Capítulo LV - Vigilância

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A atenção que a vigilância requer poupa-nos de maiores problemas? No que consiste a tentação? O que é ser tentado? A vigilância pode nos precaver das tentações?

No Evangelho de Mateus (26:26-46), temos que Jesus, após a última ceia, e sabedor de que seu fim era próximo, dirigiu-se ao Getsêmani – jardim ou horto situado ao redor de Jerusalém e ao pé do monte das Oliveiras, levando consigo Pedro, Tiago e João. Era noite, e quando chegou ao local, assim lhes disse:

"Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. (...) A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo." [1]

O significado da palavra vigiar, especificamente nesse caso, equivale a estar de vigília ou sentinela. E estar de vigília é o "estado de quem à noite se conserva desperto, atento", velando ou tomando conta de algo ou de alguém. Em outras situações, vigiar também pode representar: "observar atentamente; acautelar-se, precaver-se". [2]

Depois dessas palavras, Jesus se afastou e assim orou a Deus:

"Meu pai, se possível passe de mim esse cálice (imagem usada para se referir a um sofrimento, castigo ou prova difícil). Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres."

E, voltando para os discípulos, encontrou-os dormindo, e foi dizendo a Pedro:

"Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai (ou seja, fiquem acordados e orando comigo), para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." Podemos afirmar que a intenção dos discípulos até era manterem-se despertos, mas cederam à tentação do sono.

No entanto, a interpretação evangélica para o termo vigiar também diz respeito à necessidade de tomarmos as devidas precauções, sustentando, assim, o indispensável equilíbrio e lucidez, para perceber além das aparências e, com isso, escolher o que verdadeiramente será o melhor para nós, nas várias situações de nosso cotidiano.

Com isso, o "vigiai e orai" consiste em um alerta sempre oportuno a envolver a razão e a emoção de cada um de nós. A razão, porque é através de sua observação atenta e constante que nos conscientizamos de nossas negativas predisposições íntimas. A emoção, porque é ela que nos ajuda a estabelecer, através da prece, uma sintonia mais intensa com Deus e com o plano espiritual superior, de modo a nos fortalecermos, moralmente, perante as dúvidas e os conflitos. Sendo a fé espírita caracterizada pelo uso da razão, necessariamente, ela converge esses dois indutores de nosso aprimoramento intelecto-moral: a mente e o coração.

Quanto à importância desse comportamento cuidadoso, o Espírito Miramez ensina:

Se o homem fosse espírito puro, não estaria reencarnado na Terra, sofrendo as duras consequências deste plano. A evolução é uma lei criada por Deus, e é contemplando os horizontes da Terra, que os espíritos se tornam conscientes das necessidades das lutas que devem empreender, para se libertarem do pesado fardo da ignorância em que se encontram.

Desde os primeiros instantes em que ingressa pelas portas da reencarnação, o espírito carrega consigo a bagagem das experiências e das necessidades, e se vê ante as lutas indispensáveis que vai enfrentar com o dragão dos seus instintos inferiores.

(...) Para o combate, a primeira arma necessária é a vigilância. Quem não aprendeu a vigiar, continua caindo nas armadilhas dos lobos. E como o Evangelho diz que só lobos caem em armadilha de lobos, os que não conseguem vigiar, continuam a ser lobos.

(...) Vigiar constitui a primeira defesa da alma na batalha consigo mesma: policiar suas mais caras experiências contra as investidas do mal que deturpa, da ignorância que desestimula, da sombra que entristece.

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