Capítulo Dezesseis

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No sábado meu pai me levou para almoçar com ele. Eu queria rejeitar, porque estava me sentindo derrotado. Mas aceitei — pelo mesmo motivo.

Fomos almoçar em um restaurante que tinha churrasco e aquilo me deixou mais calmo. Não gosto de ir a lugares onde o prato é caro e escasso e, sinceramente, sem gosto. Já fui quando acompanhei meu pai em um encontro com um amigo advogado, porque ele quer que eu aprenda com ele a como manter amizades assim. Naquele dia ele foi tão cordial comigo que pensei ser outro homem. Mas quando chegamos em casa, e ele perguntou se eu havia gostado do almoço e do amigo dele. Respondi que foi legal. Um legal desinteressado, é como soou. E meu pai ficou furioso. Ele disse, gritando, que se eu não estudasse para ser advogado, ele trataria de quebrar todos os meus ossos. Foi apavorante porque ele pareceu falar sério — e não duvido que tenha — e eu disse que tentaria. Depois me corrigi e disse que conseguiria. Porque tentar é ser bom e eu tenho que ser ótimo.

Durante o almoço lembrei que peguei de volta meu celular enquanto estou fora da Katharine. Não havia muito que fazer no celular, mas usei para me distrair quando meu pai ficava em silêncio, só com os pensamentos dele que eu não queria saber quais eram. Ele não tentou puxar conversa comigo sobre a escola, o que foi bom.

Também não falamos que hoje é aniversário da morte da minha mãe.

Ele teve que ir trabalhar. Me deixou em casa e disse que tinha que correr. Eu disse que tudo bem e recebi um novo abraço. Não me senti menos desconfortável mas foi bom abraçar ele. Eu podia fingir.

Fiquei deitado no meu quarto e cedi às redes sociais. Mas parei quando percebi que estava com vontade de entrar no antigo perfil de Vinci para ver a foto dele na parada gay de novo.

Eu me recuso.

Foi então que fui salvo de me contradizer quando alguém bateu à porta.

Pensei em fingir que não havia ninguém em casa. Mas as batidas continuaram então cedi. E encontrei Fênix à porta.

— Fênix?

Ele sorriu com aqueles dentes levemente tortos e amarelos.

Estava fumando. Eu não sabia que ele aproveitava para fumar quando saia da Katharine.

— O que está fazendo aqui?

— Calma aí, gênio. Vim te entregar isso — e me estendeu duas cartas.

Franzi o cenho só que minha mente foi mais rápida: Vinci.

Peguei as cartas depressa.

— Obrigado.

— Pode me dar um copo d'água?

— Ah. Aham. Entra aí.

E ele entrou, sorrindo demais.

Não que eu não gostasse de Fênix. Ele sempre dispensava amizades e tudo se baseava nos negócios. Mas ele era tudo o que aprendi a ser contra: Quebrador de regras, mentiroso, trapaceiro e aproveitador. Eu havia aprendido a repudiar isso, mas ele é assim e já me ajudou.

Entreguei um copo com água para ele que bebeu tudo em dois grandes goles. Depois olhou ao redor, avaliando a sala e a cozinha.

— Você tem dinheiro, hein.

— Meu pai tem.

— Legal. Porque não se inscreveu numa escola melhor?

— Melhor é sinônimo para mais vigiada? Não, obrigado. A Katharine já me sufoca demais.

Fênix riu. Pareceu que ele ainda estava bebendo água, porque sua risada foi mais um gorgolejar.

— Vê se não some no próprio vômito — foi o que disse quando se aproximou da porta.

Entrelinhas (Romance Gay)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant