Capítulo doze

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O vapor do café dissipava-se no ar, assim como meus pensamentos confusos. Admirava os prédios pela janela da cozinha, os pássaros livres que sobrevoavam a cidade. Fechei os olhos, bebericando o café, a brisa fria vinda do lado de fora fez meus pelos arrepiarem, o outono mostrava seus primeiros sinais, o dia amanheceu nublado.

Não tive notícias de Nathan desde domingo, e hoje já era quarta. Ele não apareceu na faculdade, começava a ficar preocupada. Queria ligar para saber se estava bem, mas meu orgulho não permitiu, afinal eu não era sua namorada.

Fui puxada de meus pensamentos quando ouvi uma buzina, Lucas veio me buscar para nossas aulas particulares. Mas hoje não estava ansiosa, estava apreensiva por causa de Nathan e seu sumiço repentino.

Tranquei a porta e desci as escadas até o portão. Lucas me esperava do lado de fora do carro, como sempre ele estava lindo, usava uma jaqueta jeans e uma calça preta com um rasgo no joelho. Sorriu assim que me viu.

— Oi, Sofi! — cumprimentou, me abraçando. Consegui sentir seu cheiro refrescante, como chuva em um dia abafado.

— Oi, Lucas! — falei contra seu pescoço. Nos afastamos.

— Está tudo bem, Sofia? — perguntou. Não foi uma pergunta retórica, ele parecia preocupado.

— Sim, claro! — menti. Mas soei convincente, já que o rapaz pareceu acreditar.

Lucas abriu a porta da camionete para que eu entrasse, sorri com seu gesto gentil. Ainda gostava de Lucas, sabia que sim. Mas havia alguma coisa errada comigo, meu corpo não reagia, meu coração não acelerava, nem minhas mãos suavam, não havia vestígio de sentimentos, talvez estivesse estressada demais.

O caminho até a faculdade foi silencioso, exceto pelas primeiras gotas de chuva que começavam a dançar sob o capô do carro, que poucos minutos depois ficou mais forte, por sorte estávamos quase chegando.

O rapaz estacionou, pediu para que eu esperasse antes de sair. Ele desceu correndo e deu a volta no carro, abrindo minha porta. Colocou sua jaqueta sobre minha cabeça tentando impedir que eu me molhasse, então corremos até a entrada da faculdade. Mesmo com sua tentativa de impedir a chuva, acabei encharcada e ele também.

Os cabelos loiros de Lucas, agora molhados, mudaram para um castanho escuro, seus fios grudaram em sua testa, como estávamos próximos, delicadamente os afastei de seus olhos. Lucas sorriu timidamente.

— Se você ficar gripada, a culpa vai ser toda minha! — disse preocupado, neguei com a cabeça.

— Não se preocupe! Eu adorei o banho de chuva. — brinquei, arrancando um sorriso do rapaz.

— Também gostei, ainda mais porque foi com você! — meu coração deu uma leve acelerada, comprovando que ainda estava apaixonada por ele. Ainda existia algum sentimento.

— Estamos ensopados, acho melhor irmos até minha casa, nos secamos e estudamos por lá. — sugeriu e eu apenas assenti. Rezando para que seu pai não estivesse em casa.

Lucas dirigia concentrado na estrada, já que estava escorregadia por causa da chuva. Conversamos sobre alguns assuntos da faculdade.

— Por que direito? — ele perguntou, olhando rapidamente para mim. — Por que escolheu esse curso?

— Sempre quis dar voz para aqueles que não conseguem gritar! — era meu lema, foi o motivo de ter escolhido direito, fazer justiça por aqueles que não conseguem ser ouvidos.

— Sabia que era por um motivo íntegro! — ele falou sorrindo. Nathan já havia me feito a mesma pergunta, eu lhe respondi da mesma maneira, então ele disse que eu estava destinada a ver o melhor das pessoas, era bondosa demais, que o mundo me massacraria. Achei seu comentário cruel, mas ele tinha razão, sempre queria ver o melhor lado, mas esquecia o quanto o mundo poderia ser impiedoso, então entendi o conselho de Nathan, eu deveria buscar um equilíbrio, entre ser boa e ser idiota a ponto de ser boa demais.

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