Sangue no Imperador

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Imperatriz Anely
Castelo de Ilibado
29 de agosto de 1601 • 06:31

  Abro os olhos. Uma forte dor em minha cabeça. Puxo o ar pelo nariz, enchendo meus pulmões de ar. Solto o ar pela boca lentamente. Me sento sobre o chão. Tudo esta rodando. Meus ouvidos estão zumbindo um pouco, mas, escuto ao longe o choro de Amely. Vamos lá Anely, se coloque de pé. Vamos lá!

  Com dificuldade me coloco de pé. Cambaleio, mas, faço o maior esforço possível para continuar de pé. Tropeçando em meus próprios pés, ando em direção a porta

  Escuto gritos masculinos. São altos, muito alto, eles estão vindo do andar de baixo. Ainda com minha visão levemente embaçada e cambaleando um pouco tento passar pelos corpos dos nossos guardas reais

  Tem tanto sangue no chão. Esses nobres cavalheiros nem sequer devem ter tido tempo de lutar. Sinto meus olhos se encherem

— Imperatriz! Amém Ilibado! — Dayse diz ofegante de alguma parte do corredor. O choro de Amely se aproxima. Olho para todos os lados. Dayse com sua camisola suja de sangue corre em minha direção com Amely nos braços

  Meu coração se enche de alegria e alivio ao ver minha pequena. Dayse se posiciona em minha frente e me entrega Amely. Ela está coberta de sangue. Minhas mãos tremem como nunca antes

  Com o pouco equilíbrio que tenho, corro para dentro do meu quarto. Dayse vem logo atrás de mim. Eu preciso ver se minha pequena está machucada, preciso!

  Dayse como se soubesse exatamente o que eu estava prestes a fazer, corre até a sala que usamos para nossas higienes matinais. De lá, ela traz um balde de madeira cheio de água

  Com Amely em meus braços. Me ajoelho. Dayse afunda suas duas mãos no balde com água fria. Com às duas mãos juntas, ela traz um pouco de água até a cabecinha de Amely. Ela deixa a água escorrer pelo vão de suas mãos e molhar minha pequena. Aos poucos sua pele vai se relevando e o meu coração se suaviza. Nada. Nenhum arranhão

— Eu cuido dela — Dayse diz com sua voz embargada — O imperador precisa de você agora, mais do que nunca — ela faz um bico

  Com uma força fora do comum que veio sem dúvida após eu ter plena certeza de que minha filha esta bem, me coloco de pé. Ando até a porta. Saio do quarto e desviando dos corpos ensanguentados dos nossos soldados corro pelo corredor tão comprido

  Está um silêncio ensurdecedor. Deus. Não. Que não seja o que eu estou pensando. Que não seja. Com um nó na garganta tão grande que poderia me sufocar facilmente

  Finalmente chego até as escadas. Arregalo meus olhos ao olhar escada abaixo. Todo o meu corpo se arrepia. O que estou vendo neste exato momento é um verdadeiro mar de sangue

  São muitos homens. Muitos. Suas armaduras que deviam os proteger não serviram de nada. A maioria está sem cabeça. Em seus peitorais o símbolo de uma laranja cravada por um punhal. Não sei que reino é esse, mas, são ousados por terem invadido nosso castelo

  Com a delicadeza de uma dama da realeza desvio de cabeças e braços enquanto desço as escadas. Quando finalmente desço o último degrau, caminho em direção as portas colossais de entrada do castelo

  Ainda desviando de corpos e mais corpos. Cruzo a porta. Ao longe uma imagem me espanta. É um laranja assustador. Chamas por toda Ilibado. Estão atacando o nosso reino nesse exato momento!

  Por isso nossos soldados não apareceram. Eles estavam lutando por Ilibado. Por nossa segurança e pela segurança do nosso povo!

  O vento mais violento que nunca passa por meus cabelos. Olho ao redor. Procuro por Michael quase que desesperadamente com meu olhar. Mas, nada! Não o encontro!

  Um desespero se instala. Faço um bico involuntário. As lagrimas salgadas e quentes descem por meu rosto gelado. Sinto um pingo gelado em minha bochecha e logo após, outro em meu ombro esquerdo

  Olho para meu ombro esquerdo. É chuva. Meu olhar se desvia para mais além. E lá, em meio a mais corpos. Ele. Quase despido. Usando apenas uma calça e com sua espada em punho. O Imperador, completamente coberto de sangue. O sangue, não é dele. Se ele me disse a verdade, então. Esta noite, o Imperador matou pela primeira vez e sozinho, um exército!

— Michael! — sussurro, e apenas após seu nome sair da minha boca, tenho a certeza de que não estou insana

  Ando em sua direção. Desço as escadarias. Acelero mais meus passos. Na medida que me aproximo os chuviscos se tornam algo mais forte. A chuva fria e o vento implacável me atingem

  Dou apenas mais alguns passos antes de finalmente chegar até ele. Entro em sua frente. Ele está olhando fixamente para sua espada. Graças a chuva, o sangue esta escorregando da lâmina e o dourado volta a reinar

  Me agacho na frente dele que parece estar em outro mundo. Seu olhar está tão perdido. Sua carinha é de dar pena. Não parece que ele acaba de salvar a esposa e a filha de serem torturadas e mortas. Aqui, em frente a ele, o conhecendo bem eu sei que ele só enxerga vidas!

  Vidas que podiam ter sido poupadas. Vidas que ele jamais ousaria tirar se não fosse por algo muito maior. Sua filha. Nossa filha!

— Meu amorzinho — digo a ele enquanto levo minha mão até seu rostinho. Acaricio sua bochecha direita com a ponta dos dedos. Seus lindos olhos negros se levantam para se cruzar aos meus

  Michael solta a espada. Leva suas mãos até perto do rosto. Ele encara o sangue se esvair entre os vãos de seus dedos

— Eu sou um monstro — diz com a voz tremula que faz meu coração se partir. Michael passa às duas mãos sujas de sangue pelo rosto e se entregar completamente para as lagrimas. O puxo para um abraço forte. Seu choro é escandaloso e cheio de pesar

— Meu anjo lindo, você foi um herói, mas, eu entendo porque você não consegue enxergar isso. Para você, eram mais que soldados rivais, eram vidas — digo em um tom doce para ele entender que não vou o julgar de forma alguma. Eu de certa forma estou aliviada por ele ter esse pensamento doce e gentil. Como sou apaixonada pela humanidade deste homem.

Ilibado | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora