Capítulo 5

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Capítulo 5

Harry começou a me contar toda a história de minha vida, minha medíocre e vazia vida. Ele se atrapalhava cada vez que eu pedia para ele me dizer como eu tratava certas pessoas, mas era natural dele pelo que eu percebi depois de um tempo. Porém ele ficou vermelho e tímido quando começou a falar de Lillian Evans, sua mãe.

Perguntei o por quê ele tinha tanta dificuldade de falar dela, ao invés de responder ele me deu um frasco de lembrança e me deixou ver o que tinha lá dentro usando uma penseira.

Era estranho não saber quem eu era ou quem eram as pessoas naquela lembrança e saber que aquilo era uma penseira, que o líquido prateado era uma lembrança. Eu lembrava de tudo do mundo bruxo, dos exames que me vi fazendo quando adolescente, dos feitiços que sofri nas mãos de grifinórios que eu não lembrava nem ao menos o nome para poder odiá-los por terem feito aquilo comigo. Eu me senti como um recém nascido, como se eu fosse uma anomalia fora do mundo real, eu não estava conectado a nada aqui, eu não era nada aqui.

Talvez um dia eu tivesse sido algo para alguém, talvez para aquele velho ou para a menina ruiva que eu dizia amar desde criança, mas agora eles não eram nada para mim além de imagens em uma lembrança.

Harry me disse o que eu já sabia, que eu amava a mãe dele, mas me disse também que eu fui o causador da morte dela. Ainda que ele tentasse dizer que eu não tinha culpa e que eu não sabia que ela seria a escolhida pelo Lord Voldemort, eu não pude deixar de querer me jogar da torre de astronomia. Não por ter causado a morte dela, nesse momento ela não significava nada, mas por saber que eu havia causado toda essa dor nele, que eu o fiz crescer sem mãe ao lado, que eu ainda era o causador de sua dor e que ele ainda me odiava por isso. Pelo jeito eu tinha um bom sensor de mentirosos em meus olhos, por isso pude ver o quanto ele se esforçava para mentir para mim e dizer que estava tudo bem que não era minha culpa e que ele não se sentia ressentido por isso. Ele não sabia mentir, ou eu sempre sabia que ele estava mentindo. Meu outro eu o conhecia tanto assim para saber isso?

Olhei para ele vi seus olhos marejados. Sem que eu percebesse levantei minha mão na direção de seu rosto de marfim, eu queria enxugar a lágrima se ela caísse e mostrar que eu estava ali para que ele pudesse chorar, mas deixei minha mão cair em meu colo, pois a coragem me abandonou naquele momento. Ele provavelmente devia me odiar e se assustaria se me visse assim tão perto, mas eu não pude evitar, assim como não posso evitar formar perguntas em minhas cabeça que sei não poder responder sozinho.

- Quem eu era?

A minha pergunta não foi respondida quando me sentei ao lado dele na cama.

- Por que eu era assim? – Perguntei olhando para a penseira agora solitária em cima da mesa.

- Provavelmente porque o senhor teve muitas desilusões na vida, desde pequeno. Talvez.

Ele estava justificando a forma como eu tratava as pessoas, como meu outro eu tratava as pessoas, inclusive ele. Eu não merecia nem mesmo sua presença. Mais de uma vez tentei falar algo, mas não consegui e voltei a fechar a minha boca e manter o silêncio que estabelecemos sem nem ao menos conversarmos sobre isso. De vez em quando eu olhava para ele e em uma dessas olhadas, quando prestei atenção em seus olhos marejados que percebi seus traços leves e simples. Traços que definiam seu rosto juvenil e seus olhos velhos de tantos sofrimentos. Fiquei o olhando até que o sol começou a entrar pela minha janela e um dos raios atingir meu rosto me forçando a fechar meus olhos. Eu era sensível a luz, mas tentei fazer um esforço para olha-lo e me surpreendi em como ele era mais bonito ainda quando estava iluminado. Sua pele era clara e eu conseguia ver e mesmo de longe, sentir a textura dela, pêssego recém colhidos. Ele me disse que era pobre quando criança, mas sempre teve em seu rosto duas das mais belas esmeraldas que existiam.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora