Capítulo 30

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Olhei fixamente para onde o meu pai estava lutando e cheguei rapidamente ao local. Ele teve uma reação rápida para esquivar meu golpe com o meu punhal. O mesmo punhal que eu havia recebido dele, mas foi por pouco que ele se esquivou, vi que se formava um corte que levava do canto do nariz até a orelha direita. Ele rapidamente se colocou para trás.

– Oh querida, tentou matar seu próprio pai? Isso realmente fere meus sentimentos – ele disse me olhando. 

Eu não estava com ânimos e nem pique para responder as provocações. Meu olhar continuava injetado em sangue e o ódio saía por cada poro do meu corpo.

– Já vi que você não quer conversar, não? Mas fico feliz que você sabe ativar a pedra calculus albus. Você sabe que foi uma grande descoberta, certo meu amor? Não doem as estacas na sua coluna?

Eu não fazia ideia do que ele estava falando, mas sabia que a pedra que eu havia criado tinha um poder curativo muito grande, então imaginei que fosse por eu estar de pé mesmo estando fatalmente ferida. 

– Sua voz me irrita, talvez eu devesse ter te matado junto com a mãe. Seria um lindo funeral para os piores pais do mundo. 

– Sua mãe te amava! – Ele se alterou, falar dela devia ser doloroso para ele, mas ao mesmo tempo, eu pensava que isso não era possível, ele não era capaz de amar ninguém. 

– Sério? Acho que eu realmente vi algo de surpresa no olhar dela quando ela percebeu que quem a estava matando era eu.

Ele finalmente parou de falar e lançou água através do selo na minha direção, mas tive um bom reflexo ativando o selo Vegvisir para me defender. Minha expressão não mudou com o ataque dele e acho que isso o fez ver que eu realmente tinha a intenção de matá-lo. 

– Eu esperava que algum dia você entendesse o quanto eu te amo, mas acho que isso não vai acontecer – ele parecia ter algum pesar na voz – Que assim seja então. 

Ele se colocou em posição de luta, vi na expressão dele que ele levaria aquilo a sério a partir daquele momento. 

Olhei para o Apollyon e indiquei que atacássemos juntos no começo e que depois eu iria tentar abrir o selo. Eu precisava me concentrar para o selo Valknut, mas não tinha nenhuma regra que dizia que eu teria que ficar parada. Talvez só demorasse um pouco mais para ativá-lo.

Lutamos com afinco, usei todos os selos que eu tinha em mãos no momento. Ele tinha muitos mais e me esquivar era sempre difícil. Eu já estava extremamente machucada e mesmo o Apollyon não tinha mais tanta força para seguir. Ele não conseguia atingir meu pai com a foice de nenhuma maneira. 

Depois de um tempo de luta e com o meu corpo esgotado eu consegui. Abri o selo e atrás de mim surgiu um portão grande de ferro com um marrom avermelhado que mais se assemelhava a sangue coagulado. Os portões se abriram com um rangido aterrorizante e formas escuras saíam de trás de mim. Direcionei meu ataque para o meu pai e vi que as formas o agarravam tentando levá-lo para dentro. 

O Apollyon, que foi rápido em pensamento, foi em direção a ele, mas antes que a foice o atingisse meu pai fez um pequeno selo com a mão e eu senti como se meu corpo estivesse sendo baleado. Senti várias feridas abrindo e inúmeras pedras saindo pela minha pele. Ele não podia retirar a pedra de Cérberus, se não nosso plano estaria acabado. 

Sentia que minha visão começava a ficar embaçada, mas algo mais saiu do portão para arrastá-lo. Um ser grande envolto em fogo, com aparência de um cachorro gigante o atacou e começou arrastá-lo pelas pernas e enfim a foice dos filhos de Cerberus o atingiu. Fazendo com que todas as essências das pedras implantadas no meu pai saíssem e ele perdesse a consciência.

Vi com um certo horror o corpo do meu pai sendo levado para dentro do portão enquanto dilaceravam seu corpo.

Pouco a pouco eu fui perdendo a consciência, tinha ferimentos pelo corpo inteiro, não iria sobreviver... era uma certeza que eu tinha, mas havia cumprido minha promessa para Lucy. Fiquei triste apenas por não poder me despedir. 

A luta enfim havia acabado. Meu pai havia arrancado do meu corpo praticamente todas as pedras que eu tinha e eu já não sentia nenhuma presença por perto, apenas a do Apollyon que se aproximava de uma maneira sutil. Eu me entregaria finalmente. Estava cansada e nessa hora enfim, pude entender o que o Bae quis dizer com finalmente poder descansar.

Me sentia leve e sem medo. Pude sentir o cheiro tão particular do Rafael perto de mim, me segurando com delicadeza nos braços e me abraçando com cuidado. Ele falava alguma coisa, mas eu não entendia. Estava feliz por estar nos braços dele. 

A imagem da Lucy me veio à cabeça e eu torci para que ela fosse sempre feliz de agora em diante.


Rafael


Eu não podia deixá-la morrer, não saberia mais viver sem ela. Juntei toda a coragem que eu tinha, e mandei o Apollyon ficar longe dela, algo que ele cumpriu sem objeções. Eu conseguia ver a tristeza nos olhos dele por ter que levar a amiga nessa situação. Me perguntei várias vezes se ele realmente tentou contra a vida dela no dia que nos conhecemos ou se ele apenas fazia essas coisas para manter a aparência. 

Fiz um círculo no chão com o sangue dela e em seguida mordi meu próprio pulso e cheguei o pulso perto da boca dela, deixando que meu sangue escorresse. Vi que ela mexia um pouco a língua conforme o sangue entrava. 

Ela continuava com o olhar vazio e parecia não saber que eu estava ali com ela. Ver o corpo dela caído daquela maneira me doía muito. Tinha muito medo de que ela não aguentasse. 

Ninguém interferiu no que eu estava fazendo, todos apenas olhavam. Levei minha boca até o pescoço dela e a mordi. Senti o sabor maravilhoso do sangue dela. Muitas vezes era difícil me controlar para não a matar, mas não foi assim dessa vez. Cada parte do meu corpo desejava que ela sobrevivesse. 

Antes de afastar a cabeça novamente, eu falei baixinho no ouvido dela para que ela não me deixasse.

Experimento 42Where stories live. Discover now