8. Tormenta

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"É possível impor silêncio ao sentimento; Não é, porém, possível marcar-lhe limites."
- Suzanne Necker


Três dias se passaram após o incidente com a espada. Ana ainda usava ataduras em seu braço, mas o ferimento já não a incomodava tanto.

Ao cair da noite, naquele dia, os ventos gelados sopravam fortemente, deixando o mar agitado. Otto parecia apreensivo, e todos ali sabiam que aqueles ventos não vinham sozinhos. Uma tempestade se aproximava, e pelo que eles conheciam sobre tempestades em alto mar, aquela prometia ser uma das grandes.

Como previsto, não tardou até que nuvens densas e carregadas tornassem o céu escuro, assim como as águas, que pareciam quase negras àquela altura.

Os ventos apenas se intensificaram, parecendo algumas vezes que arrancariam o mastro pela força que empurravam as velas, mas Callahan os garantiu que o navio ainda aguentaria.

Otto sempre confiava e obedecia a Callahan, apesar deste ser bem mais jovem que ele. O respeitava por sua inteligência e pela experiência adquirida ao longo de seus curtos trinta e dois anos. Além do fato de conhecer muito bem o amor que seu capitão possuía pelo Invictus.

E Callahan também sabia reconhecer a lealdade de seu imediato, confiaria a ele sua própria vida e não havia o que Vítor fizesse que Otto não conhecesse.

Enquanto todos preparavam o navio para a tempestade, gotas de chuva já começavam a cair fortemente contra a madeira e os corpos que se moviam em trabalho constante.

Vítor ordenou que Ana permanecesse no interior do navio, junto a outros tripulantes não essenciais ao trabalho realizado ali. Mas não se surpreendeu nem um pouco quando ela o fitou com as sobrancelhas franzidas.

- Continua a me tratar como se eu fosse frágil e indefesa.

Sua voz era alta devido ao barulho do vento e dos trovões, e Vítor segurava firmemente o timão, mas a encarava.

- Sabe muito bem que não a considero indefesa, mas está machucada.

- E espera que eu entre e espere sentada até que tudo acabe?

- Precisamente. - respondeu com um sorriso cínico - Inclusive, fique a vontade para escolher um dos livros em minha cabine, se assim desejar.

Ela o lançou um olhar rebelde, mas deu-lhe as costas e seguiu em direção a escada, sabendo que mesmo não gostando de agir como alguém sem utilidade, naquele momento ele tinha razão, ela não acrescentaria em nada permanecendo ali.

- Ana... - ele a chamou, antes que se afastasse muito e ela o mirou por cima do ombro - Seria de grande ajuda se puder atar os baús em minha cabine com algumas cordas, para quando a tempestade se intensificar.

Ela optou por ignorar o tom complacente da atribuição. Ao menos aquilo soava mais como um pedido do que a ordem anterior. Deu-lhe então as costas novamente e rumou para a cabine.

Ele a assistiu se afastar, mal notando quando Otto apareceu a sua esquerda. Mas antes que o encarasse, ouviu-o falar em um tom filosófico, parecendo se divertir as suas custas.

- Eis uma alma tão indômita quanto o próprio Invictus...

- Mande que ajustem as velas! - Vítor interrompeu seu devaneio, ignorando sua expressão zombeteira, mas Otto ainda teve a ousadia de rir.

Não tardou para as ondas tornarem-se gigantescas, atingindo violentamente o casco do navio. A água invadia o convés superior e escoava pelas laterais como enormes cascatas.

Em determinado momento, uma onda particularmente grande atingiu a prôa com tamanha intensidade que inclinou o navio alguns graus a bombordo, enquanto os objetos ainda soltos deslizavam pelo piso, e os tripulantes precisaram segurar firmemente em qualquer corda ou madeira disponível.

𝑰𝒏𝒗𝒊𝒄𝒕𝒖𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora