Capítulo 13

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O mundo dos trouxas era um lugar que muitos bruxos se assustariam se o visitassem, não estavam acostumados com carros passando correndo na rua rente ao seu corpo, ou com as pessoas com roupas estranhas que vagueiam a noite por ruas escuras e sombrias. Até mesmo a Travessa do Tranco seria mais convidativa se comparado com alguns lugares desse mundo.

A noite caiu rápido e a lua não iluminava o asfalto negro nem as paredes velhas. Poucos carros se atreviam a andar por ruas como aquelas, ruas que guardavam como segredo violência contra belas mulheres que tentavam voltar para casa depois do trabalho. Violentadas pelos mesmos porcos que bebiam a água estacionada na sarjeta onde os ratos faziam companhia quando iam dormir.

Era nojento e asqueroso, mas era ali que eu estava.

Meus passos eram abafados pelos gemidos dos famintos moradores de rua que me olhavam como se vissem seu pior pesadelo, cada passo era um tormento para eles. Suas mentes desabilitadas pelos anos na rua perguntavam-se quando aquilo terminaria. Quando aquele anjo de negro, com asas abertas ao vento, os levaria embora. Quando?

Esse dia não era hoje, o dia em que o anjo apareceria para acabar com o sofrimento deles não era hoje, pois hoje eu é que queria terminar com meu sofrimento, eu queria desaparecer.

Foi com certo alívio e desapontamento que os olhos miúdos daqueles miseráveis homens me viram entrar pela porta daquele bar suspeito.

Ali dentro tudo era frio e decrépito. Os homens que ali dentro estavam não deram a mínima atenção para quem quer que estivesse entrando e eu agradeci mentalmente por isso, não queria mais as pessoas me olhando e me medindo, eu queria apenas fugir de tudo isso, me misturar de certa forma àqueles que agora eram do meu mundo, ou melhor, eu do deles.

- O que vai querer?

O garçom era alto e barbudo com cara de poucos amigos, seu avental cobria toda sua enorme barriga e estava sujo a pelo menos um mês. Mas mesmo vendo-o limpar todas as canecas com um mesmo pano imundo que estava pendurado em seu avental, eu pedi a bebida mais forte que ele tinha, depois de uns três copos eu não iria ligar para com o que ele limpava-os e sim o quanto estava cheio.

O aspecto do garçom já não era mais tão grotesco depois de quatro copos virados, ele parecia até mesmo gentil e amigável, alguém que se quer para compartilhar besteiras e fatos trágicos de sua vida, as partes patéticas da vida.

O nome do garçom era Alfredo, um nome extremamente comum no mundo trouxa, um nome fácil de lembrar e mais fácil ainda de esquecer. Ele me ouvia durante vários minutos sem na verdade prestar atenção devida, apenas gesticulava e resmungava alguns hummms e hãhã nas horas certas. Eu sinceramente não liguei, não queria realmente um conselheiro, só queria alguém que fingisse que me ouvia assim como Alfredo fez, mas depois de um tempo nem mesmo ele queria me ouvir, minha ladainha era para ele uma fantasia de um homem solitário e bêbado, afinal somente um bêbado iria começar a falar de bruxos, Lords das Trevas e perdas de magia. Até mesmo eu acreditei que era loucura. Mas não era, a fantasia que ele imaginava era para mim a pior realidade. A realidade cruel que me fazia pedir mais um copo.

- Não acha que já bebeu demais senhor.

- Ta vendo isso aqui? – Mostrei uma bola de notas trouxas que eu trazia em meu bolso depois de trocar meus galeões com um bruxo em um beco – Eu vou beber tudo que isso aqui comprar, então apenas me sirva.

- Tudo bem, mas não quero nada vomitado e ninguém dormindo em meu balcão entendeu?

- Ele entendeu sim – Disse uma voz nas minhas costas – Já chega por aqui.

Me virei devagar sentindo minha cabeça dar uma leve dor e contemplei os olhos verdes de Harry me olhando.

O menino estava parado na porta do bar, seu olhar me esquadrinhava como que avaliando meu estado. Onde ele estava tinha uma pequena poça se formando em seus pés devido a forte chuva que tomara antes de chegar até ali. Alfredo olhava indignado para a quantidade de água nos pés dele e se afastou indo buscar um pano para secar o local.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Where stories live. Discover now