­Obscurité

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ATENÇÃO, ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS QUE PODEM SER DELICADAS PARA QUEM SOFRE DE ANSIEDADE E/OU BULIMIA E ANOREXIA. SE NÃO SE SENTIR CONFORTÁVEL COM O TEMA, NÃO LEIA.

Anahi voltava para casa a passadas largas. Teve um sono tão agitado que ao sair de casa acabou esquecendo sua fiel bolsa com seus pertences. Que cabeça a dela. Estava quase na estação de metrô quando se deu conta do ocorrido. Irritada, ela pensou em até passar com um médico para receitar algumas vitaminas, quem sabe não ajudava a melhorar o sono e ter mais energia para encarar sua rotina atribulada.

Por sorte, a chave da casa estava no bolso de sua calça jeans. Ao abrir a porta, Anahi notou que algo estava errado.

Entrando devagar, ela franziu o cenho ao escutar um soluço abafado vindo de algum lugar da casa. Meio hesitante, ela subiu as escadas em passos lentos, ainda em dúvida se tinha escutado certo. Porém ao se aproximar do andar de cima, sua certeza que alguém estava chorando só aumentou.

Era um choro doído, sofrido, que vinha de uma porta no final do corredor. Anahi nunca entrava naquele cômodo, pois sua mãe o mantinha trancado alegando que guardava algumas coisas velhas ali.

Estava incerta se realmente queria saber o que estava acontecendo. Ela não tinha um bom pressentimento sobre aquilo. No entanto, a curiosidade venceu qualquer receio e ela espiou através da porta entreaberta.

Não esperava por aquilo, definitivamente. Arregalou os olhos e teve que colocar as mãos na boca para não murmurar um ‘’Ahhh’’ de susto.  Dentro daquele quarto havia vários painéis e quadros pendurados na parede. Neles, haviam fotos, recortes de revistas um tanto antigos e alguns acessórios pendurados. Tudo da época em que sua mãe fora bailarina.

Erika estava em uma situação deprimente. Ajoelhada em frente a esses quadros, chorando sem parar com a cabeça baixa. Pegou uma das fotos, acariciou como se estivesse tentando tocar a lembrança vívida naquela imagem e seu choro se agravou. 

— Mãe...— Anahi foi se afastando de costas, rápido mas ao mesmo tempo cautelosa, com medo de que sua mãe a visse. Completamente assustada, pegou suas coisas em seu quarto e saiu em disparada.

Sentia o coração batendo forte dentro do peito ao chegar na estação. Deus, o que significava aquilo?

Foi de forma automática que comprou seus bilhetes e embarcou no trem. Não olhava nada, apenas se perguntava o porquê daquilo. Não fazia ideia de que sua mãe mantinha aquelas coisas em uma espécie de santuário em casa. E muito menos que doía tanto olhar para seu passado.

Anahi sabia que ela fora um acidente. Não estava nos planos da mãe engravidar aos 29 anos, no auge de sua carreira como bailarina. Pelo que lembrava, ela fora muito feliz com os pais, eram uma família unida. Achava que Erika tinha lidado bem com a interrupção de sua carreira. Será que tinha fingido esse tempo todo? Será que se arrependera de tê-la e de construir uma família com Arthur?

Todos esses questionamentos fizeram Anahi chegar na Petit Art tremendo, sentindo as lágrimas querendo escapar dos olhos. Como nunca enxergara o que fizera com a vida da mãe? Como não enxergara antes o quanto ela sofria? E pior ainda, que ela era a culpada.

Play: Lovely- Billie Eilish

Pensei ter encontrado um caminho
Pensei ter encontrado uma saída
Mas você nunca vai embora
Então eu acho que tenho que ficar agora

Tremendo violentamente, Anahi foi direto para o banheiro. Se sentia enjoada, com raiva de si mesma. Colocou as mãos na lateral da cabeça, puxando seus cabelos. Respirava a arfadas e apoiou as mãos na bancada da pia. Abaixando a cabeça, ela tentou respirar fundo em busca de algum controle, mas não adiantara muita coisa. Ergueu os olhos e deu de cara com seu reflexo. Olhando com raiva para si, ela socou a bancada da pia. Socou até sentir dor. No meio de sua agonia, ela levou as mãos às costas, arranhando sua pele enquanto cambaleava pelo banheiro. Sentia que ia parar de respirar a qualquer momento.

Nas Asas do CisneWhere stories live. Discover now