Capítulo Vinte e Cinco

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— Vai mesmo fazer isso?

Encaro Vinci e digo que sim.

— É uma ideia idiota.

— Eu sou cheio delas — abro um sorriso animado mesmo estando nervoso. eu tinha que conseguir esconder meu nervosismo de algum jeito. E todo mundo acredita em um sorriso, por mais falso que ele seja.

Quer dizer, se você sorrir, está tudo bem. Foi o que fiz quando acidentalmente deixei o celular cair na sala de Andréas. Não sei se ele ainda vai insistir com aquilo. Talvez. Não quero esperar para ver.

Ele parece ter pintado um alvo nas minhas costas quando descobriu porque fui expulso de duas escolas há dois anos. Ele desenterrou aqueles dois anos e agora pretende usá-los conta mim. Como se eu já não tivesse feito isso o suficiente.

— Atlas... As coisas estão complicadas aqui. Nem mesmo meu pai consegue convencer o diretor a mudar de ideia. Linda era mais... propensa a repensar. Ela sim, era sensata.

Enrugo o nariz diante daquilo. Até parece.

— Andréas está no comando. Obedece a si mesmo. Ele faz o que quiser e ninguém vai fazê-lo mudar de ideia. Mas eu preciso fazer isso. É para vingar o que fizeram com Denis.

— Denis disse que queria isso?

Paro.

Nego com a cabeça.

— Mas isso não vai me impedir. Não vai porra nenhuma. E não estou nem aí se vou ser expulso.

— Arthur sabe?

Olho para o meu quarto vazio e estremeço só de pensar em Arthur sabendo de algo. Ele apenas sabe que fiquei com raiva. Só não sabia que eu alimentaria essa raiva e iria a fundo com a ideia de pedir luvas látex para Fênix — que por sorte me conseguiu por vinte reais —,ir até a cozinha, depois ir até o limite da escola onde eles estavam.

Olho para a vasilha plástica em minhas mãos. A coisa ali se mexia.

— Desculpa estar fazendo isso — sussurrei — é por um bem maior.

Olhei para Vinci de novo apenas para notar que ele ainda reprovava a ideia. Revirei os olhos.

— Se está aqui para dizer merda pode ir saindo.

— Vim aqui pra ajudar. Idiota.

Um sorriso maldoso se formou no rosto dele. Agora eu estou confuso.

— Vou com você e... o que é isso?

Olho para o que ele tem entre os dedos. Pego o post-it rapidamente e não o deixo ler.

— Arthur — murmuro, apenas.

Vi o olhar de Vinci alternar entre a cama de Arthur, como se ele estivesse assistindo a essa cena, e depois para mim. Acho que ele compreendeu. Compreendeu, sim. Vinci não é idiota.

— Vocês já ficaram?

Pensei em como responder a isso.

Não, não ficamos. Mas ei, Vinci, ele se declarou para mim e todos os dias depois disso deixa post-it com frases fofas e me lembra o quanto não estava brincando. Ele é um fofo, e eu quero beijá-lo mas tenho medo de relacionamentos sérios.

Pisco e afasto os pensamentos. Isso não é importante.

— Isso não é importante — digo.

— Claro que não é.

Ficamos em silêncio.

As Águias do corredor não estão nos postos. Elas só ficavam no corredor à noite agora. Uma nova mudança de várias. Mas isso é bom. Os alunos podem circular livremente por mais que as revistas nos quartos tenham se intensificado e nossa privacidade ido pra puta que pariu.

Entrelinhas (Romance Gay)Where stories live. Discover now