e foi limpar a mão outra vez, colocou um produto antisséptico, reclamou um pouco ao sentir arder o machucado. Ainda doía quando ela cobriu com uma gaze e envolveu a mão numa atadura, precisaria de um bom tempo até cicatrizar perfeitamente.
Aproveitou enquanto tinha direito para almoçar no restaurante da universidade, precisava economizar, agora mais do que nunca. Passando pelo mural procurou anúncios de pensões e casas para dividir o aluguel, era bem comum já que os moradores do dormitório viviam mudando. Pegou uma quantidade considerável de folhetos que olharia com calma depois, e assim que deu o primeiro passo, viu outro folheto que lhe chamou atenção.
Era de um simpósio de odontologia que aconteceria nessa semana, esses eventos eram bons para ter contatos, seria uma boa forma de tentar conseguir um emprego em alguma clínica, mas havia um outro motivo para que Haneul comparecesse. A frase veio na sua mente “Apenas vim dar uma palestra a pedido de um sênior.”
Aquilo não tinha sido um encontro normal, e talvez por não ter se apresentado ou agradecido como deveria, boa parte dos pensamentos de Haneul levavam a ele. Estava curiosa, queria saber mais sobre o homem que a ajudou, uma coisa ela podia ter certeza: ele não era uma pessoa comum. Guardou o folheto na bolsa, e agradeceu que a maioria das palestras aconteceriam a noite, assim ela teria como vê-las.

Strangers from... Heaven?Onde histórias criam vida. Descubra agora