42 - 7 horas de distância

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Tyler Hills

Sete horas. Isso era o que nos separava após mais uma madrugada sentindo o calor do seu corpo. Em meio a tantas desgraças, nós sabíamos que só nos poderíamos nos ajudar. Apenas eu poderia salvá-lo, e apenas ele poderia me salvar. E sentir o calor do atrito dos nossos corpos, ironicamente em uma das noites mais frias do ano, foi justamente o que reacendeu de vez uma chama em meu coração. Essa chama que nunca se apagou realmente, mas nunca presenciei antes uma fogueira nessas proporções. O calor que nos envolveu em sua cama não era apenas o dos nossos corpos, era o das nossas almas. E senti-las mais flamejantes do que nunca, prestes a causar um incêndio global, queimava a enorme venda em meus olhos que não me fazia perceber o quão apaixonado estávamos um pelo outro. Para uns, alguns meses não seriam o suficiente para uma conexão tão intensa e verdadeira, mas, para nós, era o tempo exato.

Bem, nem só de vitórias podemos viver, elas sequer são a maioria em nosso dia-a-dia. A loucura de enfrentar uma tempestade brutal para assistir a uma simples vista possui as suas consequências. E essas são ainda mais potentes quando o meu despertador tremeu toda a minha cama ainda às 6 da manhã. Enfrentar uma viagem de algumas horas, constipado e com poucas horas de sono era torturante, mas ainda assim era mais atraente do que enfrentar um dia no colégio depois de ontem. Por mais que tenha sido o meu objetivo concentrar o foco de todos apenas em mim, eu não pensei muito bem nas consequências que eu lidaria. Valer a pena ou não era uma outra questão, mas que eu iria sofrer e passar por dias tenebrosos era um fato.

-Gente. - Debruço-me sobre os bancos da frente como fazia desde pequeno, encarando a minha mãe e o meu pai alternadamente.

-Oi. - Meu pai responde, sem tirar a atenção da estrada um segundo que fosse. Desde o meu acidente, todos da família se tornaram grandes obcecados no volante.

Voltar o olhar mais uma vez para minha mãe apenas serviu para mostra-me que ela apagara em um sono profundo. Sem a sua presença na conversa, talvez as coisas pudessem ser mais maleáveis. Ela insistiria para que eu entrasse nessa faculdade, diferente do meu pai que sempre mostrou que apoiaria a minha decisão. Desde que eu entrasse em uma faculdade boa, para ele não importava qual.

-Eu não sei se quero essa faculdade. - Assumo, tirando um peso enorme das minhas costas que não chocou o meu pai nem um pouco.

-Eu sei disso. - Ele ri suavemente.

-Você sabe? Como você sabe? - Questiono, amedrontado com a possibilidade de minha mãe também já saber desse meu pequeno "segredo".

-Eu já tive a sua idade, filho. E claro que, assim como eu, você não vai querer uma faculdade que sua mãe vá te visitar todos os fins de semana. É normal querer alguma universidade em Nova York ou lá na costa leste.

Eu contava com a sorte do raciocínio simples do meu pai ainda não ter acontecido com a minha mãe. Bem, ela sempre esteve aqui por mim e me apoiou em tudo o que eu me empenhei, mas tenho as minhas dúvidas que o seu suporte incondicional ainda existiria se eu decidisse me mudar para uns dois mil quilômetros de distância. É, obviamente ela irá surtar um pouco, porém, as minhas esperanças são de que não passe de um estresse efêmero.

  -Você deixaria? - Minha apreensão por sua resposta já contaminava todo o carro.

-Claro que sim, é uma decisão sua e foi pra isso que juntei dinheiro todos esses anos pra pagar sua faculdade, seja lá em qual você entrar. - O apoio do meu pai é reconfortante e necessário. Minha mãe nunca teria a mesma compreensão, eu imagino.

-E convencer a minha mãe?

-Ah, ai você pediu demais, amigão. Você vai ter que lidar com ela. - Eu estaria ferrado de qualquer jeito, mas valeu a tentativa.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Where stories live. Discover now