Capítulo Doze

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Meu pai quis que eu o levasse ao meu quarto. E eu o levei.

Durante o trajeto eu tentava não deixar que meu medo assumisse o controle. Eu sabia que meu pai estava atrás de mim, mas preferia que ele estivesse à frente ou, pelo menos, do meu lado. Assim que não ficava com a sensação de que poderia ser apunhalado a qualquer momento. Só o peso do olhar dele era suficiente para me fazer curvar os ombros e esquecer quaisquer argumentos que eu poderia vir a ter. Porque ele faz isso comigo; me desarma.

Quando chegamos ao meu quarto fiquei contente de que Vinci não estava. Ele deveria estar no quarto de Nicholas, falando com ele como veio falar comigo mais cedo. Nicholas e Vinci são amigos e saber disso me deixa desconfortável, principalmente porque ele já me disse que participou dessas brincadeiras assustadoras com ele. Um arrepio sobe pela minha espinha quando imagino Vinci agindo como Nicholas.

Meu pai fecha a porta e me preparo para ouvir o vozeiro dele, que começaria baixo e depois terminaria com as paredes tremendo. Não adiantava de nada que eu pedisse que ele falasse baixo. Meu pai nunca falava baixo.

Só que ele não falou nada. Apenas ergueu a mão para mim e fez com que eu me curvasse de medo. Mas ele não me bateu; foi apenas uma ameaça. Meu coração quis atropelar tudo para fugir. É a primeira vez que ele ameaça me bater.

— Você fez uma grande merda — é a única coisa que ele diz. Gritando, lógico.

Me encolhi mais ainda. Me perguntei se assim eu conseguiria encolher até sumir. Não importa para onde, quanto mais longe dele melhor.

— Pai...

— Eu matriculo você numa escola caríssima e você me apronta uma no primeiro mês? O que você quer, Atlas? O que porra você quer?

Pare de gritar! Quero que pare de gritar!

Mas ele não parou e tive que ouvir todas as coisas que ele gritava.

Pelo menos até sermos interrompidos pelo som da porta sendo aberta com seu som característico. Vinci entrou e meu pai se calou.

Os dois se entreolharam antes do meu colega de quarto olhar para mim e ele parecia quase preocupado. Quase. Eu não queria brincar de desvendar as expressões de Vinci no momento, minha cabeça estava cheia e meu corpo, tenso demais para conseguir me controlar. Eu estava tentando parar de tremer e ajeitar minha postura, o que parecia ser uma coisa impossível.

Vinci se desculpou por interromper e foi direto para sua cama, onde trocou a camisa e depois ficou procurando alguma coisa na cômoda. Ele parecia envergonhado.

Meu pai, com seu olhar mordaz, disse que conversaríamos no domingo, quando eu fosse para casa. E saiu. Não bateu a porta.

Tive que vê-lo entrando no carro e dirigindo para longe para começar a relaxar.

— Fui bem? — Vinci questiona.

— Oi?

— Esperei uns dois minutos do lado de fora até decidir entrar. Depois fingi procurar por algo. Acho que deu certo pra mandar ele ir embora.

Aquilo me assustou.

Não sabia como responder a essa confissão. Por isso só fiquei parado ao lado da janela e observei Vinci se deitar na própria cama, os braços atrás da cabeça e um sorriso convencido no rosto. A imagem dele assim era pesada demais para mim e tive que desviar o olhar depois de dois segundos. Foi, ao mesmo tempo, difícil e necessário.

Acabei me jogando na minha cama e pus o travesseiro no rosto.

A voz dele se fez presente de novo.

Entrelinhas (Romance Gay)Where stories live. Discover now