─ Capítulo 10 '-

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Emir

Fazia dois dias que eu havia tido aquela conversa toda de amizade com Maria Alessandra. Eu não havia desistido, mas ainda não havia voltado atrás para não deixar parecer que minha intenção era outra, além de amizade, apesar de ser.

Mas, de hoje não passaria. Hoje, iria voltar a falar com ela frente a frente.

Nesses últimos dois dias, eu continuava indo para o Cassino com frequência, nos mesmos horários, jogava até tarde o máximo que podia. Sempre que ela passava por mim, eu não disfarçava o olhar para ela. E ela sempre de longe, tinha uma maneira de me cumprimentar. Ela estava sempre deslumbrante. Como podia me encantar tanto?

— Chegamos, senhor — a voz de Mohammed me tirou de meus pensamentos. Eu desci do enorme carro blindado, e parei de frente ao Cassino.

— Estava pensativo, está tudo bem? — Mohammed continua a sequência de perguntas

— Sim, eu estava pensando nela — respondi sendo sincero

— Nela quem? — Mohammed, pergunta sem hesitação

Certamente, se pergunta, porque durante esses dois dias que estive "longe" de Maria Alessandra, não estive só. Pra cada dia, desses dois, uma mulher pode satisfazer meus caprichos. Não eram tão lindas, nem de perto, chegavam aos pés de Maria Alessandra, mas eu precisava de uma distração.

— Senhor?

— Sim — respondo, novamente olhando pra Mohammed que espera uma resposta — em que o senhor tanto pensa?

Quando abro a boca para responder, um carro para no mesmo lugar onde o carro em que eu vim, estava. Não precisei ver além de seus pés, com saltos pousando sobre o chão para saber quem era.

— Nela — digo com firmeza — Estava pensando nela.

— Senhor, eu acho melhor..

— Você não acha nada — tive que falar rude com Mohammed — se retire, por favor.

— Sim, senhor — ele assentiu e saiu

Somente quando ela fechou a porta do carro, e olhou para frente, pude vê-la melhor. De perto, ficava ainda mais linda.

— Emir — ela disse, vindo em minha direção, parecia surpresa

— Bela Maria Alessandra — respondi — é bom, vê-la de perto.

— Por que chegou tão cedo? — ela questionou, agora já perto de mim, sem desviar a atenção do meu rosto

— Eu tenho chegado sempre nesse horário, mas, pelo que percebi, você costuma ir direto para sua sala assim que chega, e acaba não vendo a presença de quem chegou cedo — falei, e ela assentiu pensativa

— É, eu realmente demoro algumas horas para finalmente descer ao salão principal — ela responde e faz um sinal com a mão — vamos entrar? Gostaria de tomar algo comigo?

— Adoraria — respondi, e ela estendeu a mão de uma maneira que pedia que eu oferecesse meu braço, para que ela pudesse segurar. Eu o ofereci, e entramos.

— Traga uma garrafa do melhor vinho, por favor — a observei, enquanto pedia atenciosamente para o atendente. Quando o jovem saiu, ela olhou para mim.

— Por que está me olhando? — ela perguntou, tanto curiosa quando satisfeita. Era como se eu conseguisse identificar, interpretar ela, mesmo sem explicação concreta.

— Eu estava pensando — respondi

— Posso saber em quê? — ela questiona

— Na conversa que tivemos há dois dias atrás — falei e ela inclinou a cabeça — combinamos de ser amigos. Mas, amigos tem que se conhecer. Nós não se conhecemos.

Ela pensou por alguns segundos, e se ajeitou melhor na pequena cadeira alta da mesa de vidro em que estávamos.

— Sim, você tem razão, não nos conhecemos — ela diz, e depois de uma pequena pausa volta a falar — mas, você sabe, amizade não nasce assim da noite para o dia.

— Mas, também não nasce a distância — rebati, calmo e ela inclinou a cabeça. Eu teria de ser cuidadoso com às palavras, e não agir de uma maneira desesperada.

— Tudo bem — ela respondeu. No momento, em que o jovem atendente voltou com a garrafa de vinho, e saiu  — me fale sobre você.

Ela disse pegando a garrafa, da mesa. Interferi, quando peguei a garrafa também, e nossas mãos se encontraram rapidamente.

— Permita-me — pedi, e ela entregou a garrafa. Depois de encher às duas taças, a entreguei uma, então bebi um pouco — o que quer saber sobre mim?

— Não sei, me conte o que acha que devo saber — ela disse, bebendo um pequeno gole e devolvendo a taça a mesa enquanto, colocava os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as mãos — Por que vai beber tão pouco? — ela perguntou, percebendo a quantidade de vinho pouca em minha taça.

— Eu não gosto de beber antes de jogar, e esse é um vinho forte.

— E você é fraco para bebidas?

— Um pouco — menti. Eu não era nem um pouco fraco para bebidas. Eu teria de virar muitas garrafas para me deixar "cair". Eu beberia pouco, para soar mais prudente a cada palavra dessa conversa com ela.

— Entendi — ela respondeu, voltando a beber mais um gole pequeno — eu também sou alguém fraca para bebidas.

Bom saber disso, Maria Alessandra.

— E você costuma beber? — perguntei, interessado

— Não — ela respondeu, curta e direta — eu prefiro evitar esse tipo de caos.

— Não é bom que uma mulher beba, sem a companhia de alguém.

— Por que diz isso? — perguntou

— Porque, quando se passa dos limites, certamente precisa de alguém para ampara-la.

— Tenho que admitir que mais uma vez você tem razão — ela disse, dessa vez bebendo o último gole de sua taça — mas, eu não passaria dos limites.

— Vai me dizer que nunca bebeu além da conta? — perguntei interessado em saber, cada mínimo detalhe

— Não — respondeu imediatamente — Eu jamais confiaria em alguém à ponto de passar dos limites com uma bebida, seja lá quem fosse.

Eu estava entendendo o que ela queria dizer. Maria Alessandra, parecia estar sendo tão cuidadosa com as palavras quanto eu. Ela falava de uma forma à qual achava que eu não compreenderia. Mas, eu estava compreendendo. Era como, se eu conseguisse ler suas expressões, e entender até mesmo onde ela queria chegar pelo tom de sua voz.

— E por que não? — questionei

Ela se inclinou um pouco sobre a mesa, antes de responder.

— Não se pode confiar em ninguém, senhor Emir — ela falou de maneira neutra.

— Você pode confiar em mim — respondi, e ela continuou olhando para mim, como se me analisasse mentalmente.

— Eu realmente posso?

— Definitivamente — menti.

Confiar em mim, seria a pior escolha dela.

Decidi Amarte ─ ღ '-Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt