Capítulo 02

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𝗛𝗮𝘇𝗲𝗹 𝗣𝗵𝗶𝗹𝗶𝗽𝘀

Julie está em pé na frente do túmulo que escolheu, ela desliza o lápis pelo caderno a qual está em suas mãos.

— O que está fazendo? — pergunto chutando um pouco de terra que estava em minhas botas.

— Vou reformar essa pedra do túmulo dela — diz — Mas preciso saber o sobrenome dela.

Me abaixo em frente a pedra vendo que o seu sobrenome está quase apagado. Puxo uma lanterna pequena da bolsa deixando em frente a pedra, deslizo meus dedos pelas escrituras quase apagadas.

— Aurora Lane — digo.

— Tem certeza?

— Sim — respondo.

— Hazel, você é um anjo — minha amiga fala e beija minha bochecha.

Solto um riso me afastando. Preciso achar aquela tumba de novo, me lembro de ter ido muito longe para encontra-la.

Coloco meus fones de ouvido e começo a andar em volta, tentando me lembrar por onde andei ontem. Encaro o chão por um tempo enquanto fico cantarolando a música que toca no meu fone.

Paro no local ao ver o tronco de árvore caído, deve ter sido nisso que eu tropecei ontem. Ergo a cabeça e vejo alguns galhos a minha frente, empurro as folhagens e suspiro aliviada ao ver tumba a minha frente com a fita amarrada na porta.

Retiro meus fones, passando a música. Guardo os objetos enquanto analiso o local. Observo a tumba atenta, parece pequeno. Me aproximo tocando a porta de madeira que está intacta, giro a maçaneta aliviada por a porta estar aberta.

— Uh, deve ter um cheiro horrível aí dentro — murmuro e empurra porta.

Sinto um calafrio em meu corpo quando uma pequena lufada de ar gélido soprou após eu abrir a porta. Mesmo com uma pontada de medo percorrendo meu corpo, adentro o local.

Olho para baixo vendo uma pequenas escadinhas de cimento, são três degraus até o chão. Desço totalmente e analiso o local vendo que e amplo. Alguns metros a minha frente tem uma enorme mesa de pedra com um caixão incrivelmente bem conservado em cima dela.

O local não cheira a cadáver ou mofo e sim a flores. Talvez alguém venha aqui para limpar o local. Desvio meu olhar para o chão e percebo que na verdade ninguém vem aqui há anos.

O chão está sujo, as paredes empoeiradas e com teias de aranhas.

Me aproximo lentamente do caixão vendi uma janela de vidro iluminava o local. Assobio distraída enquanto analiso o local. Aproximo mais do caixão.

— Aí meu Deus! — sussurro assustada colocando a mão sob o peito ao ver uma fotografia do morto bem em cima da tampa do caixão. — Que susto — toco meu peito esfregando o local.

Olho em volta e percebo que terei que fazer uma faxina muito pesada. Volto a olhar para a fotografia.

— Uau... — sussurro — Você era lindo, pena que agora é só um monte de ossos.

Observo o local, vendo um jarro de flores. Me aproximo tocando as pétalas mortas.

— Rosas brancas — murmuro — Então você gostava de rosas brancas?

Fico em silêncio depois de um tempo, percebo que estou agindo como a Julie e falando com um cadáver de sei lá quantos anos. Saio da tumba e a fecho, caminho até o local que os professores deixaram os baldes, vassouras e produtos de limpeza.

Pego um balde colocando os produtos ali dentro voltando para a tumba, tenho um trabalho bem longo para se fazer.

Analiso a mesa de mármore onde o caixão está, tem uma placa ali. Limpo uma parte dela.

— Adam... — murmuro — Olá, Adam.

— Hazel — Julie me chama e eu ergo o olhar — Caramba, quantos anos tem esse lugar?

— Não sei — dou de ombros — O que aconteceu?

— Uma garota se acidentou — diz dando de ombros — Cancelaram o dia de limpeza, vamos todos embora.

— Só por causa dela? — pergunto.

— Sabe como funciona o protocolo do feriado, todos têm que participar.

— Já estou indo — respondo deixando os produtos em canto afastado.

Fecho a porta da tumba percebendo que tinha uma chave do lado de dentro a qual eu usei para tranca-la.

— Julie, você lembra da história da Maldição Berrycloth?

— Lembro — diz franzindo a testa — O filho mais novo dos Berrycloth violentou e matou a filha de uma feiticeira, então ela lançou uma medição nele. Dizem que ele agonizou por anos antes de morrer, sabe, existem versões que contam que ele vomitava sangue preto como petróleo.

— Qual era o nome dele?

— Não lembro exatamente... — murmura — Mas começa a letra A.

— Adam? — sugeri e ela assentiu.

— Isso! — exclama — Adam Berrycloth.

Fico em silêncio depois do que ela disse. Será que aquele túmulo onde eu estava é o de Adam Berrycloth?

Céus, eu estou limpando o túmulo de um assassino e estuprador!

❦︎

Me deito no sofá encarando o teto do meu apartamento. Movo meu corpo para me aconchegar em meu sofá, cruzo os braços sob o peito, deixo as pernas no apoio do sofá fechando meus olhos.

Preciso descansar um pouco.

Estou tão sonolenta que nem demorou para que eu dormisse.

❦︎

Observo o enorme salão onde as pessoas estão dançando. São como fantasmas, parecem exaustos mas continuam sorrindo e dançando. Os músicos estão com os olhos vidrados em seus instrumentos e todos parecem perdidos em sua melodia.

Atravesso o caminho das pessoas que giram a minha volta. Minha atenção está no pianista, ele parece o único que não está quase desaparecendo, seus olhos não estão vidrados e ele parece concentrado em tocar as teclas do piano.

A sua volta estão três garotas que sorriem animadas enquanto conversam e apreciam o rapaz tocar. Me assusto ao vê-lo desviar o olhar em minha direção.

Ele parou de tocar mas a música não deixou de soar pelo salão. O rapaz é alto, muito alto e se aproxima em passos curtos me observando por um longo tempo.

— Eu não a matei — diz ao parar em minha frente. Ele virou a cabeça até em uma direção e então posso ver uma mulher ruiva dançando com um rapaz — Mas ainda me culpo por sua morte.

Não consigo dizer nada, minha mente está confusa com este sonho. Eu sei que é um sonho.

— Poderia levar rosas brancas ao meu túmulo? — perguntou.

Aceno com a cabeça ainda impressionada em como é bonito. Os cabelos castanhos claros, as pintinhas próximas a sua boca eram um charme fofo.

— Obrigado — agradeceu em um sussurro antes de se dirigir novamente para o piano.

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Me sento com rapidez e toco meu rosto tentando respirar com mais calma. Olho para a janela vendo que já está ficando tarde.

Respiro fundo tocando minha testa.

— Preciso de um banho — suspiro.

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