─ Capítulo 23'-

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Maricruz

Entro em casa rápido e fecho a porta com a chave.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus.

Jogo minha pequena bolsa no sofá da sala, e me sento tirando os saltos. O que eu acabei de fazer?

Emir Karim me beijou. Na boca. E eu deixei.
Não fiz absolutamente nada pra impedir. Eu sabia que deveria ter o repreendido à partir do dia que ele começou a beijar meu rosto.

Tudo o que eu queria que acontecesse, minha estratégia, tudo saiu dos trilhos. Eu queria estar perto de Emir por interesse próprio, pelo meu Cassino, mas não aconteceu assim. De repente, Emir se mostrou amigo demais, bom demais, diferente de tudo o que diziam dele. E eu deixei ele se aproximar, sem segundas intenções, mas, ele me beijou. E eu não sei o que eu senti, porque eu deveria ter impedido ele. Mas, não o impedi. Permiti que seus lábios tocassem o meu.

"Eu não menti nesse momento. Você está sempre mais linda quando eu te vejo, e eu me sinto atraído por você. Desde a primeira vez. Eu sei que isso te incomoda, mas, isso não interfere na amizade que podemos ter. Certo? Eu posso ser apenas seu amigo."

Foi exatamente o que ele disse. Mas, como poderíamos ser amigos, se ele sentia algo por mim? E se talvez, eu começasse a sentir algo por ele...

Não, não, não. Impossível.
Infelizmente, estou condenada à amar somente Otávio Narváez, até o fim da minha vida, mesmo que o odeie.

Eu não estou disposta a amar alguém de novo. E não sou capaz. O amor dói, e eu não mereço passar por isso de novo.

Pego meus saltos e minha bolsa, e vou direto para o meu quarto, mesmo que eu duvide que consiga dormir, me deito na cama como estou. Sem tirar roupa ou maquiagem, e passo horas deitada na cama, olhando pela janela do meu quarto.

Horas foram e voltaram, e eu não consegui dormir.
Eram 05:45 da manhã, quando ouvi o chorinho abafado de Lupita vindo do quarto ao lado. Levantei e fui buscar minha filha.

Quando a tirei do berço, a trouxe direto pro meu quarto. Foi só eu pegar ela no colo, que ela parou de chorar. Então, sorri enquanto andava até a pequena luz do dia que entrava pela janela e parei ali com minha pequena nos braços.

— Você é linda demais, minha filha. Sabia? — falei olhando para Lupita, que me observava atentamente enquanto me dava sorrisinhos — Sabe, de uma coisa. Você não se parece em nada com o seu papai. Só na cor do seu cabelo. Seu papai é diferente de você. E apesar de eu amar muito ele, eu até gosto que você pareça só comigo.

Lupita, continua sorrindo e me olhando atenta. Beijo seu rostinho, barriga e suas mãos pequeninas. Felizmente minha Lupita não parecia mesmo com Otávio. Seus cabelos eram da cor do dele, escuro. Mas, apenas isso. Sua boquinha, nariz, olhinhos, eram idênticos à mim.

— E sabe o que mais? Eu te amo muito. Acho que você ainda não entende o que eu falo. Mas, eu faço questão de dizer isso pra você todo dia. Infelizmente eu não posso ficar com você o dia inteiro como eu queria. Mas, sabe, eu trabalho tanto pra que nunca te falte nada — beijo o nariz pequeno de Lupita — Você é minha vida. Agora, vamos na cozinha, e você vai ficar no seu carrinho enquanto eu preparo um café. Porque a sua Juanita, ainda não acordou. Você se adiantou, mocinha.

Vou em direção à cozinha, e preparo o café enquanto Lupita fica sem seu carrinho no cantinho da cozinha me observando atenta. Por várias vezes, vou até ela e faço cócegas em sua barriguinha e encho ela de beijos. Minha Lupita está prestes à fazer três meses, mas é espertinha até demais.

Quase meia hora depois, Juanita aparece na cozinha e abre a boca para falar, mas a interrompo antes.

— Não diga que esse é o seu trabalho. Eu já fiz o café e fiz também um suco, e também fiz ovos. Eu queria fazer isso. Não consegui dormir — disse e Juanita mudou sua expressão para preocupada — Eu vou dar um banho rápido na Lupita, alimentar ela, e já volto pra contar pra você. Você pode arrumar a mesa enquanto eu volto.

Juanita assente e entra na cozinha para organizar a mesa, enquanto eu banho, alimento, e arrumo Lupita como uma princesinha. Lupita, não passou pela fase da amamentação, infelizmente. Eu sabia que não poderia passar tanto tempo em casa, para poder amamentar minha filha, e desde cedo, dei leites preparados para ela. Nunca foi problema, Lupita nunca contestou, e sempre foi muito fortinha.

Quando ela terminou de beber a pequena mamadeira, já estava dormindo. Decidi que deixaria ela dormindo em minha cama mesmo. Me certifiquei de colocá-la no meio, e fazer uma pequena proteção de travesseiros e então voltei para a cozinha.

No exato momento em que Juanita já havia arrumado a mesa, o balcão, e lavado também o que eu havia sujado enquanto preparava o café.

— A Lupita dormiu de novo, senhora? — Juanita pergunta sentando na cadeira da mesa

— Sim. Ela acordou bem cedo. E você sabe, ela é dorminhoca — sorrio enquanto me sento, e então o ar de preocupação e curiosidade de Juanita, me lembram do assunto que tenho pra falar com ela.

— Juanita, ele me beijou — digo, um tanto aflita e Juanita arregala os olhos

— O pai da sua filha? — ela pergunta confusa e atenta

— Não. Ele estava beijando mas era outra. Bem na minha frente — falo sem disfarçar a raiva dentro de mim

— Então, quem beijou a senhora? — Juanita pergunta ignorando minha fala sobre Otávio

— O Emir — respondo e Juanita engole o que mastigava rapidamente

— O milionário do Cassino? — ela pergunta quase empolgada

— O próprio — respondo desviando o olhar. Porque isso não era pra ter acontecido.

— E a senhora? — Juanita pergunta olhando pra mim com expectativas

— Eu fiz a besteira de deixar — respondi — mas depois eu literalmente saí correndo pra dentro de casa.

— Sem dizer nada? — Juanita perguntou fazendo bico, quase como inconformada com minha atitude

— É, sem dizer nada. O que você queria que eu dissesse? O que ele fez foi errado.

— Dona Maricruz — Juanita disse num tom calmo, e eu sabia que sempre que ela falava assim, iria me fazer uma pergunta que eu não iria querer responder.

— O quê?

— A senhora não sentiu nada? — ela perguntou e fiquei calada — quando ele beijou a senhora..

— Não, Juanita. Nada. E nem quero! Foi um erro. E se possível, eu nem quero mais me aproximar dele.

Falei voltando a beber o suco na mesa, deixando claro que o assunto estava encerrando ali.

Decidi Amarte ─ ღ '-Where stories live. Discover now