Capítulo 9

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Abrir o olho foi difícil, mas significava que eu não estava morta. Novamente eu não estava morta. Estava começando a entender a frustração do Apollyon comigo. Pensar nisso fez com que eu desse uma pequena risada. 

Eu sabia que o Rafael estava ali, tinha aprendido a distinguir a presença dele. Eu não sabia quanto tempo eu fiquei desacordada. O quarto estava escuro, as cortinas fechadas e eu tinha uma certa dificuldade em distinguir se era dia ou noite. Olhei para o lado e vi que ele lia alguma coisa. 

Quando ele percebeu que eu havia acordado ele deu um sorriso um pouco tímido. "O sorriso dele é muito bonito, pena que ele não sorri muito". Foi a primeira coisa que eu pensei enquanto retribuía o sorriso. 

– Finalmente acordou – ele falou vindo em direção a minha cama.

Notei que eu estava com uma roupa confortável e limpa. Todos os ferimentos tinham sido cuidados. O do braço havia sumido completamente, junto com o pequeno corte do rosto que eu tinha sofrido por conta do Rafael. Pensando bem, não havia sinal do corte no rosto dele também, mas eu ainda sentia uma dor terrível nos ferimentos da barriga e das costas. Talvez não tivesse passado tempo suficiente para que eu pudesse me curar totalmente. 

– Como você se sente? – ele me perguntou enquanto se sentava no canto da cama.

– Como se tivesse sido atropelada por um trator – Ri baixinho – Tenho uma pergunta. 

– Qual?

– Por que você me deu seu sangue?

– Hannah... eu... fiquei com muito medo de te perder – ele falou de uma maneira tímida e sem responder minha pergunta, mas eu imaginava que aquilo de certa maneira me ajudaria na cura. 

– Você estaria se livrando de um fardo – disse sorrindo ainda mais com a repentina declaração dele. 

– Não fala uma coisa dessas...

– Rafael – eu disse agora ficando um pouco mais séria – Você não imagina o como eu fico feliz em saber isso. Mas eu preciso que você me dê autorização para ir embora.

– O que? Por quê?

– Se eu ficar, vou colocar você e todos em perigo de novo. Como iríamos esconder nossa ligação? Vão te usar para me machucar e eu não suportaria isso. Você precisa me deixar ir. 

– E a porta selada? 

– Vou deixar instruções pra Lucy.

– Então você está pensando em deixar ela para trás também?

– Vai ser melhor assim, estão atrás de mim e não dela. Ela ficar comigo só a coloca em um risco desnecessário. 

– Isso está fora de questão. Não te deixo ir – ele disse deixando a voz firme – E aproveitando tive que arrumar mais dois quartos graças a seu pequeno espetáculo da semana passada.

– Semana passada? – eu arregalei o olho – Eu dormi esse tempo todo?

– É melhor você descansar um pouco mais e levantar quando tiver bem o suficiente, acho que ele está muito bravo com você e na verdade, todos estão um pouco surpresos por assim dizer... Um Incubus? Você poderia ter falado o que ele era.

– Sinto muito Rafael, mas acho que não teria feito diferença nenhuma falar isso.

– Isso é o que você acha, e esse é um grande problema, você tende a levar em conta somente a sua opinião – ele realmente estava zangado agora.

– Rafael, pensa bem... sua vida vai voltar ao normal... Me deixa ir.

– Já disse que não! – dessa vez ele gritou e se levantou – Não quero mais ter essa conversa com você – ele disse indo em direção a porta.

– Espera! Você não pode fazer isso – eu disse me levantando da cama também e tentando ir até a porta. 

Cheguei até a porta com dificuldade por toda a dor que eu sentia. Olhei ele se afastando pelo corredor e gritei: 

– Você não pode fazer isso! Não sou criança! – o desespero e a raiva na minha voz eram nítidos.

– Não, você não é criança – ele parou e virou me olhando – Mas é tão imprudente quanto uma. 

Novamente ele se virou e voltou a andar. E eu em um acesso de raiva bati a porta do quarto e voltei para a cama. 

"Quem ele pensa que é pra me deixar presa?"

Fiquei remoendo a raiva até que dormi de novo.

Experimento 42Onde histórias criam vida. Descubra agora