"Capítulo XXXIV" - Fragilidades

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Por que temos dificuldades em perceber as fragilidades que ainda carregamos? Por que preferimos ser reconhecidos apenas por nossas qualidades e virtudes? A superação de conflitos íntimos e o crescimento pessoal são coisas que conseguimos conquistar totalmente sozinhos?

Na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, podemos encontrar o seguinte registro de Allan Kardec:

Caros amigos, sede severos para convosco, indulgentes para com as fraquezas dos outros; é ainda uma prática da santa caridade que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes más tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a depor para escalar o cume da montanha do progresso. Por que, pois, serdes tão clarividentes para com o próximo e cegos em relação a vós mesmos? [1]

Os indivíduos, em sua grande maioria, apresentam certa dificuldade em perceber a fragilidade moral, emocional e intelectual que ainda carregam, somente enxergando-as na pessoa do próximo. São os outros, então, que possuem comportamentos inadequados, pensamentos negativos, emoções desequilibradas, medos e limitações.

Na realidade, em maior ou menor grau, todos nós ainda sentimos a necessidade de ser reconhecidos apenas por nossas qualidades e virtudes, porque cremos que demonstrar alguma forma de fragilidade pode nos colocar numa posição de inferioridade perante os demais.

Sendo assim, indivíduos existem em que a arrogância, a prepotência ou mesmo a segurança que demonstram em suas atitudes, não passam de um artifício para disfarçar a sensação de fracasso ou de inadequação que lhes vai n'alma.

No entanto, o espírito Hammed pondera:

Quando encaramos de forma tranquila a sensação de fragilidade que nos invade de tempos em tempos, é porque nos conscientizamos de que ela faz parte de nossa condição humana. Quando a admitimos em nossa constituição íntima, não temos mais a pretensão de sermos invulneráveis e fortes em todas as circunstâncias da vida. Encarar os pontos fracos e não se conformar com eles, mas mapeá-los e discernir a razão que os motivou. Alimentar a ideia de que somos super-homens é sustentar uma personalidade doentia. Não precisamos nos mostrar 'durões' e 'formidáveis' o tempo todo. Isso é utopia. [2]

Dificilmente alcançaremos o legítimo bem-estar se, em primeiro lugar, não nos conscientizarmos do quanto ainda somos falíveis e vulneráveis. Se não aprendermos a reconhecer nossas dificuldades íntimas, a manifestação de todo o potencial que já existe em nós ficará prejudicada. Por isso é que o apóstolo Paulo, certa feita, disse: "quando sou fraco, então, é que sou forte" (2Cor 12:10). [3]

Quantas são as vezes em que necessitamos da ajuda alheia para entender aspectos importantes de nossa própria personalidade, mas nos mantemos reclusos em nós mesmos, não permitindo com que outras pessoas possam nos mostrar ou ensinar coisas a nosso respeito. Assim, como se torna importante compreender que o crescimento pessoal não é algo que conseguimos conquistar totalmente sozinhos, porque a autossuficiência também tem seus limites! Concordemos ou não, é através dos relacionamentos que entendemos quem realmente somos e quais as reais motivações que nos impulsionam.

O Espírito Rosângela atesta:

Convenhamos que toda firmeza demonstrada por alguém, no campo da existência terrena, indiscutivelmente, se deve ao próprio ser, no que diz respeito ao empenho com que se dispõe à conquista. Não olvidemos, todavia, a participação oculta de mãos amigas e vozes atenciosas, de sorrisos fraternais (...), de guardiões invisíveis e do suporte familiar, (...) e tantos outros participantes pouco notados, que contribuem e instigam o indivíduo para atingir segurança através dos seus caminhos. [4]

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