Três

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No final daquele mesmo dia, eu já estava no meu quarto, no campus, quando recebi a seguinte mensagem:

"Naruto? É a Hinata. Se ainda estiver de pé, adoraria fazer um bolo no final de semana."

Li uma vez, duas, três... Dezessete vezes antes de perceber que eu estava com um sorriso imenso no rosto. Meu colega de quarto fez questão de me acordar do transe tomando o celular da minha mão, querendo saber o motivo do meu sorriso.

Sasuke e eu dividimos esse quarto, mas já somos amigos de longa data. Fomos vizinhos desde sempre, estudamos na mesma escola, tentamos nos matar, coisas que melhores amigos fazem.

Logo que consegui pegar meu celular de volta, respirei fundo e respondi: "Eu tenho as assadeiras!".

Coloquei o celular no bolso e passei a mão no cabelo, inquieto.

— Finalmente está interessado em uma garota, já estava começando a ficar preocupado – Este meu colega de quarto, frio e insensível, ainda me encarava curioso, embora ele jamais admitiria isso – Mas, dobe... Bolo?

— Morre, teme – Respondi, acertando-lhe uma almofada. Conveniente ele esquecer que roubou a única garota que eu realmente já me interessei, antes da Hinata.

Sim, admito. Interessado, com certeza, eu estava... Porém não é só isso. Era um sentimento estranho, que subia quente pelo meu peito, mas gelava todo meu estomago. Claro, eu tenho vinte anos e já me interessei por meninas antes. Tive uma paixãozinha persistente por uma vizinha durante todo o colégio (a propósito, é a atual namorada do Sasuke), porém é diferente.

Na real, não sei lidar com essas coisas.

O decorrer da semana foi rápido graças à montanha de trabalho que eu tive pra fazer, mas ao mesmo tempo, lento devido a minha ansiedade crescente. Devia começar a me preocupar por uma garota causar tanto efeito sobre mim?

Enfim, não a vi mais desde a dança, já que por causa dos trabalhos, não fui a biblioteca também, mas nos falamos todos os dias por mensagem. Não preciso dizer como isso me mantinha animado.

Nos primeiros dias falamos apenas detalhes sobre como faríamos o tal do bolo.

Ela mandou: "Você fornece o forno e os utensílios e eu levo todos os ingredientes?".

E eu respondi: "Também levo o estômago, porque bolo é melhor que comida de verdade, to certo! haha. Combinado!".

Decidimos qual seria o sabor da massa, o recheio e a cobertura depois de muito discutir. Eu queria colocar chocolate em tudo, e ela queria usar cream cheese.

"Não entendo nada de cozinha, mas isso se usa em bolo?", perguntei.

"Exatamente isso. Ele nunca recebe o reconhecimento que merece.".

Depois de tudo o que era necessário saber para o bolo, comecei a perguntar mais sobre ela:

"Você cozinha faz tempo?", perguntei.

"Parece que desde sempre."

"Foi sua mãe que te ensinou?"

"Na verdade, fui aprendendo sozinha. Minha mãe morreu no parto da minha irmã mais nova. Eu ainda era muito pequena."

"Sinto muito..."

E isso foi tudo o que eu descobri sobre a família dela, a principio. Eu falei da minha casa no interior, da vila, da minha mãe e do meu pai, enfim, mais do que ela mesma parecia disposta a falar. Tudo bem, eu espero ter muito tempo com ela e descobrir aos poucos.

Uns dois dias antes do nosso "encontro", eu tive o dia mais cheio de todos. Só tinha mandado uma mensagem de bom dia e recebido uma resposta.

Por volta das dez da noite, eu ainda estava quebrando minha cabeça com um trabalho de matemática, quando olhei para o meu celular na ponta da escrivaninha e, bom, ele piscou pra mim, sabe?

Larguei tudo e peguei o celular. Tirei uma foto minha com a expressão mais confusa que eu consegui e coloquei a legenda: "Por que, matemática? Por quê?".

Enviei... A essa altura acho que ela já sabe que sou um idiota.

Me recostei na cadeira e comecei a girar, esperando uma resposta.

Queria tanto vê-la de novo.

Meu celular apitou alguns minutos depois e quando eu abri era uma foto também.

Ela estava com a cabeça deitada no travesseiro, com o cabelo todo espalhado para cima. Parte do rosto estava coberto por um edredom lilás. Os olhos dela brilhavam e havia sugestão de sorriso nas bochechas. Na legenda dizia: "Hora de desistir e ir pra cama. Ninguém vai querer saber das suas notas de matemática daqui a seis anos. Prometo.".

Sequer pisquei. Seria estranho admitir que aquela foto fez meu coração disparar? Mesmo eu não vendo o rosto todo.

Meus dedos se moveram antes mesmo que eu pudesse me arrepender de mandar:

"Seria estranho se eu dissesse que você é bonita? Você é bonita."

Esperei um tempo, mas não veio nenhuma resposta. Será que eu a assustei? Mandei outra mensagem:

"Também seria estranho se eu dissesse que gosto de conversar com você, apesar de você não falar? Gosto de conversar com você.".

Esperei... E então a resposta veio:

"Eu também gosto muito"

Droga. Eu conheço bem essa sensação de ter bolhas no estomago. De se sentir meio leve, aerado.

Talvez eu esteja...

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