Capítulo quinze

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As estrelas nos faziam companhia, assim como a lua cheia no céu limpo da última noite de verão. Jazz ressoava da pequena caixinha de som no gramado, conectado no celular do garoto deitado ao meu lado. Era como se voltasse a ser adolescente, deitada no gramado enquanto olhava para o céu torcendo por uma estrela cadente para poder fazer um pedido, um sonho que era fácil sonhar. A vida adulta nos endurece, perdemos a nossa essência, o nosso dom de sonhar, que era tão fácil na infância, olhávamos para o céu e a distância das estrelas pareciam pequenas, comparados aos nossos sonhos. Mas não hoje, não quando estou com ele. Quando estamos juntos voltamos a ter a leveza da infância, a rebeldia da adolescência e por alguns segundos esquecemos de sermos adultos, e às vezes era tudo que eu precisava, esquecer de ser alguma coisa.

Depois do dia na praia, passamos todos os dias juntos, estudando, contando piadas ou só conversando sobre a vida.

Uma música lenta começou a tocar. Nathan levantou e ofereceu sua mão. Eu o olhei confusa.

— Vamos dançar! — percebi que não era um convite e sim uma afirmação. Ele me puxou pela mão e agarrou minha cintura, nos fazendo ficar quase grudados. Coloquei a mão sobre seu ombro, enquanto ele segurava a outra, o som lento da música embalava nossa dança, o piano distante e o trompete em destaque do jazz deixava tudo mais romântico.

— O que você vai querer de aniversário? — murmurou contra meu ouvido. Meu aniversário era amanhã e Nathan passou o dia inteiro perguntando sobre meus gostos, como: música, flores, livros preferidos, não sabia o que estava aprontando, mas aqueles olhos verdes e a covinha esquerda não me enganavam mais.

— Já disse que não quero nada, já falei sobre o que acho sobre presentes. — alertei e o vi fazer cara feia.

— É ridículo! — afirmou indignado. — Presentes não são dívidas, e sim uma demonstração de afeto! — há alguns dias havia dito que não gostava de ganhar presentes. Meu raciocínio era simples, quando se ganhava um presente de aniversário na minha percepção era obrigatório retribuir no aniversário de quem presenteou, uma dívida a ser paga, mesmo quando a pessoa era apenas uma conhecida distante. E toda vez que ganhava algo ficava pensativa sobre o que deveria dar em troca, e era péssima em presentes além de canecas temáticas.

— Mesmo assim! Não quero presente! — Nathan fez uma careta, mas sabia que não o tinha convencido do contrário, ele me daria um presente e para me provocar eu sabia que seria dos grandes.

— Mas me conta, qual foi o seu melhor presente de aniversário? — perguntei curiosa, ainda dançando descalços na grama.

— A viagem para a Itália quando eu fiz 20 anos! — informou com sua voz suave. Eu queria saber mais sobre a viagem.

— Como foi a viagem?

— Longa! Mas valeu a pena! Fiquei na casa do meu tio em Nápoles, ele tem um restaurante lá! — Nathan contou que conheceu Veneza, Roma e sua preferida Verona.

— Deve ser linda! — comentei admirada e com um pouquinho de inveja. — Sempre quis conhecer a Itália! — os melhores filmes de romance sempre se passam no cenário incrível da Itália.

— Quem sabe um dia possamos ir juntos! Tomar gelato e comer pizza deve ser mil vezes melhor ao seu lado. — sua declaração me fez estremecer, estávamos fazendo planos com namorados de verdade e aquilo quebrou meu coração, imaginando um futuro sem ele. Tentei manter a postura e mudar de assunto.

— A sua família é de lá, da Itália?

— Sim, meu avô nasceu no Brasil, mas meus bisavós são italianos fugidos da guerra, uma longa história! — ele me olhou e sorriu. Como era bom saber da própria história, diferente de mim, que mal sabia minha data de nascimento, sem um sobrenome além daquele que foi me dado por meus pais adotivos, mas sabia que minha história ia além. Mas a única coisa que meus pais biológicos me deixaram foi uma marca de nascença em formato de uma estrela no lado esquerdo das minhas costas, mas até isso estava desaparecendo com o passar dos anos.

Um acordo infalívelWhere stories live. Discover now